— Isto é o capitalismo a ser capitalismo! Não é o capitalismo a correr mal. Para o capitalismo, isto é só uma segunda-feira à tarde.

O deputado do PCP Bruno Dias dirigia-se — nesta segunda-feira (à tarde) — ao grupo de simpatizantes do partido que o ouviam, sentados perto da baía do Seixal, numa sessão pública que fez parte das jornadas parlamentares do PCP. E “isto” era, neste caso, o aumento dos preços graças à “especulação dos grandes grupos económicos” e, com isso, o aumento do custo de vida dos trabalhadores — tema central desta edição das jornadas comunistas.

No Seixal, onde intervieram Bruno Dias e a líder parlamentar, Paula Santos, as críticas ao Governo e aos tais grandes grupos económicos — com quem acusam, de resto, o Executivo de ser conivente — foram, como já tinha acontecido de manhã durante a sessão de abertura, uma constante.

“O problema não começou em fevereiro [com a guerra na Ucrânia], em janeiro, o processo vem de trás, antes da pandemia. Há uma financeirização das transações de bens essenciais”, atacou o deputado, acusando os grupos económicos de “tratarem antecipadamente dos preços” de bens como cereais — a tal demonstração do “capitalismo a ser capitalismo”, segundo Bruno Dias.

As críticas não se aplicaram apenas aos bens essenciais: nos combustíveis, recordou, sem controlar os preços está-se apenas a pôr o país a “subsidiar as petrolíferas”; as sanções contra a Rússia (e outros países), insistiu, servem para “encher os lucros dos mesmos do costume“; na habitação há uma “verdadeira inflação nas rendas” provocada por senhorios que têm “a faca e o queijo na mão”; tudo problemas que fazem com que as reivindicações do PCP — aumentos de salários, pensões e o fim da caducidade da contratação coletiva — se tornem mais prementes.

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(Pelo meio, Bruno Dias chegou a atacar a percentagem de IVA aplicada à energia — isto apesar de ainda em 2019 o PCP ter recusado alinhar numa maioria contra o Governo que iria baixar o imposto, por não aceitar a condição de só entrar em vigor daí a alguns meses).

Paula Santos alinhou exatamente pelo mesmo diapasão e lembrou uma proposta que os comunistas já tinham apresentado no contexto do Orçamento do Estado e que agora dará entrada como proposta autónoma: um regime de preços para o cabaz alimentar, “expurgando margens especulativas”. E, apesar de o PCP ter ajudado a segurar o Governo do PS desde 2015, acrescentou que o que é preciso agora não é apenas parar a perda de poder de compra, mas também “recuperar o que se perdeu na última década”. Ou seja, incluindo nos tempos de geringonça.

“O aumento de salários e pensões não é só uma questão de justiça, é uma urgência social”, acabou por rematar, acusando o Governo de alinhar com a direita e não fazer frente aos grandes grupos económicos por falta de vontade política. Na assistência, os dois simpatizantes que intervieram corroboraram: “Aumenta tudo menos os salários. Torna-se humilhante, para quem trabalha, ver estes lucros”, atirou um jovem que pediu a palavra.

Na mesma tónica deverá continuar o segundo e último dia de jornadas, esta terça-feira, em que os deputados continuarão no terreno a visitar pequenos negócios ou contactar com utentes de centros de saúde até ao encerramento, onde deverão lançar novas propostas para apresentar no Parlamento.