São pequenos detalhes que fazem a diferença. Um fecho ali, um conjunto de botões acolá. Atalhos que facilitam o cuidado dos primeiros meses e anos. “Por ser mãe de dois, pensei muito no meu dia a dia, nas peças que me davam mais jeito e não davam. Vemos imensos bodies e fofos que não têm botões em baixo. Ajuda muito ter uma abertura para mudar uma fralda. Se repararem, todas as nossas camisolas têm botões, uma abertura no ombro ou atrás”, aponta Rita Domingues, assinalando o que falta muitas vezes em algumas marcas de consumo rápido e tornam tudo mais demorado e penoso. “Chateia-me num bebé estar a puxar pela cabeça para tirar uma peça”. Em suma: era essencial que estas peças para os mais novos fossem práticas, não estivesse um riacho com patos ao virar da esquina, e um parque de diversões improvisado em plena natureza nos arredores a chamar por pequenos aventureiros.

Como outras marcas nacionais, a BOOTANI nasceu em plena pandemia, fruto do desafio de entreter a prole, partilhado por duas mães e vizinhas, e de uma necessidade de rever o foco do trabalho. Paradas em casa, na mesma rua de Braga, a meio de um processo de layoff, Rita e Filipa saíam muitas vezes do apartamento para ir brincar com os miúdos. De galochas calçadas, sem medo de deitar mãos à obra e da sujidade nos tecidos, só faltava explorar cada uma das áreas de especialidade. “Somos muito parecidas nisso, gostamos de natureza, de moda de criança. Os nossos estilos ligam bem. Achámos que fazia todo o sentido juntar-nos”, explica Rita, com uma filha de quatro e outro de dois anos, e que sempre quis ter uma ligação com o mundo infantil mas aproveitando a bagagem acumulada até agora.

“Mini influencer” que detesta “estar sempre com o telemóvel”, levava já 10 anos de experiência no mundo têxtil e conhecia a queda de Filipa (com um filho de 4 e outro de um e já um pouco “farta” da área do desporto) para a parte da imagem — dos conteúdos nas redes sociais da marca ao site, é ela quem trata dessa parte. “Sempre quis ser educadora de infância, mas o meu pai já estava neste mundo e acabou por insistir. Acabei por ceder, fiz marketing e publicidade e segui para isto mas amo crianças e por mim passava os dias com elas. Não quis perder a experiência que tinha”, desenvolve Rita.

© BOOTANI

Chegados a março de 2022, a marca dá ainda os primeiros passos mas aposta já numa coleção primavera/verão que conta com 28 peças. Disponível exclusivamente online, as andanças no bosque inspiraram o nome de Lake Zone e a liberdade de um dia fora de portas, de preferência ao sol. “Para já não é um objetivo ter uma loja física mas vamos ver”. Essencial, sim, é que as próximas coleções da BOOTANI (ao contrário desta que não chegou a tempo de ir parar aos revendedores) cheguem a mais pontos de venda podendo assim “andar na rua à vontade para as pessoas perceberem a qualidade”.

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Esse é aliás um dos pontos-chave do conceito, que aposta na curadoria de materiais, cortes, cores, padrões e texturas, sempre pensados para criança dos seis meses aos cinco anos. “Gostamos muito de tons neutros, estampados leves. Começámos a trocar ideias de marcas de que gostávamos e tudo batia certo”, explica Rita, admitindo que os filhos vão servindo de naturais cobaias, testando tamanhos (e aparecendo pontualmente nas produções de moda), já que “vão continuar a crescer”. Não estranhe portanto se em breve o número de tamanhos disponíveis aumentar. “Já falámos sobre alargar. Temos muita gente a pedir se não podemos pelo menos chegar até aos oito anos. Nesta próxima coleção de inverno se calhar ainda conseguimos alargar até aos seis anos, e depois então para o verão de 2023 tentar ir até aos oito“, antecipa Rita Domingues.

© BOOTANI

Se as idades importam, pesa tanto mais se a roupa conseguir transitar de mãos em mãos– pelo menos para quem vai vendo a família crescer e prefere apostar na durabilidade dos acessórios. É por aí que a BOOTANI se posiciona. “É uma marca que está num segmento alto, sem dúvida, mas posso garantir que vai durar bastante. Se a peça não envelhecer rápido, prefiro dar 50 euros por ela e saber que vai servir para os próximos filhos, do que dar dinheiro por uma mais barata mas que fica estragada depois de lavar”.

É no capítulo das malhas, por feitio profissional, que o conhecimento é mais rigoroso e, por consequência, a exigência de quem faz e consome é maior. “Há malhas que lavamos uma ou duas vezes e ficam cheias de borboto. Como trabalho num fábrica de malhas evitei ao máximo isso. Dei tratamentos anti peeling para que a peça nunca fique com borboto. Investimos mais em acabamentos como estes.”

Eis algumas razões extra que explicam a urgência em saltar do online e chegar a mais pontos físicos, de forma a identificar as diferenças. “Chateia-me que só se perceba a qualidade das peças quando elas chegam ao consumidor. As pessoas não têm como tocar nas peças, queremos pô-las à vista do consumidor, chegar a uma série de lojas multimarca”.

© BOOTANI

Para a BOOTANI, o eventual fardo extra na carteira é compensado com o alívio em termos de impacto ambiental. Comprar menos, passar ao bebé que se segue, é uma equação bem recebida quando se fala de sustentabilidade, uma lógica que se estende a todo o processo de fabrico. Projeto 100% português, é num raio de 40 quilómetros que Rita e Filipa resolvem todas as variáveis do negócio. “Não saímos do Norte”, explicam, com a garagem de casa a servir como escritório. Com a dupla colabora uma designer que passa a as ideias destas duas mães para a folha de papel, e que assim se junta à parte de produção e de imagem. Se as ideias saem de Braga, a confeção é assegurada em Barcelos, e os botões são tratados em Famalicão, num autêntico triângulo nortenho.

© BOOTANI

A experiência não termina com a compra e o check out no endereço virtual. Ainda como forma de garantir o mínimo de poluição na produção — e de testar a criatividade dos destinatários mas jovens — o packaging tem como objetivo ser reutilizado e é por isso que a embalagem ganha uma nova vida que no final pode ser partilhada com a comunidade BOOTANI. “Chateava-me que cada peça fosse embalada em plástico. Não queria isso. Elas vêm em caixotes de cartão e embalamos com um envelope giro para as crianças. A criança tem que encontrar o pato, recortar o bico, vê o lago, tem uma brincadeira. Dá para fazerem o cenário e podem identificar-nos no final”.