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Arcade Fire: na era da dúvida, eles cantam a esperança

Este artigo tem mais de 1 ano

Foram precisos cinco anos para ouvirmos o sucessor de "Everything Now". Mas cinco anos foi apenas o tempo necessário para a banda canadiana retomar o seu caminho com o novo álbum, "WE".

O tempo não pára e "WE" permite-nos acompanhar os Arcade Fire na mudança das velas aos ventos, a serem outra vez eles próprios na forma como caminham para o novo
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O tempo não pára e "WE" permite-nos acompanhar os Arcade Fire na mudança das velas aos ventos, a serem outra vez eles próprios na forma como caminham para o novo

O tempo não pára e "WE" permite-nos acompanhar os Arcade Fire na mudança das velas aos ventos, a serem outra vez eles próprios na forma como caminham para o novo

O argumento de “primeiro estranha-se, depois entranha-se” não pode servir para sempre. Aconteceu com os Tame Impala, aconteceu com os Daft Punk, aconteceu também com os Arcade Fire. Havia uma linha de trabalho, existia uma estética musical e, a dada altura da carreira, decidem apontar o vetor noutra direção. Os Tame Impala vieram com “Let It Happen”, single de Currents, em 2015. Os Daft Punk já tinham vindo com “Get Lucky”, do álbum Random Access Memories, em 2013. E nesse mesmo ano os Arcade Fire lançaram “Reflektor”, do disco de nome homónimo.

A receita foi simples: os singles são pura pop dançável, com melodias a prenderem-se de imediato ao ouvido – dignas de serem da autoria dos Abba. São hinos instantâneos das pistas de dança.

Em 2017, os Arcade Fire ainda repetiram a façanha com “Everything Now”, mas agora, com WE, álbum que é oficialmente editado esta sexta-feira, 6 de maio, a banda de Montreal fez uma espécie de retração e voltou a aproximar-se da sua fase iniciática, voltou a aproximar-se de si mesma. Está lá ainda o segundo tema, “Age of Anxiety II (Rabbit Hole)”, a fazer-nos lembrar ao de leve o devaneio dos dois últimos álbuns, com bolas de espelhos e luzes a disparar cores RBA em todas as direções.

[“The Lightning I,II”:]

Com WE, há um retomar de linha. Não que este novo álbum recupere a pujança das canções de Funeral (2004), Neon Bible (2007) e The Suburbs (2010), cheias de vitalidade e tesão, a caminharem sempre num sentido ascendente para explodirem num clímax que é digno de uma epopeia e é próprio da jovialidade – e que a não-juventude adora ouvir passar nas festas de DJs amadores para se poder iludir de que ainda é juventude.

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O que aqui é retomado é o puro encantamento pela descoberta, agora numa outra fase da vida, numa idade que soube amadurecer de forma inteligente, mais atenta aos pequenos pormenores, aos pequenos nadas. O terceiro tema é disso o exemplo perfeito, “End of the Empire I-IV”. Pelo que nos diz a letra, e em contraposição à candura da melodia, percebemos que, até na impossibilidade do regresso àquilo que já fomos e àqueles que já tivemos, há uma sensação de apaziguamento. Como se aceitássemos não só o que já não somos como também o que já não iremos ser.

Insistamos: WE não pretende chegar à cintura de Funeral, Neon Bible e The Suburbs, mesmo dando desconto às afinações da linha cronológica próprias tanto da banda como do próprio mundo. O tempo não pára e WE permite-nos acompanhar os Arcade Fire na mudança das velas aos ventos, a serem outra vez eles próprios na forma como caminham para o novo.

A capa de "WE", o novo álbum dos Arcade Fire, que é editado esta sexta-feira, 6 de maio (Sony Music)

O quarto tema, “The Lightning I, II”, é um clássico à boa velha maneira dos Arcade Fire em termos de estrutura de canção. Basta lembrarmo-nos, por exemplo, de “Suburban War” (de The Suburbs). Começa como uma música mais melodiosa, detém-se nesse embalo mágico e, quando já não esperamos, cresce e acaba em festa. A letra apela a que não desistamos – uns dos outros, quiçá de nós próprios. E não se trata de uma contradição de termos relativamente à canção anterior. Mesmo que “End of Empire I-IV” e “The Lightning I, II” formassem um díptico, o lugar à contradição e à sobreposição de camadas é algo que temos de aprender a aceitar. Se é que queremos sobreviver neste mundo, da maneira como está. Este disco sabe-o melhor do que ninguém.

Para começar, WE é um disco pequeno, composto por sete temas, sem chatear muito. Depois, apostou na diversidade melódica, rítmica, de géneros musicais, de influências, perfeitamente distinguível de tema para tema. A sexta canção do álbum, “Unconditional II (Race and Religion)”, por exemplo, apresenta alguns laivos de experimentalismo, através do uso de alguma distorção. É um hit imediato. É como se estas fossem sete canções avulsas retiradas de sete álbuns distintos.

[“Unconditional I (Lookout Kid)”:]

Uma terceira característica fundamental deste disco chama-se então esperança. O quinto tema, “Unconditional I (Lookout Kid)”, é um exemplo claríssimo disso mesmo:

“lookout kid
trust your heart
you don’t have to play the part
they wrote for you
just be true
there are things that you can do”

(“atenta, miúdo/ confia no teu coração/ não tens de desempenhar o papel/ que eles escreveram para ti/ apenas sê verdadeiro/ há coisas que podes fazer”)

Duração, diversidade e esperança, embrulhados por pós de magia chamados gosto pela descoberta, por deixar-se surpreender – por se encantar. As canções podem falar de esperança de forma direta ou antitética, mas têm a plena consciência de que não há hoje sequer lugar a outra questão. Até porque – repetimos –, nos tempos que correm, trata-se do único reduto para a nossa sobrevivência. Como diz o primeiro tema, “Age of Anxiety I”:

“it’s the age of doubt
and a doubt will figure it out”

(“é a era da dúvida/ e uma dúvida vai perceber como resolver”)

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