Num jogo de Quem é quem?, as palavras-chave certas para o descrever seriam: loiro, meia-altura, entroncado e com uma grande probabilidade de estar de mãos atrás das costas. Com estas pistas, só quem nunca tivesse visto a sua cara, conhecido o seu nome ou simplesmente não soubesse da sua existência é que não descobriria de quem se tratava. Certo é que todos os aspetos aqui tidos como exceções são verdades que fazem de Jens Wissing um perfeito desconhecido. O treinador-adjunto vive na sombra de Roger Schmidt, mas as circunstâncias levaram a que fosse exposto à Luz.

Roger Schmidt cumpriu um jogo de castigo por ter arremessado uma garrafa de água aos adeptos do Vizela na partida anterior, mas ao Benfica não ficou sem uma voz de comando. Não faltaram indicações de Wissing que, para que os jogadores encarnados não estranhassem, até vinham com o mesmo sotaque alemão que normalmente lhes arranha os ouvidos. O que também não fugiu à norma foi a vitória do Benfica. O 2-0 frente ao Famalicão valeu a sétima vitória consecutiva no campeonato e garante que, pelo menos, o segundo classificado, FC Porto, vai continuar a oito pontos de distância. Os números finais até pecam por escassos tendo em conta que se fixaram no mesmo patamar de outros jogos, tal como o da ronda anterior, em que o Benfica não produziu tanto em quantidade e qualidade.

No onze do Benfica, Rafa entrou para o lugar do lesionado Gonçalo Guedes e ocupou a posição nas costas do ponta de lança. O Famalicão começou tranquilo no encontro. A equipa de João Pedro Sousa teve perante a pressão alta pouco intensa do Benfica uma atitude de aceitação e quando se foi a ver, os famalicenses estavam a sair a jogar desde trás através do guarda-redes, Luiz Júnior. A partir daí, os três médios — especial destaque para as permutas entre Colombatto e Iván Jaime de desacertavam qualquer tentativa de marcação individual — superiorizavam-se à dupla de centrocampistas do Benfica, Aursnes e Florentino, estando este segundo, por vezes, demasiado próximo dos centrais para compensar a subida do norueguês e defender o espaço entre linhas. Assim, o Famalicão jogava em 4-2-3-1 com bola, bastante diferente do modo como defendia.

Ficha de Jogo

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Benfica-Famalicão, 2-0

23.ª jornada da Primeira Liga

Estádio da Luz, Lisboa

Árbitro: Artur Soares Dias (AF Porto)

Benfica: Odysseas Vlachodimos, Alexander Bah, António Silva, Otamendi, Grimaldo, Florentino, Aursnes, Neres (João Neves, 87′), João Mário, Rafa e Gonçalo Ramos (Musa, 82′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, Gilberto, Lucas Veríssimo, Tengstedt, Schjelderup, Rafael Rodrigues e Morato

Treinador: Jens Wissing

Famalicão: Luiz Júnior, Penetra, Riccieli (Aguirregabiria, 45′), Mihaj, Francisco Moura, Zaydou (David Tavares, 71′), Colombatto (Gustavo Sá, 71′), Iván Jaime (Kadile, 87′) e Ivo Rodrigues, Sanca e Pablo Felipe (Deni Jr., 71′)

Suplentes não utilizados: Zlobin,Diogo Queirós, Rúben Lima e André Simões

Treinador: João Pedro Sousa

Golos: Gonçalo Ramos (36′ e 90+3′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Mihaj (60′), Otamendi (71′), Gustavo Sá (73′) e Aguirregabiria (79′)

O Benfica entendera que no 5-3-2 defensivo do Famalicão existiam lacunas e o lado esquerdo era o predileto para derrubar a organização do adversário. Grimaldo empenhou-se nessa missão e obrigou Leandro Sanca, que formava a linha de cinco que os famalicenses montavam quando não tinham bola, a recuar mais do que seria de prever. O extremo conteve algumas investidas do lateral, mas a insistência era tanta que, a determinado momento, o espanhol não deixou de poder ser controlado. Sanca quase cometeu grande penalidade — o árbitro, Artur Soares Dias, mandou jogar — antes de ver mesmo Grimaldo assistir para o golo de Gonçalo Ramos (36′). Sabendo que espaço explorar, Otamendi colocou a bola nas costas da defesa, Grimaldo tentou um primeiro cruzamento que foi intercetado, mas, numa segunda tentativa, o passe encontrou mesmo o avançado encarnado.

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O Benfica conseguiu encantar, mas, mesmo quando não o fez, notou-se que o fio de jogo não era quebrado pela impaciência ou imprecisão como aconteceu diante do Boavista e do Vizela. Os encarnados conseguiram conter algum atrevimento inicial do Famalicão com um gestão mais cuidada da posse de bola. O aviso que deixou Leandro Sanca, aqui em destaque pela positiva, ao fazer uma diagonal da esquerda para o centro e a rematar por cima da baliza de Odysseas — que não teria hipóteses de ir buscar a bola ao ângulo caso esta fosse um pouco mais baixa — não teve mais réplicas do lado do Famalicão. Com a vantagem, a equipa da Luz teve sempre forças para dominar. David Neres rematou um pouco ao lado, Gonçalo Ramos obrigou Luiz Júnior a um grande voo e, no auge do desperdício, Rafa cabeceou ao poste.

A equipa técnica do Benfica operou apenas duas alterações em todo o encontro, ambas para lá do minuto 80. Torna-se normal que, já em tempo de compensação, tivessem sido os mesmos jogadores que construiram o primeiro golo a colocarem-se no vídeo do segundo: Grimaldo rematou de fora de área, Luiz Júnior defendeu para a frente e lá estava Gonçalo Ramos (90+3′) para bisar e dar mais graça ao resultado. O avançado chegou ao topo da lista de melhores marcadores do campeonato ao alcançar o 15.º golo no campeonato e ultrapassando o colega de equipa João Mário. São as lutas internas que todos gostavam de ter. Estas sim, são fáceis de gerir.