Segunda expulsão em cinco semanas, primeira intervenção pública a falar sobre as arbitragens nos jogos do Benfica, não só no futebol profissional mas também na formação e nas modalidades. No final do dérbi de Alvalade, que terminou com a vitória do Benfica frente ao Sporting por 2-0, Rui Pedro Braz, diretor geral do futebol dos encarnados que viu vermelho após ter sido excluído do jogo com o Vizela em março (o que valeu um castigo de 23 dias), aproveitou a chegada ao Estádio da Luz para abordar não só as incidências da partida com o conjunto verde e branco mas também algo que já considera ser sistémico.

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“Infelizmente não tem tanta importância como gostaríamos que tivesse porque gostávamos de chegar a esta fase da época ainda na luta pelo título que era um dos grandes objetivos ou o maior que passava por ser campeão nacional. Não foi possível, estamos fora dessa luta mas é sempre importante conquistar os três pontos e fazer esta demonstração de qualidade exibicional destes jogadores, deste treinador e de toda esta estrutura. Ficou bem demonstrado em Alvalade que existe capacidade para fazer mais e melhor perante um rival que dignificou a nossa vitória também com uma excelente exibição. Mas mais do que isso, mais do que falar sobre a importância desta vitória e deste resultado, tudo o que aconteceu hoje em Alvalade merece uma profunda reflexão por parte dos órgãos que tutelam o futebol português”, começou por apontar em declarações prestadas ao canal do clube ainda esta noite.

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“Houve situações em que sentimos que o Benfica foi prejudicado, e não estou de maneira nenhuma a visar o trabalho do Fábio Veríssimo, do Hugo Miguel [VAR] ou do António Nobre, que acabou por ser quem me deu ordem de expulsão. Não estou a apontar o dedo ao trabalho de qualquer um destes profissionais. Tenho o maior respeito pelos árbitros, já estive também dez anos desse lado na comunicação social e a minha opinião sobre os árbitros está gravada e não vou mudar. O que parece é que se está aqui a criar uma situação recorrente em que o Benfica é sistematicamente prejudicado. Não vou dizer que é premeditado, porque acredito na seriedade das pessoas que estão na arbitragem e nos órgãos que tutelam o futebol português e também as modalidades e o futebol de formação, que têm sido muito prejudicados”, acusou, antes de recordar também as palavras de Henrique Araújo após a derrota com o Rio Ave.

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“Isso é que nos leva a questionar o que se está a passar, porque é que o Benfica tem sido tão desrespeitados nos últimos tempos, algo que no nosso entender não faz sentido. Estamos a falar de uma instituição com 118 anos de história, que tem sido uma das principais ou a principal força motriz do desporto em Portugal e merece respeito. Não posso ter um jovem de 20 anos hoje, no final de um jogo em Vila do Conde, a proferir palavras de impotência e incapacidade para dar a volta à situação. Está apenas no início da carreira e diz ‘Acredito que um dia o Benfica voltará a ser respeitado’. Não posso admitir isso, este jovem tem de sentir que estamos com ele e que estamos a lutar para que o Benfica volte a ser respeitado porque se não formos nós a exigir esse respeito, se não formos nós a exigir que algo mude. Liga, Federação, Conselho de Arbitragem, toda a gente tem responsabilidade no que está a acontecer e é notório”, salientou.

De referir que, após essa derrota da equipa B em Vila do Conde frente ao Rio Ave, o internacional Sub-21 que já foi chamado várias vezes por Nelson Veríssimo ao conjunto principal deixou duras críticas ao que se passou em campo na zona de entrevistas rápidas da SportTV: “É mais uma semana em que somos penalizados por mais um erro de arbitragem. Há duas semanas tivemos um jogo contra o Mafra, em que temos um golo anulado que poderia ser o 2-2. A semana passada temos um golo anulado com o Estrela da Amadora. Esta semana temos uma expulsão… É uma expulsão de Liga portuguesa. Já estamos habituados, é mais do mesmo. Isto é difícil para nós. Vemos isto a acontecer na equipa A do Benfica, na equipa B, nos juniores… Acredito que um dia vão voltar a respeitar o Benfica, neste momento não estão a respeitar. Isto acaba por ser muito difícil para toda a gente que faz parte deste clube”.

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“Sempre achei que era importante mudar os comportamentos nos bancos de suplentes e continuo a achar. Não me orgulho de ter sido expulso por duas ocasiões num espaço de um mês, pelo contrário. Quem usa este símbolo tem de fazer com que existam comportamentos elevados e de lisura para ser um exemplo para os nossos profissionais e adeptos mas às vezes é impossível conter a frustração. O que aconteceu? Dirigi-me ao António Nobre depois de um lance em que o Darwin vai arrancar do meio-campo, é agarrado pelo Ricardo Esgaio, tinha de dar amarelo e eu gritei ‘Abre os olhos António’. E foi do banco, não me aproximei da linha do meio-campo. Entendeu que era motivo de expulsão, só tenho de acatar a decisão embora, pelo que se vê nos campos de norte a sul, possa ser um pouco exagerado”, explicou ainda Rui Pedro Braz, antes de justificar também o porquê de só agora vir a terreiro falar sobre o que se está a passar.

“Muitos podem questionar o porquê de só vir falar agora. O Benfica tem uma nova Direção, um novo presidente, uma nova estrutura, uma nova forma de ver o futebol, de trabalhar. Queremos lutar para que haja respeito, transparência e elevação no futebol português. Se nos faltam ao respeito como tem vindo a acontecer semana após semana, temos de dizer basta. Este é o momento em que chamamos para a discussão todos os órgãos que tutelam o futebol português, da arbitragem, à Federação, à Liga, aos outros clubes porque as coisas não podem continuar como estão”, concluiu.