No papel de socialista “da ala mais liberal” e presidente da SEDES — que ainda há pouco tempo propunha medidas para duplicar o PIB –, o segurista reformado Álvaro Beleza foi à Academia Socialista tentar agitar as ideias dos jovens socialistas. “Desde Salazar que o membro do Governo mais importante é o ministro das Finanças. E eu quero que seja o da economia. Temos de sair desta pescadinha de rabo na boca”, atirou.

A tirada ilustra bem o “socialismo liberal” e a visão “mais liberal” da economia que o socialista representa no partido e que tentou levar aos jovens. Perante as perguntas dos ‘jotas’ (e jovens independentes), Beleza insistiu na ideia da ambição, lema do último documento produzido pela SEDES: “Temos de jogar para ganhar. Eu estou na política porque não sou sueco, se fosse tinha mais que fazer”, gracejou.

E, por muito que se “orgulhe” no caminho que o PS tem feito, incluindo nos tempos de devolução de rendimentos na geringonça, “não chega”, avisou: “Temos de exigir mais, Portugal pode ser um dos países mais desenvolvidos da Europa. Mas se não tivermos carga fiscal competitiva, temos uma dificuldade. Não há nenhum país que não tenha feito essas políticas e tido crescimento económico”.

O Governo, concedeu, até pode estar a tentar fazer esse caminho — “tudo com ponderação e bom senso” —  mas é preciso mais “ambição”.

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E, se a sua visão não será exatamente coincidente com a da ala mais à esquerda do partido, foi fazendo questão de falar para dentro — e para as gerações que agora chegam ao partido. “O PS é a casa das várias esquerdas democráticas e liberais. É importante sermos tolerantes com os que cá dentro pensam diferente”.

Foi o “único pedido” que deixou aos mais novos: “manter esse espírito” entre “camaradas”, porque essa “informalidade” distingue a esquerda da direita “engravatada” — “não é por acaso que aqui andamos sem gravata”, gracejou. Por isso, “brio nas convicções, ideias às claras”, foram os conselhos que deixou aos mais novos.

De resto, o papel de um partido que está no Governo não é anular-se, alertou — é mesmo “ser exigente com o Governo”. E não só com ele: Beleza disparou contra as ordens que fazem do país “refém”, garantindo que neste ponto Portugal “ainda é muito salazarento”, e cabe aos socialistas — que têm uma proposta para reformar as ordens profissionais a ser trabalhada no Parlamento — “enfrentar esse problema com coragem”.

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Os jovens pareceram gostar de o ouvir. Entre soundbites e afirmações políticas — da ideia de que o conceito de independentes na política é uma invenção “neofascista” ao apoio à eutanásia, da defesa de que deve haver menos “grisalhos” e mais mulheres a liderar (incluindo na Academia Socialista) à de que os sindicalistas e os jovens devem ser “radicais”, passando pela garantia de que as formas de votar deviam ser mais “friendly” — Beleza foi arrancando aplausos ao público. A Academia segue esta sexta-feira, com a presença de nomes como o ministro da Economia, António Costa Silva, ou o ex-ministro do Trabalho, Vieira da Silva.