Foi a primeira vitória na Youth League à quarta final, foi a maior vitória numa final da Youth League em oito edições. A goleada do Benfica frente ao RB Salzburgo por 6-0, com um hat-trick de Henrique Araújo numa exibição de sonho em Nyon, valeu mais do que a mera conquista de um troféu (que teria depois sequência com o Campeonato Nacional de juniores). Por um lado, funcionou como corolário de todo um caminho feito pela formação dos encarnados, que conseguiram chegar a metade das finais da competição em oiro anos mas continuavam à procura do primeiro título. Por outro, e por coincidências temporais, esse triunfo deu acesso à primeira edição da Taça Intercontinental Sub-20, neste caso realizada em Montevideu contra os uruguaios do Peñarol. E havia mais uma oportunidade de fazer história no escalão.

Com Henrique é de mão cheia (ou mais): Benfica atropela RB Salzburgo e faz história com maior goleada numa final da Youth League

“Vai ser um jogo um bocadinho diferente. As equipas sul-americanas são mais agressivas, levam o jogo para outro patamar em termos de duelos físicos. Vamos tentar implementar o nosso jogo com um futebol ofensivo e atraente mas temos um adversário que foi campeão, venceu grandes equipas e também tem a sua qualidade. A mensagem para o grupo é a mesma de sempre: no Benfica temos de jogar sempre para vencer, com troféus ainda mais. Somos dos melhores clubes do mundo a formar, senão o melhor, e temos de o demonstrar dentro de campo. O Peñarol jogou uma prova de Sub-20 e nós de Sub-19. Temos muitos jogadores de 2003 e 2004, mas no Benfica temos de arranjar forças contra todas as adversidades. É mais um extra. Temos de mostrar que somos resilientes e vencer contra tudo”, destacara o técnico Luís Castro.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Foi tudo feito ao pormenor mas jogar no Uruguai, também pela diferença do fuso horário, é uma desvantagem para nós. Acabámos de jogar [Sub-23 e equipa B], viajámos, temos um horário diferente, viajámos toda a noite, é evidente que ninguém dorme no avião como dorme em casa. Estamos a tentar ao máximo encurtar essas diferenças, mas acho que no minuto inicial todos vão esquecer-se disso e vão buscar forças onde tiverem de arranjar”, acrescentou ainda o treinador que na última jornada da Segunda Liga deixou muitos reparos à arbitragem depois da derrota frente ao Estrela da Amadora.

Agora, tudo mudava. A realidade era outra, a motivação era outra, o contexto era outro, o adversário era outro. Até na equipa, com vários jogadores que estiveram na final frente ao RB Salzburgo, existiam algumas novidades: Bajrami, albanês nascido na Suíça há alguns anos no clube, e Lenny Lacroix, contratado ao Metz, faziam dupla no eixo defensivo; João Neves era titular no meio-campo em vez de Martim Neto; Henrique Pereira e João Resende juntavam-se a Diego Moreira no ataque. Henrique Araújo, a grande figura da partida decisiva na Youth League, ficou em Lisboa ao serviço da equipa principal.

O Estádio Centenário (que recebeu esta final por ter sido o palco da primeira final de um Campeonato do Mundo em 1930 e da primeira edição da Taça Intercontinental em 1960) estava com aquele ambiente espectacular típico de América do Sul com casa cheia como se fosse um jogo de seniores mas a primeira parte em campo não foi propriamente um prolongamento dessa festa, com muita entrega e luta das duas equipas em estilos diferentes (o Peñarol a jogar mais direto, o Benfica a tentar construir mais de forma organizada, ambas a apostarem nas transições para criarem superioridade numérica) mas sem grandes oportunidades. Perto do quarto de hora inicial Alonso tentou um chapéu após um erro defensivo dos encarnados mas não criou perigo (14′), Jevsenak teve um remate de fora que saiu perto do poste (45+3′), houve alguma agitação em lances de bola parada e pouco mais, com o nulo a manter-se.

O segundo tempo mudou e houve muito mais Benfica. Teve mais bola, teve outra segurança na forma como fazia a circulação de bola, teve as principais figuras do meio-campo para a frente a aparecerem para darem à equipa a criatividade que falta. João Neves, com dois remates de meia distância por cima e à figura (54′ e 58′), deu o mote para outra expressão dos encarnados no último terço, antes de uma bola ao poste de João Resende após escorregar no momento decisivo (64′). No entanto, o golo estava perto e demoraria apenas mais cinco minutos: depois de um lance em que Cruz apareceu isolado na área frente a Samuel Soares sem acertar na bola, Ndour marcou um canto à esquerda, Jevsenak desviou de cabeça ao primeiro poste e Luís Semedo, acabado de entrar na equipa, encostou ao segundo poste para o golo inaugural (69′).

Depois de ter feito por merecer essa vantagem, o Benfica tinha agora a decisão da final do seu lado perante um Peñarol em quebra física mas com vontade de apostar ainda mais nesse tipo de jogo mais físico para chegar ao empate, deixando também mais espaços sem bola que podiam ser aproveitados para lançar transições. Matias Ferreira, num remate de primeira na área após cruzamento da direita, obrigou Samuel Soares à primeira grande intervenção de um guarda-redes em todo o jogo (77′) antes de um desvio de cabeça depois de um canto que foi salvo em cima da linha (84′) numa fase em que os uruguaios apostavam tudo no ataque com ânimos mais exaltados à mistura que poderiam ter valido vários cartões.