Os seus antecessores estenderam os caminhos em direção à conquista, mas é Etelstano que dá forma à Grã-Bretanha, até à data um aglomerado de pequenos reinos anglo-saxónicos. Cabe-lhe por isso, e sem espaço para dúvidas, o título de primeiro Rei de Inglaterra.

Filho do Rei Eduardo, o Velho, e da sua primeira esposa Ecgvina, neto de Alfredo, o Grande, Etelstano (895-939 dC), originalmente Athelstan, é considerado pelos historiadores modernos o primeiro Rei da Inglaterra, e ainda um dos maiores reis anglo-saxónicos da História.

Alfredo, o Grande, já detinha o título de Rei de Wessex, um dos pequenos reinos que compunham a Inglaterra (a par de outros como era o caso de Mércia, Sussex, Nortúmbria, Essex, Kent ou Ânglia Oriental). Porém, acabaria por ser só o seu neto, Etelstano, o grande responsável por derrotar o último dos invasores Vikings consolidando, desta forma, a Grã-Bretanha. Assim conquistava o título de primeiro rei de toda a Inglaterra — o verdadeiro e o oficial. O “Rei dos Ingleses” viria a governar entre os anos 925 e 939 dC.

Reis mortos, rei posto

Etelstano foi recebido pelo Reino da Mércia, um dos sete reinos que compunham a Heptarquia anglo-saxónica, como seu rei logo após a morte do seu pai, Eduardo, o Grande, em 924. Anterior a si estaria o seu meio-irmão mais velho, Etelvardo, que pela ordem deveria ser o sucessor. Porém, este morreu poucas semanas depois do pai e Etelstano, ainda que tendo de enfrentar durante vários meses uma resistência em Wessex, acabaria por assumir o trono sendo coroado em setembro de 925.

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As conquistas do “Rei dos Ingleses”

Considerado soldado distinto e corajoso pelas páginas da História, Etelstano empurrou os limites do reino como nenhum outros dos seus antecessores havia feito.

No ano de 927, conquistou Iorque, considerado o último território Viking. A conquista valia-lhe o título do primeiro anglo-saxão a governar a Inglaterra. Em 934, foi a vez de invadir a Escócia fazendo com que o rei Constantino II se submetesse ao seu domínio. O ressentimento que daí adveio, por parte dos escoceses mas também dos Vikings, culminou numa invasão a Inglaterra, em 937. A Batalha de Brunamburg, como ficaria apelidada, acabaria por ser apenas mais uma vitória no reinado de Etelstano, que ganharia prestigio em todo o continente.

Foram muitos os feitos do “Rei dos Ingleses”: a moeda foi regulamentada para controlar o peso da prata e penalizar os fraudadores; a compra e a venda eram, em grande parte, confinadas aos Burhs (antigas fortificações inglesas), encorajando, deste modo, a vida na cidade. Ficou também conhecido pela série de reformas e esforços de caridade que levou a cabo — uma parte da renda de cada uma de suas propriedades servia para sustentar os pobres. No exterior, construiu alianças ao casar quatro das suas meias-irmãs com governantes da Europa Ocidental.

Etelstano revelou, também, ser um grande colecionador de obras de arte e de relíquias religiosas, que oferecia a muitos dos seus seguidores e também a igrejas de maneira a conquistar o seu apoio. Importa sublinhar que, não obstante o apoio solicitado, o rei era já um fervoroso defensor e doador da abadia.

O homem por detrás do rei

Etelstano significa “pedra nobre” em inglês antigo. Considerado um governante visionário, justo, inteligente, forte e sábio, antecipou certos movimentos políticos e agiu sempre em conformidade. Tratava-se de um rei que se importava com o seu povo e, como tal, apostava na educação enquanto defendia valores morais firmes acima de tudo: fundou igrejas em todo o seu reino e colectou uma série de relíquias sagradas que elevariam os valores da população local.

Ter a capacidade de unir os reinos, de ser um bom diplomata e de ainda criar um governo unido sob seu domínio foi um golpe de génio. O seu modelo tornou-se, aliás, numa marca anglo-saxónica da cultura britânica.

Pouca fama para um Rei enorme

Apontado por muitos como tendo sido um rei pouco apreciado e parcamente valorizado, há mesmo quem considere que o título de “O Grande”, atribuído ao seu avô, a si lhe deveria pertencer. No entanto, urge reforçar que foi o Rei Alfredo, seu avô, que construiu, a custo, as vigorosas fundações para que as conquistas de Etelstano pudessem ter tido lugar. Pode-se afirmar que sem Alfredo, O Grande, não haveria um reino unido.

Morte e sucessão

Etelstano morreu, no auge dos seus poderes, a 27 de outubro de 939, em Gloucester. Tinha 44 anos de idade. O  “Rei dos Ingleses” foi enterrado na Abadia de Malmesbury, um local adequado para si que havia sido, como já mencionado, um devoto protetor da abadia. Apesar de nunca se ter casado e de não ter descendentes, Etelstano criou como seu filho o também protegido Haakon — ou Haakon, o Bom — que, posteriormente, se acabaria por tornar no rei da Noruega.

Já o trono de Inglaterra seria ocupado pelo seu meio-irmão, Edmundo I, também chamado de Edmundo, o Velho, o Justo ou o Magnífico. O título pertenceu-lhe entre 939 e 946.