O parlamento rejeitou esta sexta-feira projetos de lei do PCP, do PAN e do BE em defesa de medidas para compensar os professores deslocados e tornar a profissão mais atrativa, face à carência de docentes nas escolas.

O PCP abriu o debate com números de um levantamento da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), segundo o qual cerca de 80.000 alunos continuam sem pelo menos um professor, o que levou o deputado Alfredo Maia a definir a situação como “um estado de emergência”.

“Cerca de 680 professores abandonarão as salas de aulas só no próximo trimestre”, por motivos de aposentação, declarou o deputado, ao defender um projeto de lei para o reforço dos créditos horários nas escolas e complementos para professores deslocados da área de residência, entre outras medidas destinadas a tornar a profissão mais atrativa. “De outro modo, estaremos a por em risco a sobrevivência da escola pública”, disse.

Por parte do PAN – Pessoas, Animais, Natureza, a deputada Inês Sousa Real considerou que os professores continuam a ser “uma das classes profissionais mais prejudicadas” e “esquecidas pelo Governo”. O partido apresentou também um projeto de lei para que fossem custeadas as despesas com uma segunda habitação dos professores deslocados.

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“Não têm qualquer compensação salarial (…). Os 1.100 euros que recebem não chegam sequer para as despesas”, afirmou a deputada, defendendo uma compensação financeira semelhante à que auferem titulares de cargos políticos, como os deputados.

O Bloco de Esquerda levou novamente a plenário uma iniciativa legislativa para vincular aos quadros os professores a contrato e para compensar os que se encontram deslocados de casa.

“São a única classe profissional que é obrigada a deslocar-se para a outra ponta do país sem receber por isso”, alegou a deputada Joana Mortágua, criticando que todos os anos haja dezenas de milhar de alunos a iniciar o ano letivo sem professores a várias disciplinas.

“O Governo não quer perceber que é a contratar e vincular professores precários que resolve o problema”, sustentou, depois de enumerar a aposentação e a falta de incentivos para a carreira docente como causas de um problema que, na sua opinião, o ministro da Educação, João Costa, trata de forma “leviana” quando mostra “satisfação” ao dizer que este ano há menos professores em falta.

Durante o debate, o deputado do PS Agostinho Santa, lembrou que há cerca de uma década o governo liderado pelo PSD convidava milhares de professores a saírem do país, reconheceu que há um problema, mas insistiu nas medidas promovidas nas últimas legislaturas, como o descongelamento das carreiras e estudos pedidos ao Conselho Nacional de Educação e à Universidade Nova a propósito dos concursos de professores e as necessidades de recursos humanos.

“Este ano verifica-se uma redução de 50% em relação aos horários por atribuir”, disse.

Para o PSD, as iniciativas apresentadas representaram “uma prova de vida” de partidos “da antiga geringonça”. A deputada Carla Madureira acusou o Governo de “governar à semana”, a curto prazo. “O povo chama isso de vistas curtas”, afirmou.

O partido defendeu uma mudança urgente do sistema de recrutamento de professores e considerou “preocupante” e atual momento educativo do país.

O deputado único do partido Livre, Rui Tavares, saudou as iniciativas legislativas apresentadas.

O Chega apresentou um projeto de resolução para levar a AR a aprovar uma recomendação ao Governo no sentido de serem tomadas medidas para todos os alunos iniciarem o ano letivo com professores em todas as disciplinas. Durante o debate o deputado Mitá Ribeiro acusou a esquerda parlamentar de desregular a escola e a sociedade.

Pela Iniciativa Liberal, a deputada Carla Castro insistiu que as escolas devem ter autonomia para recrutarem professores e definirem incentivos para a fixação de docentes.

“Não devemos ter medo de mudar, devemos ter medo de continuar assim”, advogou.

O projeto de lei do PCP recolheu os votos a favor do PAN e do Livre, contra do PS e do PSD e a abstenção do Chega e da IL.

Votaram a favor da iniciativa do PAN o Chega, o PCP, o BE e o Livre. O PS votou contra e o PSD e a IL abstiveram-se.

O projeto do BE recebeu votos a favor do PCP, do PAN e do Livre. PS e PSD votaram contra. O Chega e a IL abstiveram-se.

O projeto de resolução do Chega foi chumbado, com os votos contra do PS, a abstenção do PSD, do PCP, do BE e do Livre. O PAN votou a favor.