Causou alguma estranheza, mereceu uma justificação quase imediata por parte de Rúben Amorim: existiria mesmo necessidade de colocar Fatawu aos 89′ do encontro com o Arsenal para a Liga Europa tendo em conta que com isso não poderia depois jogar os quartos da Youth League? Resposta rápida: sim. “Tinha de colocar um jogador, era muito claro. E sabia a regra, obviamente. Na minha cabeça, a formação não estava lá para ganhar a Youth League. Tem a obrigação de lutar pela Youth League mas a ideia da formação é meter jogadores na equipa A. Ele não pode jogar, temos outros. A formação é para formar para a equipa principal. Quem ganhou a Youth League em Portugal? Benfica e FC Porto. Quantos jogadores tiraram de lá? Esse é o grande objetivo. O Inácio é o jogador que é e nunca jogou a Youth League”, frisou Rúben Amorim.

Existe uma lógica que norteia o pensamento dos leões mas, como o próprio técnico assumiu também, não era essa prioridade de formar mais valias para o conjunto principal que impedia manter as ambições na prova europeia de juniores. E depois da derrota na estreia nos quartos em 2022 (goleada frente ao Benfica por 4-0 em Alcochete), o Sporting procurava outra vez uma inédita presença na Final Four da competição, tendo pela frente um Liverpool que afastou nos oitavos o FC Porto após desempate por grandes penalidades.

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“Estar novamente entre as oito melhores academias da Europa é muito bom. Há trabalho, talento e por si só já ficamos muito felizes. Queremos vencer a eliminatória, jogar bem e demonstrar a nossa qualidade. Temos uma formação com talento, que vai trazer frutos, mas vamos defrontar uma equipa que é muito forte. O mister Amorim tem toda a razão. As academias e os investimentos que fazemos nestes jovens que vivem cá e têm alimentação, têm escola e projetos desportivos individuais têm que ser refletidos na equipa principal. Não foi só o Fatawu a não poder ser utilizado, também já foi o Nazinho e ninguém falou nisso. Percebo que o Fatawu marcou os três golos, está num patamar acima e teve a sua oportunidade e isso é fantástico, estamos muito contentes”, destacara o técnico Filipe Celikkaya antes do duelo com os britânicos, sendo conhecido o adversário do vencedor desta partida, que iria sair do encontro entre AZ e Real Madrid.

Para já, a campanha tinha sido quase perfeita por parte dos leões, que ganharam o seu grupo na fase inicial com quatro vitórias e dois empates (13-3 em golos) e golearam depois nos oitavos o Ajax por claros 5-1 com um hat-trick de Fatawu, jovem internacional ganês que esteve no último Campeonato do Mundo do Qatar que estava agora de fora da Youth League e entre os convocados da equipa principal para a partida frente ao Arsenal em Londres da segunda mão dos oitavos da Liga Europa. E assim continuou, desta vez com o papel de principal destaque a pertencer a Rodrigo Ribeiro, avançado de 17 anos que já foi opção de Rúben Amorim esta época e em 2021/22 e que leva sete golos em oito jogos na prova europeia. Mesmo sem Fatawu e Chermiti, que são opções para o conjunto principal, há mais vida entre as unidades ofensivas na formação.

Mais uma vez com o novo selecionador Roberto Martínez nas bancadas (e com vários elementos das equipas seniores masculina e feminina nas bancadas), o encontro começou sem grandes oportunidades e com uma paragem mais longa para assistência a Ben Doak, que acabaria mesmo por ser substituído. Os ingleses iam tendo outra capacidade com bola mas sem grandes oportunidades, reservadas para os últimos minutos antes do intervalo e todas para os leões: Afonso Moreira atirou ao lado após assistência de Rodrigo Ribeiro (41′), o mesmo Afonso Moreira rematou pouco depois para defesa de Harvey Davies (43′) e Rodrigo Ribeiro fechou o primeiro tempo com mais uma boa chance que voltou a esbarrar no guarda-redes contrário (45+2′).

A exploração da profundidade e a aposta no corredor esquerdo do ataque traziam a melhor versão ofensiva verde e branca, faltando apenas os golos para materializar essa vantagem. Frauendorf ainda aproveitou um erro de Gilberto Batista para criar perigo junto da baliza de Diego Callai (60′) mas foi Rodrigo Ribeiro que inaugurou mesmo o marcador, aproveitando mais um passe longo para as costas da defesa britânica para rematar colocado sem hipóteses para Davies (65′). Até ao final, o Liverpool ainda foi tentando o empate mas o Sporting conseguiu conservar a vantagem, garantindo o primeiro apuramento para a Final Four em Nyon e o sétimo ano em nove possíveis com um representante português no top 4, sendo que o FC Porto venceu o Chelsea na final de 2019 e o Benfica “atropelou” o Red Bull Salzburgo na decisão de 2022.