Praticamente desde que aterrou em Díli que fotos e vídeos do Presidente português inundaram as redes sociais com milhares de comentários, entre os quais se destacam as comparações com o líder histórico timorense, Xanana Gusmão. No discurso na sessão solene comemorativa dos 20 anos da Constituição da República Democrática de Timor-Leste, Marcelo defendeu o “salto enorme em frente” nas relações com Timor-Leste e lembrou Jorge Sampaio, que apontou como “a maior causa de Portugal vivida em democracia”.

Em Timor-Leste, o Presidente português tem sido um tema popular. Comentários em tétum, em português ou em inglês deram destaque a Marcelo, que quase destronou momentos como a investidura do novo Presidente, José Ramos-Horta, ou as celebrações dos 20 anos da restauração da independência.

“É o avô Nana de Portugal”, pode ler-se em vários comentários aos vídeos e fotos de Marcelo Rebelo de Sousa nos contactos com a população, e que levaram a que fosse comparado a Xanana, também ele reconhecido pelo seu regular e intenso contacto popular.

Muitos destacam a proximidade entre o bainaka, o ema bo’ot— termos que distinguem, em Timor-Leste, a “gente maior”, os mais velhos ou mais destacados da sociedade — e os ema kiik, a “gente pequena” que define o povo.

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“Um ’ema bo’ot’ que não tem barreiras com os ’ema kiik’. Parabéns senhor Presidente de Portugal”, escreve um, enquanto outro o descreve como “o presidente do CR7” e outro ainda o identifica como “o Presidente do povo”.

Vídeos da primeira caminhada pelas ruas de Díli, pouco tempo depois de ter aterrado em Díli, têm dezenas de milhares de visionamentos e milhares de partilhas, com comentários tanto de timorenses como de muitos portugueses a residir no país.

“Vamos fazer ainda mais”, promete Marcelo à chegada a Díli

“Símbolo do amor português pela nossa pátria e pelo povo de Timor”, “inacreditável este avô Presidente” ou “o nosso sincero respeito”, são três entre muitos dos comentários.

“Bem-vindo às nossas ruas que são também as suas”, lia-se noutro comentário. “Agradecemos o seu amor a esta terra do sol nascente. Viva Portugal”, acrescenta outro.

Entre as mais comentadas estão as relacionadas com a visita ao cemitério de Santa Cruz, palco do massacre de 12 de novembro de 1991.

Marcelo Rebelo de Sousa: massacre de Santa Cruz foi “faísca” que despertou consciências internacionais

“Muita surpresa e orgulho pelo facto de o Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, ter visitado a campa do nosso avô João Braz, de Montalvão, no cemitério de Santa Cruz”, escreveu Nai Dato, num dos muitos comentários.

Fotos do mergulho que deu na Praia da Areia Branca (sem jornalistas) também suscitaram comentários de surpresa, de “orgulho” e de saudação a uma forma de estar que, entre a população, suscita regozijo e alegria.

“Que lindo gesto. É um Presidente humanista. Uma grande vénia de orgulho daqui, de Maliana, a sua excelência o Presidente da República de Portugal”, lia-se num dos muitos comentários. “We love you”, escrevia outra timorense.

Com a proliferação dos telemóveis e pacotes convidativos das operadoras de telecomunicações do país para as redes sociais, o Facebook é o instrumento de comunicação por excelência.

Dias antes da chegada de Marcelo Rebelo de Sousa, já circulavam nas redes sociais selfies com o Presidente português utilizando a app “Marcelfie” e que levaram alguns a pensar que o chefe de Estado até já estava em Timor-Leste.

A dimensão do uso do Facebook é tanta que há instituições de Estado que praticamente só comunicam pela plataforma, que foi um dos elementos mais importantes da recente campanha eleitoral de José Ramos-Horta, com uma equipa de comunicação a garantir diretos e a partilha de vídeos e fotos quase de forma constante.

Uma tendência que se manteve já na reta final antes da investidura e mesmo depois com regulares notificações de que “Ramos-Horta está em direto”.

Igualmente em franco crescimento está o Tik Tok — o próprio Xanana Gusmão participou em vários vídeos a dançar -, com a população mais jovem a partilhar também selfies com Marcelo Rebelo de Sousa.

“Me and my bro’, the President”, escreveu um jovem na fotografia que tirou com os amigos e o Presidente na visita de Marcelo Rebelo de Sousa à Escola Portuguesa de Díli.

Dias antes da visita de Marcelo Rebelo de Sousa, e em entrevista à Lusa, a embaixadora de Portugal em Díli, Manuela Bairos, destacou a importância da visita para os laços bilaterais.

“Vejo e espero que seja entendido em Lisboa que esta visita vai durar na memória de muita gente durante muitos anos”, disse, referindo-se ao impacto de “um lastro o mais significativo e prolongado possível”.

“Uma visita desta natureza é uma visita histórica. Acho que o senhor Presidente quando chegar vai perceber isso”, disse.

Com pouco mais de um dia de viagem, o algoritmo das redes sociais, agora, também parece ter percebido.

Marcelo defende “salto enorme em frente” nas relações com Timor-Leste com mais cimeiras

O chefe de Estado português defendeu esta sexta-feira, no Parlamento Nacional timorense, em Díli, que as relações entre Portugal e Timor-Leste devem dar “um salto enorme em frente” com “cimeiras bilaterais mais regulares”.

Numa intervenção na sessão solene comemorativa dos 20 anos da Constituição da República Democrática de Timor-Leste, Marcelo Rebelo de Sousa apontou o acordo de mobilidade na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) como “a abertura de um caminho para acordos bilaterais” nesta matéria.

Referindo-se às relações luso-timorenses, o Presidente português afirmou: “Se estes 20 anos têm entrelaçado Portugal e Timor-Leste num caminho entre irmãos tão, tão, tão próximos, os 20 anos que se seguem devem conduzir-nos a um salto enorme em frente na ambição”.

Podemos e devemos promover cimeiras bilaterais mais regulares. Podemos e devemos aprofundar o caminho feito em conjunto em termos de capacidade na língua, na educação, na cultura, na segurança social, na saúde, na justiça, na cooperação administrativa”, considerou.

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, os dois países devem também “explorar novos eixos de entendimento e conjugação de esforços na economia, agroalimentar, na indústria farmacêutica, nas infraestruturas navais e portuárias, na energia, no património histórico, nos oceanos, no combate comum às alterações climáticas”, comprometendo-se “com a resiliência das instituições, com o desenvolvimento económico, com a sustentabilidade”.

“E olhando às legítimas queixas, reclamações por atrasos de toda a ordem que aqui e ali surgem e que as pandemias acentuaram — seja no domínio do reconhecimento da nacionalidade, seja no domínio das migrações, tendo sempre a vista a criação de melhores empregos, a concretização das expectativas dos mais jovens, a consolidação de uma economia mais robusta e mais justa, mais justa para cada um dos nossos povos”, acrescentou.

A este propósito, o chefe de Estado português referiu-se à “ratificação por tantos Estados irmãos do acordo de mobilidade na CPLP”, declarando: “É a abertura de um caminho, não é o fim de um caminho. É a abertura de um caminho para acordos bilaterais, nomeadamente entre Portugal e Timor-Leste tão importantes para a mobilidade, nomeadamente, dos nossos jovens”.

Marcelo Rebelo de Sousa deslocou-se a Timor-Leste especialmente para as cerimónias oficiais dos 20 anos da restauração da independência e de posse do novo Presidente timorense, José Ramos-Horta, nas quais representa o Estado português e a União Europeia.

Esta é a sua primeira visita oficial à República Democrática de Timor-Leste, centrada na capital, Díli, com um programa dividido por três dias, de quinta-feira a sábado. O chefe de Estado regressa a Lisboa no domingo.

Marcelo recorda Sampaio sobre “maior causa de Portugal vivida em democracia”

Jorge Sampaio foi recordado por Marcelo Rebelo de Sousa num discurso no parlamento timorense sobre a independência de Timor-Leste, que apontou como “a maior causa de Portugal vivida em democracia”.

“A causa de Timor-Leste foi há 20 anos, tal como é ainda atualmente, a maior causa de Portugal vivida em democracia. Como disse então o Presidente Jorge Sampaio nas comemorações da restauração da independência em 2002, ela revelou o melhor de nós, a nossa generosidade, a nossa convicção, a nossa vontade para lutar por uma causa justa”, declarou.

Marcelo Rebelo de Sousa agradeceu o “honrosíssimo convite” para intervir no Parlamento Nacional nas comemorações dos 20 anos da Constituição da República Democrática de Timor-Leste, e dirigiu-se “com profunda emoção” aos deputados timorenses.

Num discurso de cerca de 20 minutos, elogiou o “caminho excecional” de Timor-Leste para a paz universal “com respeito pela diferença de ideias, pensamentos, religiões, maneiras de ser e de estar no mundo”, nestas duas décadas como Estado soberano, e citou também o papa Francisco.

“Nas inesquecíveis palavras do papa Francisco: Timor-Leste, o céu resgatou-te para que te abras ao céu. O mundo aprendeu com o povo timorense como pode e deve a vontade coletiva de uma nação ter uma expressão política no quadro respeito pelo direito internacional e das regras de convivência pacifica entre os Estados”, disse.

O mundo aprendeu com o povo timorense a sarar as feridas e a virar a página da História em nome de um ideal de paz, solidariedade, coesão, diálogo, fraternidade, compromisso e crença num futuro merecido por todos”, acrescentou.

Marcelo Rebelo de Sousa assinalou que a sua intervenção perante o parlamento timorense coincide com o início do mandato de José Ramos-Horta com Presidente da República Democrática de Timor-Leste, funções que o antigo porta-voz da resistência timorense, premiado com o Nobel da Paz em 1996, desempenha pela segunda vez.

Segundo o chefe de Estado português, Ramos-Horta, “pelo seu passado, aos olhos da comunidade internacional já está na História, mas quis o povo timorense que voltasse a fazer História, e essa é uma situação singular e particularmente complexa”.

“Estar na História e ser chamado novamente a intervir na História, com tudo o que significa de sujeição, submissão democrática ao escrutínio popular. Cumprimento-o duplamente por isso”.