Eram 06h40 da manhã (mais quatro horas em Lisboa) quando Jair Bolsonaro aterrou no país natal, após ter passado três meses nos Estados Unidos. A primeira paragem do ex-Presidente em Brasília foi a sede do Partido Liberal (PL), onde era esperado pela mulher, Michelle Bolsonaro, e por alguns dos seus principais aliados políticos. O antigo chefe de Estado admitiu que vai voltar à vida política brasileira, contribuindo com “os seus 28 anos de experiência”, mas garantiu que não vai “liderar a oposição”.

Centenas de apoiantes esperavam Jair Bolsonaro quer no aeroporto de Brasília, quer na sede do Partido Liberal. Muitos deles envergavam a bandeira brasileira e gritavam “mito, mito”, “Lula, ladrão, o seu lugar é na prisão” e o “Bolsonaro voltou”, entoando cânticos de apoio ao ex-Presidente. Nos dois momentos, o antigo chefe de Estado manteve-se em silêncio, sendo que, no aeroporto, a Polícia Federal não deixou que o antigo Presidente cumprimentasse os apoiantes por motivos de segurança. 

Foi com uma publicação no Twitter que Jair Bolsonaro comentou pela primeira vez a chegada ao país natal. O antigo Presidente agradeceu “pelo carinho e consideração de sempre”, salientando que era “muito bom estar de volta ao Brasil.”

Em Brasília, Jair Bolsonaro encontrou-se como Valdemar Costa Neto, o líder do Partido Liberal (PL), e o general Braga Netto, ex-ministro da Defesa. De acordo com a assessoria do partido, o antigo Presidente recebeu “cumprimentos de parlamentares do PL e de outras autoridades num espaço reservado dentro do Complexo Brasil 21, com acesso restrito”.

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A Folha de São Paulo teve acesso a uma conversa de Bolsonaro com os seus aliados políticos. Nela, o ex-Presidente do Brasil atacou o seu sucessor, atirando que o Partido dos Trabalhadores estará “por pouco tempo no poder”.

Além disso, o antigo chefe de Estado saudou a composição do Parlamento, que tem uma maioria de direita. “O Parlamento nos está orgulhando pelas medidas, pela forma de se comportar, de agir lá dentro, fazendo o que tem que ser feito”. Numa crítica direta a Lula da Silva e ao Partido dos Trabalhadores, Jair Bolsonaro disse que cabe àquele órgão mostrar “ao pessoal que está no poder” que “não vão fazer o que bem querem com o destino” do Brasil.

Momentos antes, Bolsonaro garantiu que não ia liderar “nenhuma oposição”

Antes de embarcar no voo, num avião com alusões ao universo Harry Potter, com rumo a Brasília, no aeroporto de Orlando, Jair Bolsonaro deu uma entrevista à CNN Brasil, em que assegurou que não vai liderar “nenhuma oposição” ao governo de Lula da Silva.

O antigo chefe de Estado sinalizou não ia “liderar nenhuma oposição, vou participar com o meu partido, como uma pessoa experiente, com 28 anos de Câmara, quatro de presidente, dois de vereador e 15 de Exército, para colaborar com o que eles desejarem, como podemos apresentar-nos para manter o que tiver de ser mantido e mudar o que tiver de ser mudado”.

“Não é preciso fazer oposição a este governo, já é uma oposição por si só, dada a qualificação daqueles que compõem os Ministérios”, atirou Jair Bolsonaro. “Ele [Lula da Silva] criou mais 14 ministérios, o perfil das pessoas é bastante diferente dos nossos, pode fazer a comparação aí no Brasil. E começa-se a entender o porquê, queria que infelizmente fosse o contrário, não há como este governo dar certo.”

“Infelizmente não há como colaborar com o governo que está lá, tendo em conta as pessoas que estão nos Ministérios”, lamentou o antigo chefe de Estado.

Bolsonaro disse que não vai “participar em muita coisa”, já que não tem mandato ou imunidade, mas mostrou estar disponível para ser “conselheiro para aqueles que assim o desejarem”. “Algumas coisas são uma página virada para nós e vamo-nos preparar para as próximas eleições”, transmitiu à CNN Brasil, garantindo que pretende viajar pelo Brasil, “uma, duas saídas por mês, no máximo três” para conversar “com simpatizantes”.

Avião Harry Potter GOL

Segundo a CNN Brasil, Bolsonaro embarcou num avião da companhia brasileira GOL, decorado com motivos da saga Harry Potter

O ex-Presidente saiu do Brasil antes da tomada de posse de Lula da Silva. “Resolvi sair de lá, não passar a faixa e deixar que o Lula assumisse o governo sem ninguém a fazer oposição.”

[Ouça aqui A História do Dia sobre o regresso de Bolsonaro ao Brasil ]

Líder do PT ironiza chegada de Bolsonaro: “Está a voltando, genocida?”

Antes mesmo de Jair Bolsonaro ter aterrado no Brasil, a líder do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, publicou um vídeo na sua conta pessoal do Twitter, onde deixa várias críticas ao governo do ex-Presidente.

“Está voltando, genocida? Aqui vai meu recado pro fujão que tem muito a explicar e responder. Os tempos agora são outros e o povo voltou a ter um governo sério, responsável e que cuida das pessoas”, escreveu a líder do PT, que também é o partido de Lula da Silva.

“Está voltando, Bolsonaro? Venha ver como o Brasil melhorou na sua ausência”, disparou Gleisi Hoffmann, elencando depois várias medidas económicas e sociais tomadas pelo governo de Lula da Silva e que “melhoraram”, na sua ótica, o país. “O Brasil recuperou a democracia e superou o golpe que você impôs”, atirou ainda a líder partidária.

Numa referência aos processos judiciais que envolvem o ex-chefe de Estado, Gleisi Hoffmann disse que Bolsonaro deve aproveitar a ida para o Brasil para “explicar à Justiça os crimes de que é acusado”. “O que não voltará, jamais, é o tempo sombrio” em que, refere a líder do PT, o ex-Presidente “infelicitou o país”.

Mais tarde, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, comentou que a receção de Jair Bolsonaro “flopou”, isto é, foi um fracasso. “Quem quiser tentar criar o ambiente de conflito que existia no governo anterior vai se dar mal. Vai flopar, como flopou a recepção do ex-Presidente, que voltou depois de ter fugido do país”, disse.

Lula diz estar a trabalhar no Palácio de Alvorada

Por sua vez, Lula da Silva recorreu à sua conta pessoal do Twitter esta quinta-feira para dizer que vai trabalhar no “Palácio da Alvorada” e para dar mais detalhes sobre as reuniões que vai ter. Na publicação, o Presidente brasileiro não faz qualquer referência à chegada de Bolsonaro ao Brasil.