A Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) vai propor ao Governo a classificação da papeleira cantonesa, da coleção da Casa-Museu Anastácio Gonçalves, em Lisboa, como “bem de interesse nacional”, com “designação de ‘Tesouro Nacional'”, anunciou esta quinta-feira o organismo.

A classificação de “A Morte de Camões ou Os Últimos Momentos de Camões (estudo preparatório)”, de Domingos António de Sequeira, como “bem de interesse público”, também será apresentada ao Governo pela DGPC.

Esta obra é um dos testemunhos sobreviventes do quadro “A Morte de Camões” ou “Os Últimos Momentos de Camões”, pintado por Domingos Sequeira, em França, com o qual venceu a Medalha de Ouro do Salão de Paris, em 1824, e do qual se perdeu o rasto, ainda no século XIX, depois de enviado a Pedro I do Brasil (Pedro IV de Portugal).

As propostas de classificação das duas obras são fundamentadas em pareceres “da Secção de Museus, da Conservação e Restauro e do Património Imaterial do Conselho Nacional de Cultura”, emitidos no passado dia 19 de maio, e serão enviadas à secretária de Estado da Cultura, Isabel Cordeiro, para que os processos se concluam, como indicam os anúncios da DGPC, esta quinta-feira publicados em Diário da República.

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O processo de classificação da papeleira cantonesa, como “bem móvel de interesse nacional”, teve início em julho do ano passado, com o objetivo de preservar o seu “valor cultural de significado” para o país.

O objeto em causa é uma “papeleira miniatura”, do século XVIII, concebida para ser transportada, construída em madeira de cânfora, teca e tola, lacada a ouro e negro, revestida por placas esmaltadas, e identificada como peça de produção chinesa, da região de Cantão, embora tenha inspiração evidente no mobiliário europeu da época.

A proximidade ao mobiliário europeu, segundo investigação sobre a peça, testemunha igualmente o caráter do comércio entre a China e a Europa, na segunda metade do século XVIII, assim como o tipo de encomendas então feitas a artífices chineses de Cantão, em particular.

A conservadora Maria Helena Mendes Pinto (1923-2018), durante anos responsável pela coleção de Mobiliário e Artes da Expansão do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), datou a papeleira miniatura da segunda metade do século XVIII, sobretudo pelo tipo de pigmentos usados nas placas esmaltadas, ricas em tons rosa e em motivos naturais, com aves e flores.

Quanto ao estudo preparatório de “A Morte de Camões ou Os Últimos Momentos de Camões”, foi adquirido no ano passado, em leilão, por três mil euros, tendo o MNAA exercido direito de preferência. O processo de classificação foi aberto pouco depois, em maio de 2021.

Sobre a obra premiada no Salão de Paris de 1824, e entretanto considerada em paradeiro desconhecido, o MNAA lembra que esta edição da grande mostra de artes da capital francesa é reconhecida pela historiografia internacional como o momento de arranque do Romantismo na pintura europeia, considerando-se assim que esta obra de Domingos Sequeira, “tanto pelo tema como pelo tratamento”, seja uma das referências da época.

O desenho preparatório, agora em classificação, pertenceu à coleção de Luiz Xavier da Costa e, anteriormente, às coleções do marquês de Sousa Holstein, de Manuel Braga São Romão e de Luiz Augusto de Oliveira (Viana do Castelo), conclui o museu.

A proposta de classificação da pintura “Adoração dos Magos”, de Domingos Sequeira, sob a “designação de ‘Tesouro Nacional'”, também foi feita pela DGPC ao Governo, segundo anúncio publicado por este organismo, na quarta-feira em Diário da República.

A “Adoração dos Magos” faz igualmente parte da coleção do MNAA, tendo sido adquirida por subscrição pública, em 2015.