Pé e meio já lá estava e só faltava metade de um pé. Depois da vitória por dois golos de diferença na Bélgica e na primeira mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões, o Benfica só precisava de gerir a eliminatória para garantir o passaporte para a fase seguinte. E, dessa forma, assegurar desde já um encaixe financeiro de 71,6 milhões na atual edição da competição europeia — um valor recorde para os encarnados.

Para lá chegar, porém, era preciso não perder com o Club Brugge. E, se possível, prolongar a série de quatro vitórias consecutivas que permitiu cavar uma vantagem de oito pontos na liderança da Primeira Liga. Sensivelmente um ano depois de uns oitavos de final onde eliminou o Ajax antes de cair nos quartos com o Liverpool, o Benfica voltava a ter a oportunidade de ser uma das melhores oito equipas da Europa. E Roger Schmidt tinha noção dessa responsabilidade.

Ficha de jogo

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Benfica-Club Brugge, 5-1 (7-1 no conjunto das duas mãos)

Oitavos de final da Liga dos Campeões

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Halil Umut Meler (Turquia)

Benfica: Vlachodimos, Alexander Bah (Gilberto, 63′), António Silva (Lucas Veríssimo, 88′), Otamendi (Morato, 74′), Grimaldo, Florentino, Chiquinho (David Neres, 63′), Fredrik Aursnes, Rafa, João Mário (João Neves, 74′), Gonçalo Ramos

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, Gonçalo Guedes, Tengstedt, Schjelderup, Musa, Rafael Rodrigues, Cher Ndour

Treinador: Roger Schmidt

Club Brugge: Mignolet, Clinton Mata (Denis Odoi, 62′), Mechele, Sylla, Buchanan, Nielsen, Vanaken (Rits, 75′), Sowah (Nusa, 75′), Meijer, Lang (Onyedika, 45′), Yaremchuk (Jutglá, 62′)

Suplentes não utilizados: Bursik, Boyata, Talbi, Cissé Sandra

Treinador: Scott Parker

Golos: Rafa (38′), Gonçalo Ramos (45+2′ e 57′), João Mário (gp, 71′), David Neres (77′), Meijer (87′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Yaremchuk (18′), a Lang (20′), a Otamendi (29′), a Sylla (43′), a Meijer (48′)

“Acho que todas as equipas que estão nesta fase podem ganhar a Liga dos Campeões. Mas não com a mesma probabilidade. Claro que as equipas com menos orçamento têm menos chances e as que têm mais orçamento têm uma chance maior. Mas nada é impossível no futebol. Neste momento estamos muito focados em chegar aos quartos de final, o que para um clube como o Benfica seria uma grande conquista. Vamos passo a passo e amanhã vamos tentar cumprir o objetivo”, explicou o treinador alemão na antevisão da partida.

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Neste contexto e ainda sem Draxler e Ristic, Schmidt recuperava a titularidade de Chiquinho no meio-campo e voltava a integrar Aursnes no trio ofensivo, deixando tanto David Neres como Gonçalo Guedes no banco de suplentes — e promovendo a primeira convocatória do jovem Cher Ndour, que conquistou a Youth League na época passada. Do outro lado e no regresso ao Estádio da Luz, Yaremchuk surgia no onze inicial da equipa de Scott Parker.

O Benfica entrou na partida praticamente a marcar, com João Mário a finalizar de forma brilhante uma assistência de Gonçalo Ramos — mas o lance acabou por ser anulado por fora de jogo do avançado (3′). A imagem deixada nesses instantes iniciais, porém, não era uma ilusão: os encarnados dominaram durante os primeiros 20 minutos e criaram diversas oportunidades de golo, demonstrando até uma falta de eficácia que permitiu que o resultado chegasse a zeros à meia-hora de forma algo injustificada.

Gonçalo Ramos ia marcando mas atirou fraco (7′), Florentino atirou ao lado na grande área depois de um passe de João Mário na direita (15′) e o mesmo João Mário rematou contra um defesa que estava em cima da linha de golo e não conseguiu abrir o marcador (20′). O Benfica tirou ligeiramente o pé do acelerador a partir desse momento, permitindo que o Club Brugge subisse as linhas e tivesse alguma posse de bola junto do último terço adversário, mas a transição ofensiva portuguesa não tardou a demonstrar-se implacável.

Já nos últimos minutos da segunda parte, João Mário abriu na esquerda em Gonçalo Ramos, o avançado conduziu até à grande área e assistiu Rafa, que se desenvencilhou de dois adversários para atirar com a parte exterior do pé para o fundo da baliza (38′). Já nos descontos e com a mesma receita, Aursnes também potenciou o corredor esquerdo ao solicitar João Mário e o médio soltou para Ramos, que ultrapassou três oponentes já na área para aumentar a vantagem encarnada (45+2′). Com um lance brilhante, o avançado português coroava mais uma exibição de nota muito elevada na Liga dos Campeões.

No fim da primeira parte, o Benfica já tinha igualado o resultado da primeira mão na Bélgica e tinha bem mais do que pé e meio nos quartos de final da Champions. O Club Brugge mostrava-se incapaz de contrariar a superioridade clara dos encarnados, apresentando enormes debilidades defensivas sempre que Grimaldo, Aursnes ou João Mário aceleravam o jogo essencialmente pelo corredor esquerdo.

Roger Schmidt não mexeu ao intervalo mas Scott Parker tirou Lang, que já tinha cartão amarelo, para lançar Onyedika. O Benfica continuava a controlar todas as ocorrências mas já sem a mesma exigência na reação à perda da bola, gerindo o resultado e a partida com bola e presença no meio-campo adversário e aproveitando a passividade belga. Ainda dentro do quarto de hora inicial da segunda parte, os encarnados chegaram mesmo ao terceiro golo por intermédio de Gonçalo Ramos, que bisou com um pontapé de primeira na sequência de uma assistência de Grimaldo na esquerda (57′).

Parker voltou a mexer depois da hora de jogo, lançando Jutglá e Denis Odoi, e Schmidt respondeu com as entradas de Gilberto e Neres para os lugares de Bah (que fez treino condicionado durante a semana) e Chiquinho — ou seja, fazendo com que Aursnes recuasse para o meio-campo. E se a eliminatória já estava totalmente decidida nesse momento, ficou completamente selada nos minutos seguintes: João Mário carimbou a goleada de grande penalidade (71′) e Neres, com assistência do recém-entrada João Neves, fez o quinto golo (77′).

Os belgas ainda reduziram nos últimos instantes, com Meijer a bater Vlachodimos com um pontapé brilhante (87′), mas já nada poderia mudar. O Benfica goleou o Club Brugge e está nos quartos de final da Liga dos Campeões pela segunda temporada consecutiva depois de uma exibição de gala em que voltou a acalentar as ideias mais otimistas dos adeptos. E muito disso foi graças a Gonçalo Ramos: o dono do papel principal que assistiu, marcou duas vezes e tornou-se o primeiro jogador encarnado a bisar numa partida a eliminar na Champions.