“Paolo, the floor is yours”. Foi assim que Paolo Gentiloni, comissário europeu e antigo primeiro-ministro italiano, foi apresentado pela eurodeputada Margarida Marques aos jovens que estão, por estes dias, a frequentar as ‘aulas’ da Academia Socialista, na Batalha. Na bagagem vinda de Bruxelas, Gentiloni trazia avisos sobre a economia europeia — o risco de “recessão” não é de excluir — e sobre a estratégia, principalmente energética, a seguir para contornar esses riscos.

Em temos de guerra depois de uma pandemia, avisou — dois momentos “black swan”, ou seja, inesperados e de grande impacto –, o chão que a Europa pisa é de gelo fino. “Os riscos estão lá. Nos próximos meses, ninguém pode excluir o risco de recessão — mas não estamos em recessão”. E é “esta incerteza” que vai marcar a vida dos países europeus nos próximos tempos, avisou.

Falta, por isso, saber como responder a esses riscos e a essa incerteza. E, perante os jovens socialistas, Gentiloni quis colocar o foco numa só questão: a da energia, lembrando que ainda no ano passado a inflação era, nesse setor, “negativa” — e agora já atinge os 40% –, mesmo que os poderes europeus nesta área sejam limitados.

“Mas se perguntarmos aos cidadãos pela Europa, ouvimos que a Europa tem de tomar as rédeas disto e reagir. Estão a pedir-nos para reagirmos com eficácia à emergência energética”, avisou — e essa será a resposta “crucial” a dar para definir como correm os próximos meses. “Sem resposta comum na emergência energética, não será um jogo fácil responder à inflação, já que é altamente guiada pelos preços altos da energia”.

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Até porque a crise também traz “oportunidades”, frisou: “No fim desta crise estaremos mais independentes dos combustíveis fósseis da Rússia e seremos mais fortes e competitivos se insistirmos na transição verde, além de termos melhor qualidade da vida. As coisas estão a mexer-se”. Mas, para isso, é mesmo preciso que a Europa se una nas respostas.

Essa exigência de respostas comuns também é resultado da eficácia com que se respondeu à pandemia, frisou Gentiloni, de forma a puxar dos galões europeus. E, mesmo com as sanções a serem “um custo para as nossas sociedades”, foi a “coisa certa a fazer”, disse, lembrando a dificuldade de negociar sanções “muito muito muito leves” contra a Rússia na época da anexação da Crimeia, em 2014, quando era ministro dos Negócios Estrangeiros em Itália; agora, a “exigência de respostas das instituições europeias” é maior.

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“Nos próximos meses, parte da opinião pública dirá que estas sanções estão a afetar a nossa economia, e será que vale a pena continuar este esforço?” Para o comissário, a resposta é um rotundo sim: é preciso que a Europa continue a “lembrar-se do que está em causa” — incluindo o próprio “modelo de democracia europeia” face ao regime “autocrático” da Rússia — e a ser um player competitivo, até economicamente.

“Claro que não somos neutros, estamos com os norte-americanos [por oposição à China, no caso da economia], mas queremos ter o nosso papel. Estamos numa encruzilhada em que a força deste modelo, baseado em estados do bem estar, economia social e de mercado e liberdade, pode ganhar. A pandemia mostrou-nos de que é muito mais forte do que os modelos autocráticos e não liberais”. Mas, para isso, o projeto europeu terá de se defender e mostrar que é capaz de superar tempos de dificuldade.