Era contra o último classificado, envolveu dois golos na meia hora inicial praticamente a sentenciar o rumo do encontro, valeu bem mais do que isso. Além dos três pontos, a vitória expressiva do FC Porto frente ao P. Ferreira, após a qualificação no primeiro lugar na fase de grupos da Liga dos Campeões, funcionou como a tal prova do grupo de que conseguia manter os mesmos níveis de exigência em campo depois de um desafio europeu, algo que falhou nos Açores com o Santa Clara. Agora, seguia-se mais um teste a esse nível, mesmo que num contexto diferente e a eliminar para a Taça de Portugal. E esse era o principal objetivo de Sérgio Conceição para a partida em Mafra, da Segunda Liga, orientado pelo ex-médio Ricardo Sousa.

FC Porto vence em Mafra, segue na Taça de Portugal mas Sérgio Conceição é expulso

“Espero que não aconteça Taça, pois se olharmos para a eliminatória anterior caíram oito equipas da Primeira Liga. A Taça é o segundo título mais importante para nós a seguir ao Campeonato, temos de estar no nosso melhor frente a uma equipa competente, com um treinador que tem feito um trabalho interessante e com resultados positivos. Devemos olhar para o Mafra com todo o respeito e fazer o mesmo trabalho de preparação que fazemos em todos os jogos. Com humildade, ir a Mafra e passar. Rodar a equipa? Não é rodar… Jogámos no sábado, hoje [segunda-feira] estamos preparados para viajar depois do treino, sabem que no dia após o jogo é trabalho de recuperação. Esse curto espaço de tempo que temos é para nos focarmos ao máximo no jogo. Nesse sentido, entram os que estiverem em melhor forma física, emocional. Posso dizer que o Cláudio Ramos vai jogar, é o único que posso adiantar”, comentara o técnico dos azuis e brancos, que não poderia contar ainda com os lesionados Zaidu, Gabriel Veron e Pepe.

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“Se a equipa reage melhor quando está mais pressionada? Quero que esse fio da navalha aconteça em todos os jogos. Se esse fio é sinónimo de estar alerta e vivo no jogo, com estado de espírito onde foco e concentração estejam presentes, sim. Não é preciso bater no fundo como acho que foi o jogo com o Santa Clara porque acho que não estivemos bem. Não foi pela qualidade que tivemos depois noutros jogos, tem a ver com uma série de características que têm de ser postas cá fora. Essa é a minha luta diária, gostaria de encontrar forma de os meter sempre no fio da navalha, mas todos os dias e em todos os jogos, que refletem o que é o nosso dia a dia”, acrescentara para reforçar a mensagem interna de evitar qualquer facilitismo.

Também na antecâmara, e de forma irónica, Sérgio Conceição tinha falado naquilo que poderá ou não vir a receber na reabertura de mercado de inverno após o Campeonato do Mundo, admitindo que não colocava de lado a possibilidade mas sem qualquer compromisso. “Se acredito no Pai Natal? Acredito no Pai Natal porque o meu filho Zezinho está a ver [risos]. Agora deixou-me entre a espada e a parede porque tenho vontade de dizer que não acredito no Pai Natal mas com o mercado à porta tenho esperança de encontrar um velhinho de barbas com um saco…”, atirou num momento mais descontraído.

A nível de profundidade, mais por uma questão de quantidade do que qualidade, é normal que o técnico não descure a passagem do Pai Natal pelo Olival para deixar um ou outro reforço que ajudasse a dar mais opções para a segunda metade da temporada depois do Mundial. No entanto, tão ou mais importante do que isso é beneficiar daquilo que o tal senhor velhinho de barbas com um saco não traz: atitude, entrega, compromisso, o tal ADN FC Porto. E se Otávio ficou no onze inicial entre cinco mudanças na equipa para desequilibrar entre a direita e o corredor central e dar esse exemplo, Eustáquio, que marca e/ou assiste há quatro jogos consecutivos, foi o melhor exemplo. Mais do que reforços, dão jeito mais Eustáquios e Otávios, que dividiram o protagonismo entre as duas partes numa vitória confortável do FC Porto.

Ficha de jogo

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Mafra-FC Porto, 0-3

4.ª eliminatória da Taça de Portugal

Estádio Municipal de Mafra

Árbitro: Hélder Malheiro (AF Lisboa)

Mafra: Renan; Ousmane Diomandé, Pedro Pacheco, João Goulart (Diga, 66′); Pedro Lucas (Lucas Fernandes, 60′), Leandrinho, Léo Cordeiro (Kaio, 60′), Gui Ferreira; Fati (Banguera, 78′), Pité e Diogo Almeida

Suplentes não utilizados: Samu, Bura, Pedro Marcelo, Edwin Venté e Obule Moses

Treinador: Ricardo Sousa

FC Porto: Cláudio Ramos; João Mário, Fábio Cardoso, Marcano, Wendell; Grujic, Eustáquio (Uribe, 60′); Otávio (Bruno Costa, 81′), Galeno (Gonçalo Borges, 81′); Danny Loader (Pepê, 76′) e Evanilson (Toni Martínez, 60′)

Suplentes não utilizados: Samuel Portugal, David Carmo, Manafá e Taremi

Treinador: Sérgio Conceição

Golos: Marcano (7′), Eustáquio (38′) e Galeno (73′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Eustáquio (24′), Léo Cordeiro (47′), Gui Ferreira (83′) e Fábio Cardoso (83′); cartão vermelho direto a Sérgio Conceição (65′)

Mais do que nomes, o FC Porto quis fazer a diferença com a atitude em campo e não demorou a mostrar isso mesmo nos minutos iniciais, com um lance no quarto minuto que não deu mais do que um canto mas funcionou como exemplo paradigmático dessa entrega: Galeno foi ao chão ganhar a bola junto à linha, Evanilson esticou-se todo para tocar ainda no meio para Otávio, o internacional português teve um passe magistral por cima da defesa para Eustáquio mas o remate do canadiano acabou por ser cortado por um defesa. O golo não apareceu aí mas não demorou muito mais, numa falha de marcação do Mafra que permitiu a Marcano surgir sozinho ao segundo poste para desviar de cabeça depois de um canto na esquerda de Eustáquio. Se os visitados iam controlando o corredor central, pecaram na bola parada (7′).

Vinte minutos depois, num lance tirado a papel químico, aconteceu o mesmo mas com Danny Loader a não ter a mesma arte no jogo aéreo e a desviar ao lado. No entanto, e nesse período, o Mafra foi conseguindo equilibrar os pratos da balança com os azuis e brancos, tendo duas saídas rápidas a tentar explorar o lado direito do ataque onde estava Wendell para fazer o primeiro remate num cabeceamento de Pedro Lucas que saiu à figura de Cláudio Ramos (20′). Logo a seguir, e numa das muitas tentativas que teve até ao descanso, Eustáquio atirou de cabeça após cruzamento de Otávio mas saiu ao lado da baliza de Renan (22′).

Esse período seria apenas um compasso de espera para mais umas quantas acelerações que, desta vez em jogo corrido e bola parada, foram abrindo muitos espaços na defesa dos visitados. Eustáquio, mais uma vez, tentou a sua sorte de fora da área e o remate saiu perto do poste (32′). De seguida, e em três minutos, foi Galeno a ficar perto de marcar, sobretudo numa jogada combinada após canto com Otávio que terminou com Renan a defender o remate do brasileiro (36′). À quarta foi de vez e os dragões aumentaram a vantagem antes do intervalo, com Eustáquio a fazer bem o movimento de rutura, Otávio a assistir nessa diagonal e o canadiano a rematar cruzado de primeira para o 2-0 (38′). Pité ainda teve um tiro de pé esquerdo ao lado da baliza de Cláudio Ramos mas o resultado não mais iria mexer até ao descanso.

O segundo tempo começou sem alterações e sem grandes motivos de interesse, apesar de ter duas situações no quarto de hora inicial que podiam ter acabado ou reaberto a partida: Galeno, num remate de fora de pé esquerdo, fez a bola passar muito perto do poste (55′); Diogo Almeida, aproveitando um erro de Eustáquio numa saída a construir a partir de trás, recebeu a bola isolado, virou-se para a baliza mas viu Cláudio Ramos desviar com a perna para canto na oportunidade mais flagrante do Mafra (58′). Se a história já não era muita, a partir desse momento em que o guarda-redes do Tondela brilhou acabou de vez.

Marcano, na sequência de mais um lance combinado a partir de um canto que passou por Wendell e teve assistência de Otávio, obrigou Renan a uma defesa por instinto com os pés quando muitos já festejavam o terceiro golo dos dragões (63′). Não foi aí, foi dez minutos depois, mais uma vez com Otávio na jogada a receber entre linhas de Uribe, a assistir Toni Martínez para o remate na área ao poste mas com Galeno, mais descaído sobre a esquerda, a disparar para o 3-0 (73′). Pelo meio, e num dos poucos momentos que não deixaram boas memórias para o campeão e vencedor da Taça em título, Sérgio Conceição viu o cartão vermelho num lance muito contestado pelo próprio e pelo banco mas que fez mesmo que saísse mais cedo do jogo naquela que foi já a 21.ª expulsão desde que começou a carreira de treinador.