O ABC chamava-lhe “um jogo mentiroso”, a realidade dos factos mostrava que era o jogo de toda a verdade. Porquê? Porque mesmo sem qualquer outro objetivo na temporada a não ser a Liga dos Campeões, mesmo a jogar num dos principais palcos europeus como é o Santiago Bernabéu, mesmo apresentando um sistema de jogo que permite disfarçar o facto óbvio de haver muito dinheiro gasto sem colmatar os desequilíbrios no plantel e mesmo sem ter grande pressão por ser uma eliminatória onde não partia como favorito, o Chelsea não foi além de mais uma exibição banal que podia ter mudado se uma das oportunidades fosse concretizada mas que terminou com a derrota por 2-0. Agora, era a última hipótese. E com o clube a “ferro e fogo”.

Mais um Karimbo europeu de Benzema Button (a crónica do Real Madrid-Chelsea)

Depois de mais uma derrota em casa na Premier League com o Brighton, que teve vários adeptos a criticar um dos novos proprietários Todd Boehly durante a partida, o empresário norte-americano desceu até ao balneário e fez ver também a sua desilusão com os resultados da equipa. Segundo a imprensa britânica, o sucessor de Abramovich terá utilizado a expressão “o atual momento desta equipa é uma vergonha”, assinalando também os mais de 600 milhões de euros investidos nas duas últimas janelas de mercado. Depois, quase que a rematar, Boehly tentou dar alento aos jogadores para a redenção na receção ao campeão europeu em título e grande favorito a passar às meias. Frank Lampard mostrou-se “confortável” com isso.

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“Quando um proprietário investe muito na equipa e quer ajudá-la a melhorar é sua prerrogativa ter a opinião que entende. Não acho que seja mau em termos de identidade do clube e onde queremos chegar, não tenho problema nenhum com isso. Se um dono quiser entrar e quiser ser positivo, quiser falar com os jogadores, acho que está no seu absoluto direito de fazer isso. Este é um cenário regular nos dias modernos e, repito, não tenho qualquer problema. Na verdade, julgo que o proprietário mostra paixão e essa é a primeira coisa que gosto”, comentou o histórico técnico, ex-jogador, capitão e campeão dos blues, numa opinião que seria também partilhada mais tarde pelo homólogo do Real (e ex-treinador), Carlo Ancelotti.

O choque até pareceu ter algum impacto na equipa entre as alterações introduzidas por Lampard (João Félix e Sterling iniciaram desta vez o jogo no banco). Mais: em determinados momentos fulcrais da partida, como no início da primeira e da segunda parte ou numa oportunidade flagrante nos descontos antes do intervalo, o Chelsea ficou muito perto de reduzir a desvantagem na eliminatória que poderia reabrir as contas. Contudo tinha do outro lado a pior equipa para esse tipo de “jogo”. Os espanhóis ameaçaram uma primeira vez, uma segunda vez e não perdoaram à terceira, “matando” por completo as esperanças dos londrinos. E mesmo com o rei emérito Juan Carlos nas bancadas do Stamford Bridge, aproveitando a presença em Londres para estar com amigos (mas o encontro com o rei Carlos ainda não foi confirmado), a principal figura Real do encontro foi Rodrygo, o Raio que ameaçou com uma bola poste e acabou a bisar na segunda parte.

Quase por uma questão de brio e orgulho ferido, o Chelsea entrou como equipa grande, a fazer aquilo que poucas vezes tem feito na presente temporada e a dominar por completo um jogo que só tinha Real Madrid do meio-campo para trás. Kanté, numa segunda bola após remate prensado de Havertz na área, teve cedo a primeira grande oportunidade da partida (11′) numa fase em que os londrinos acreditavam num resultado que não fosse o do costume. Depois, apareceu aquela versão de melhor equipa na Europa: Rodrygo atirou ao poste (19′), Vinícius Júnior viu Kepa tirar-lhe o golo de ângulo reduzido (28′) antes de falhar o toque final na área após cruzamento de Modric e Benzema também ameaçou o golito da ordem. Na melhor fase, a equipa espanhola não marcou. E quase sofreu nos descontos, com Courtois a encher a baliza tendo Cucurella isolado na área aos segundo poste na jogada que poderia ter mudado o rumo dos acontecimentos (45+1′).

Ancelotti troxou Rüdiger por David Alaba ao intervalo e o Real Madrid, tendo ou não ligação causa-efeito, abanou de novo em termos defensivos a abrir entre um lance onde uma recarga de Kanté na área após uma insistência de Gallagher só não deu golo porque bateu num defesa contrário quando seguia para a baliza, uma falta de Eder Militão que motivou muitos protestos a pedir o segundo amarelo para o central brasileiro e um remate de Havertz que saiu fraco e à figura. Ter este desfile de chances sem marcar frente aos espanhóis é quase “chamar” o azar e Vinícius fez essa vontade pouco depois, assistindo Rodrygo para numa transição que o próprio tinha iniciado à direita e foi concluir ao meio (58′). O conjunto inglês acusou muito a desvantagem, todas as substituições não tiveram efeito prático e o encontro terminaria com mais um golo dos espanhóis, desta vez com uma jogada fantástica de Valverde antes de assistir Rodrygo para o bis (80′).