O quarto era e continua a ser o refúgio dos adolescentes. Uma espécie de caverna onde os pais não são bem-vindos, onde se sonha, se sofre desilusões de amor, se canta e dança. Continua a ser assim, apesar de muito ter mudado nos últimos 40 anos, desde logo porque a tecnologia veio para tomar conta das suas vidas em comparação com a década de 80 do século passado em que ter um Spectrum poderia ser considerado o suprassumo das TIC. Mas havia a música e essa fazia os jovens sonharem e lutarem por terem a companhia dos seus ídolos pop no quarto… mesmo que fosse em papel. Um regresso aos quartos dos teenagers da década de 80, em comparação com os atuais. Descubra as diferenças.

Paredes forradas a posters

Teeneger que era teenager nos anos 80 tinha a parede do quarto coberta de posters. Era um must have. O dinheiro dado para o lanche na escola – que as mesadas ainda não estavam muito em voga – era tantas vezes poupado para comprar a revista alemã Bravo. Ninguém conseguia ler o que lá estava escrito, mas o que interessava era mesmo retirar os posters para um espacinho que houvesse em branco na parede. Nena (quem não cantarolava 99 Luftballons?), Duran Duran e Kajagoogoo  (todos eles senhores de uma penteados que muitos queriam mas poucos se atreviam a copiar) e até o futebolista alemão Rummenigge eram habitués na revista. Como Michael Jackson, Modern Talking, Samanta Fox e tantos outros. Ainda houve uma edição em português, mas esteve longe de alcançar o sucesso que a revista alemã teve nos anos 80.

Online, os coleccionadores mais fervorosos ainda encontram algumas relíquias para comprar, como este poster de Samantha Fox lançado originalmente com uma revista sueca.

Para além da Bravo, havia outra forma de conseguir os tão desejados posters: as lojas de discos (de vinil, pois claro!) tinham muitos para oferecer e mesmo que o Julio Iglesias e Roberto Carlos contrastassem com  as figuras pop quem iria rejeitá-los? Afinal, quem não sabia cantar de cor As Baleias?

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Sem colunas de som Bluetooth ou Spotify, os teen dos anos 80 tinham objetos mais espaçosos para ouvir música: leitores de cassetes e “aparelhagem”. Nem todos eram sortudos ao ponto de terem o móvel da “aparelhagem” no quarto – juntava gira-discos, rádio e em regra dois leitores de cassetes, o que permitia ouvir e gravar ao mesmo tempo – mas quem a tinha estava nas sete quintas. As duas colunas de som roubavam um espaço considerável, mas quem se importava com isso?

A máquina de escrever e o Spectrum

À secretária de um jovem dos anos 80 do século passado não existiam PC nem computadores portáteis. As máquinas de escrever ocupavam o espaço para a escrita e rapariga prendada desses tempos até tirava o curso de datilografia.

Ainda à distância de sofisticadas consolas, eis o velhinho ZX Spectrum, para ligar à TV, também ela outra antiguidade digna de nota.

Mas havia o ZX Spectrum e na escola quem o tinha era alvo de grande inveja, antes do microcomputador começar a generalizar-se. Um Spectrum era razão para levar uma mão cheia de amigos para casa para jogar Pacman ou Match Point. Hoje são jogos básicos, mas o computador ligava-se à televisão e permitia imagens a cores. Quem então se divertia com esta “máquina” estava longe de imaginar a importância da engenharia portuguesa da empresa Timex na fabricação de milhares de computadores para além fronteiras.

Sofrer por uma coleção de autocolantes

Só quem foi jovem nos anos 80 do século passado sabe o que se penava para engrossar a coleção de autocolantes. O que se sofria para conseguir um autocolante da Pepsi ou da Coca-Cola! Os campeonatos do mundo de futebol eram uma bênção nesta demanda, já que as marcas associadas tinham por norma emitir autocolantes. Sempre que havia repetidos, eram trocados como cromos para preencher uma caderneta. Havia quem, para grande desespero das mães, os colasse no vidro da janela do quarto – uma espécie de exibição de sinal exterior de riqueza que deixava roído de inveja muitos dos que por lá passavam.

No tempo em que se dava um rim por um autocolante — ou a importância que uma coleção recheada assumia na vida de um adolescente comum. Passe pelo OLX se tiver ficado cheio de saudades e procure clássicos como estes.

Eram autocolantes, no entanto, mais sofisticados, em material lavável (pelo menos disso as mães não se podiam queixar) que dava 10 a zero aos autocolantes em papel com o cão do Super Maxi da Olá!

O maço das fotos tipo passe

Na era digital, os jovens têm as fotografias – e vídeos –  armazenados no telemóvel ou no computador,  mas também há quem imprima algumas fotos para decorar o quarto fixando-as com pioneses a um quadro de madeira ou cortiça. E numa versão mais cozy de decoração, prende-as com molas num fio, qual estendal de roupa. Nos anos 80 quem queria fotos, tirava-as com a Kodak ou com a Poloroid e tinha que mandá-las imprimir. Tantas desilusões que passaram – quantas e quantas vezes “o momento” ficava tremido e num rolo de 24 se aproveitavam apenas 10 ou 12 bonecos?

[Vários modelos de máquinas fotográficas, o mesmo grau de ansiedade e expectativa: será que ficou boa? Nos anos 80, saber esperar não era apenas uma virtude, mas uma inevitabilidade. Eis um anúncio saído dessa era]

Mas nem tudo estava perdido, já que era habitual oferecer aos amigos uma foto tipo passe, às vezes com uma dedicatória. Muitos jovens andavam com elas na carteira, e o volume ia aumentando conforme o número de fotografias. Também havia a opção de colá-las na secretária ou tão só guardá-las… para mais tarde recordar.

Paredes e alcatifas coloridas

As paredes eram pintadas de tons fortes, mas longe da moderna denominação “cores quentes”. Rosa para raparigas, azul para rapazes, sobretudo. Os “brancos natureza”, muito usados atualmente, eram tonalidades que não entravam no quarto de um teenager dos anos 80 do século passado, tal como no resto da casa. Seriam consideradas cores deslavadas. Nos 80’ dava-se nas vistas fora de portas e essa tendência estendia-se dentro das quatro paredes onde os jovens passavam horas a fio, certamente não tantas como hoje porque não era ainda o tempo das tecnologias.

À primeira vista, pode parecer uma criatura de outro planeta mas é apenas uma inofensiva alcatifa (e ainda encontra por aí à venda, se fizer muita questão de encher a casa de nostalgia).

O piso acompanhava a tendência de decoração de interiores – tanto chão de madeira bonita tapado por alcatifas de pêlo alto, as mais confortáveis, numa época em que pouco ou nada se falava de alergias. E mais uma vez aqui as cores se repetiam, a fazer pandã com o tom das paredes.