A organização da Jornada Mundial da Juventude esclareceu esta terça-feira que o selo comemorativo apresentado pelo Vaticano visa apenas promover o encontro de jovens com o Papa, afastando leituras que o identifiquem com o Estado Novo ou o colonialismo português.

O Vaticano apresentou na segunda-feira um selo comemorativo da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023, inspirado no Padrão dos Descobrimentos, com a imagem do Papa Francisco no lugar do Infante D. Henrique e com jovens no lugar dos navegadores.

Após a divulgação da imagem do selo, foram vários comentários negativos publicados nas redes sociais, os quais remetem para o imaginário gráfico do Secretariado de Propaganda Nacional do Estado Novo e o colonialismo.

O desenho “tem todos os símbolos do fascismo, do colonialismo e do pior catolicismo”, escreveu um utilizador na rede social Twitter.

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“Bem pensado, sim senhor. A expansão da fé e do império pois então bate tudo certo”, escreveu a jornalista Fernanda Câncio no Twitter.

O desenho do selo, lançado conjuntamente com um carimbo comemorativo, com o logótipo da JMJ, é da autoria de Stefano Morri.

“Da mesma forma como o timoneiro D. Henrique lidera a tripulação na descoberta do novo mundo, assim também no selo do Vaticano o Papa Francisco conduz os jovens e a Igreja”, explica uma nota publicada no site de notícias do Vaticano, Vatican News.

Rosa Pedroso Lima, porta-voz da Fundação JMJ Lisboa 2023, disse à agência Lusa que “este é um selo de promoção da JMJ elaborado pelos serviços de filatelia e numismática do Vaticano”.

“O selo foi feito por um ilustrador italiano, Stefano Morri, que tem trabalhado muitas vezes com os serviços de numismática do Vaticano” e cuja leitura para a ilustração do selo é “uma imagem do Papa num monumento de Lisboa, simbolizando, numa espécie de alegoria, a barca de S. Pedro e o Papa conduzindo os jovens e a Igreja para uma nova época”, explicou a porta-voz da Fundação.

JMJ: Padrão dos Descobrimentos inspira selo do Vaticano comemorativo da Jornada

Para Rosa Pedroso Lima, “haverá sempre várias leituras sobre o que quer que seja numa obra de arte, seja ela um selo ou uma ilustração. Esta é a leitura que o Vaticano faz e o objetivo é o de promover a Jornada Mundial da Juventude”.

“Outras leituras e outros objetivos são abusivos em relação às intenções expressas pelo Vaticano”, acrescentou, sublinhando que o mundo sabe que “o Papa Francisco é um Papa empenhado no respeito, na quebra de muros, no alargamento de fronteiras, na comunicação de povos, culturas e religiões, e essa é a mensagem fundamental do Papa. Sempre foi, continuará a ser e será na Jornada Mundial da Juventude”.

Segundo a responsável, “outras leituras são sempre possíveis, mas esta é a leitura que a Santa Sé faz e a mensagem que o Papa transmite”, sendo o pontífice “insuspeito de promover qualquer ideia de segregação, de diferença”, mas antes “de união entre os povos, raças, credos e culturas”.

Bispo Carlos Azevedo classifica de “péssimo mau gosto” selo do Vaticano sobre Jornada

Por seu turno, o bispo português Carlos Moreira Azevedo, delegado do Comité Pontifício para as Ciências Históricas, considerou esta terça-feira de “péssimo mau gosto” a imagem do selo.

Para o bispo português, “certamente o Papa Francisco não se identifica com esta imagem nacionalista” que, na sua ótica, “contraria a fraternidade universal”.

Para Carlos Azevedo, que exerce as suas funções no Vaticano, o selo “recorre a uma obra muito conotada” e “evoca epicamente uma realidade pastoral que não corresponde a esse espírito”.

O selo em causa tem um valor facial de 3,10 euros e uma tiragem de 45 mil unidades.

Já o carimbo comemorativo, em formato circular, que representa o logótipo oficial da JMJ de Lisboa, será usado pela agência dos correios “Arco delle Campane” (na Praça São Pedro) esta terça-feira e quarta-feira.

Lisboa foi a cidade escolhida pelo Papa Francisco para a próxima edição da Jornada Mundial da Juventude, que vai decorrer entre os dias 01 e 06 de agosto deste ano, com as principais cerimónias a terem lugar no Parque Tejo, a norte do Parque das Nações, na margem ribeirinha do Tejo, em terrenos dos concelhos de Lisboa e Loures.

As JMJ nasceram por iniciativa do Papa João Paulo II, após o sucesso do encontro promovido em 1985, em Roma, no Ano Internacional da Juventude.

A primeira edição aconteceu em 1986, em Roma, tendo já passado por Buenos Aires (1987), Santiago de Compostela (1989), Czestochowa (1991), Denver (1993), Manila (1995), Paris (1997), Roma (2000), Toronto (2002), Colónia (2005), Sidney (2008), Madrid (2011), Rio de Janeiro (2013), Cracóvia (2016) e Panamá (2019).

A edição deste ano, que será encerrada pelo Papa, esteve inicialmente prevista para 2022, mas foi adiada devido à pandemia de Covid-19.

O Papa Francisco foi a primeira pessoa a inscrever-se na JMJLisboa2023, no dia 23 de outubro de 2022, no Vaticano, após a celebração do Angelus. Este gesto marcou a abertura mundial das inscrições para o encontro mundial de jovens com o Papa.

“Obrigado por serem acolhedores.” Reunido com Moedas, Papa Francisco agradece a lisboetas preparação para a JMJ

Até ao momento já iniciaram o processo de inscrição mais de 600 mil jovens.

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