Sempre que surge um novo modelo eléctrico a bateria, um dos pormenores técnicos a que os consumidores dão mais valor é o tempo necessário para recarregar a bateria para continuar a viagem. Há cinco anos isso ainda implicava estar horas ligado ao posto de carga, mas hoje já há veículos que precisam apenas de alguns minutos, isto porque deixaram de recarregar com potências de 22 kW e passaram a aceitar 150, 250 e até 350 kW. Daí que se sucedam os anúncios de eléctricos capazes de recarregar de 0% a 80% da capacidade em apenas 22 minutos, aproximando-se do tempo necessário para atestar de gasolina. Mas este género de anúncios, que na maioria das vezes são falsos ou excessivamente optimistas, chocaram finalmente de frente com as autoridades britânicas que, para já, impediram dois construtores de anunciar este tipo de performance no Reino Unido.

São vários os motivos que levam a diferenças, por vezes consideráveis, entre a rapidez anunciada dos carregamentos e a realidade da operação. E os próprios fabricantes avançam com algumas explicações para o facto, revelando que a rapidez depende do estado de carga, da temperatura exterior e da bateria. E, claro está, o sucesso depende igualmente da disponibilidade de um posto de carga que seja capaz de fornecer a energia com a potência máxima que o veículo consegue aceitar.

A autoridade decidida a terminar com a propaganda criativa é a Advertising Standards Agency (ASA), ou seja, a entidade britânica que regula os anúncios publicitários. E os primeiros dois construtores acusados de prometer aos seus clientes mais do que os seus veículos poderiam cumprir, defraudando potencialmente os clientes, foram a Toyota e a Hyundai. A ASA não coloca em causa a capacidade do construtor japonês recarregar a 150 kW, nem que a Hyundai consiga atingir 350 kW. Limita-se, sim, a questionar quantos carregadores com essas potências estão disponíveis no Reino Unido e onde se localizam.

Segundo a imprensa inglesa, há apenas 419 carregadores a 150 kW, distribuídos por apenas 134 localidades, enquanto a 350 kW a oferta é ainda mais diminuta. Ao que parece, existem apenas 37 no Reino Unido, com um deles a estar localizado na Irlanda e seis na Escócia. Entende a ASA que, devido à má cobertura do país em postos de carga com este nível de potência, deixando de fora a esmagadora maioria dos britânicos, não é correcto anunciar velocidades de carga em carregadores que não existem. A Toyota e Hyundai ficam para já impedidas de anunciar a rapidez de carregamento dos seus eléctricos no Reino Unido e na Irlanda, mas estas duas marcas serão apenas as primeiras, uma vez que, potencialmente, todos os construtores enfermam do mesmo mal e vão ter de enfrentar o escrutínio da ASA.

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