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O final de “Succession”, episódio 7: uma festa com vista para o colapso

Este artigo tem mais de 6 meses

Na véspera das eleições, do negócio e do funeral do patriarca, cobras e escorpiões falam de dinheiro e mexericos. Do alto do cinismo e da megalomania, avista-se o fim do império.

Em “Succession”, há dias para as personagens. Há dias de Kendall, dias de Roman, havia dias de Logan, e houve até dias de Greg – este é um dia de Tom e Shiv
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Em “Succession”, há dias para as personagens. Há dias de Kendall, dias de Roman, havia dias de Logan, e houve até dias de Greg – este é um dia de Tom e Shiv

Em “Succession”, há dias para as personagens. Há dias de Kendall, dias de Roman, havia dias de Logan, e houve até dias de Greg – este é um dia de Tom e Shiv

[ALERTA SPOILER: este artigo contém detalhes sobre o sétimo episódio da quarta temporada de “Succession”. Se não os quer conhecer, não leia]

Estamos na véspera das eleições e a Waystar vai dar a primeira festa pré-eleitoral depois da morte do patriarca, uma coisa informal para umas dezenas de líderes de opinião, que uns querem aproveitar para ainda tentar inquinar o negócio da aquisição pela GoJo e outros para tirar o melhor partido dele. As festas, os eventos em que pode reunir todas as personagens para melhor exibir o cinismo dos seus jogos duplos, são um recurso habitual em “Succession” e, nesta altura, já não há nada de muito novo que possam trazer. Nunca mais acontecem as eleições, nunca mais se faz o negócio e ainda nem sequer se enterrou o pai – literal e metaforicamente – porque, ou muito nos enganamos, ou vão acontecer todos de uma vez, porque significam, essencialmente, o mesmo: Logan Roy vai a enterrar e, com ele, a América e os Media tradicionais.

Mas quem fica vivo? Essa é cada vez mais a questão. Quem ficará de pé sobre todos aqueles cadáveres quando, finalmente, se pararem de contar espingardas e alguém der ordem de fogo? Agora que até a GoJo, a tecnológica escandinava que vive das assinaturas mensais de 9,99 dólares de milhões de pessoas pelo mundo e que, ainda agora, era o futuro, também parece ter os seus esqueletos no armário do servidor. Agora que, fica claro, o Spotify não é melhor nem mais puro do que a Fox.

Na tragédia clássica, seguimos a jornada do herói num desafio aos deuses que está condenado a perder; aqui, seguimos os velhos deuses em direção a um haraquíri com cada vez menos hipóteses de nobreza. No tempo de Logan, havia cinismo e megalomania, mas o verniz mínimo obrigatório mantinha as coisas a funcionar; agora, a cada dia de incerteza que passa, a ambição e o pânico escalaram acima de qualquer hipótese de paz. São feridos, inaptos, gente partida e com defeitos de fabrico nas suas engrenagens humanas, que projeta as sombras disformes pelas paredes e as confunde com grandeza.

A ex-mulher de Kendall procura-o para lhe dizer que a filha está a ser perseguida na escola por causa da postura racista da ATN; Kendall grita-lhe que é bom pai, que ela não faz ideia do que ele está a fazer, a trabalhar em seis continentes, tudo pela família – e para salvar o mundo. Roman procura podres a Matsson, fica refém de Gerri e tenta convencer Connor a desistir da candidatura à Presidência gritando-lhe, em mais um notável exemplo de diplomacia económica, que todos, na sala, o acham uma anedota. Mas Matsson não é melhor e, depois de uma pequena falha ter inflacionado os seus números de subscritores para o dobro do que realmente tem na Índia, pede a Shiv que resolva: faça outra Índia. Tão simples. E mesmo Greg, o “senhor sobrinho”, “último elo na cadeia genética”, sintetiza quem verdadeiramente é quando explica, com orgulho, que os Recursos Humanos o consideram a pessoa ideal para liderar os despedimentos por “parecer que se importa, mas realmente não se importar”.

Mas, em “Succession”, há dias para as personagens. Há dias de Kendall, dias de Roman, havia dias de Logan, e houve até dias de Greg – este é um dia de Shiv e Tom. O casal desavindo em suposta reaproximação abre as portas do seu modesto triplex sobre a cidade para receber a festa e vai do céu ao inferno num só episódio. Porque é que nos importamos com dois seres desumanos em que ninguém acredita? Porque algo de muito bom acontece sempre no texto das suas discussões. Algo de muito bom que toca todas as relações falhadas que conhecemos. Algo que os dois atores – Sarah Snook e Matthew Macfadyen – entregam, uma e outra vez, com extraordinária verdade – que é uma desumanidade por destruição, uma maldade feita da amargura em que alguém, antes, antes de tudo, nos batizou. Dois cínicos disparando na esperança de ainda terem um cartucho de fé algures, nalguma coisa, mas serem já só duas irreparáveis estátuas de cinza, antes mesmo de terem chegado a conseguir arder.

E a festa passa, com Kendall e Roman a dividirem-se no babysitting a “broncos liberais” e “nazis” e a tentarem ainda cheirar na água o sangue de uma oportunidade de contra-ataque. Tudo é apenas “money & gossip”. “Dinheiro e mexericos” é tudo o que há e tudo em que consiste o encontro dos supostos 40 líderes de opinião em véspera de eleições na América. No melhor diálogo do dia, Matsson olha as luzes de Nova Iorque pela vidraça e trata-a como nunca Nova Iorque foi tratada na cidade ou no cinema: “Cidade de merda… Vista daqui, dá para ver como é o segundo mundo. Comparada com Singapura ou Seul… Isto é uma cidade de lego.” “Mas ainda mandamos nesta merda toda”, diz Ken, sem perder o sorriso. “Não acontece nada em Nova Iorque que não aconteça noutro lado”. “Boa frase. Põe isso numa caneca.”

Entretanto, do lado de lá do vidro, põe-se a luz sobre a amarga discussão entre dois filhos da puta – com vista para o fim do império.

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