Até determinando momento, imperaram não só as relações institucionais mas também essa secreta vontade de não hostilizar aquele que poderá ser um dos maiores parceiros numa eventual Superliga Europeia. Depois, perante aquilo que se foi sabendo sobre o caso Negreira que abala o futebol espanhol (e a própria UEFA), a reação camuflada começou a aparecer através do canal do clube com uma série de peças sobre árbitros do passado (que é como quem diz, dos tempos em que o vice do Comité de Arbitragem estava em funções) que foram deitando mais achas para fogueira. Por fim, a guerra aberta, fosse através da intenção de constituir enquanto possível lesado como assistente do processo, fosse na sequência das críticas à arbitragem do último clássico a contar para a Liga. Se ainda fosse preciso apimentar um Barcelona-Real, isso estava feito.

Faturas, dossiês, boleias e mariscadas: o caso Negreira, o escândalo que pode deixar o Barcelona fora da Europa

“Martínez Munuera será o árbitro e González González vai estar no VAR… Que coincidência! Ambos não trazem memórias felizes ao Real Madrid. E se há um nome que semeia o pânico em Barcelona é o de González González no VAR… Analisámos cada uma das decisões polémicas em que González González deveria ter intervido da sala VAR… Está tudo ok, José Luís González González”, apontou a Real Madrid TV, recordando também num lance em que o árbitro não considerou um penálti óbvio com o Villarreal. Aquele clube conhecido pela educação e cavalheirismo como gosta de marcar presença no desporto caíra também naqueles subterfúgios de quando em vez usados para entrar no jogo sem bola. E as reações depois da última derrota em Camp Nou também não tinham sido muito diferentes, pelo contrário.

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Nem o autogolo os travou: o MotoBarça venceu o Real Madrid em Camp Nou e está cada vez mais perto do título

“Espero um jogo muito duro, muito complicado, afinal é o Real Madrid. É uma equipa vencedora, é sempre difícil jogar contra eles. Têm Benzema, Vinicius, Rodrygo, Valverde… Têm jogadores top na equipa e vamos tentar controlar da melhor forma o jogo e os posicionamentos. Eles podem ganhar a qualquer equipa, tal como nós, mas apesar da vantagem que conseguimos no primeiro jogo [1-0] diria que o favorito ainda é o Real Madrid, têm muito mais experiência do que nós”, dizia Xavi quase a tentar esvaziar a pressão em torno da equipa. “Acredito que será difícil, o Barcelona ganhou nos últimos três jogos, mas agora está na altura de ser a nossa vez de ganhar. Não devemos tentar marcar de forma rápida mas sim controlar o jogo com e sem bola com calma. Basta um golo e fica empatado”, recordou Ancelotti, assumindo essa “pressão”.

A primeira parte mostrou que ambos os técnicos tinham razão. Ao longo de 45 minutos o Barça teve mais posse, fez mais remates e criou melhores ocasiões mas foi o Real a adiantar-se no marcador em cima do intervalo num contra-ataque mortífero conduzido por Vinícius que rematou, viu Koundé cortar mas sem desviar a bola da rota da baliza e Benzema a empurrar para a certificação final já para lá da linha (45′). Antes, entre o minuto dez em que todo o Camp Nou cantou o nome de Lionel Messi na esperança de que o antigo herói possa voltar a “casa” no final da temporada, Raphinha, Gavi e Lewandowski estiveram perto de marcar contra uma equipa merengue a apostar nas transições que também criou perigo num lance em que Rodrygo chegou atrasado. De resto, imperaram a tensão e os nervos, tantos que Xavi viu um cartão amarelo logo aos 15′ e Vinícius e Gavi foram também admoestados depois de terem ficado pegados numa jogada.

Não sendo aquele salto em pirueta ou o Siiiiiiiii que se costuma ouvir, Vinícius celebrou à Cristiano Ronaldo como recordaram os jornais espanhóis, a apontar e “limpar” o símbolo de campeão mundial na camisola como tinha acontecido com o português em Córdoba depois de ser expulso e assobiado. Mas a conta não ia ficar por aí, num início de segunda parte de “loucos”: Modric assistiu Benzema para um remate rasteiro à entrada da área que fez o 2-0 (50′), Courtois evitou quase de seguida o golo do Barcelona por Baldé (51′). Um pouco depois Ronald Araújo também teria a sua chance de relançar a partida mas seria o Real a adiantar-se mais na eliminatória no seguimento de uma grande penalidade cometida por Kessié e marcada por Benzema (58′). Os catalães estavam de vez perdidos no jogo e a conta não ficaria por aí, com o Bola de Ouro a fechar o hat-trick (80′) que o coloca como terceiro melhor marcador do Real em clássicos com os mesmos 15 golos de Raúl e apenas a três de Di Stéfano e Cristiano Ronaldo. Estava igualada a diferença da maior goleada em Camp Nou (5-1 em 1963) que terminou com adeptos advertidos por atirarem objetos para o relvado…