A polícia no Quénia diz que recebeu ordens para não reportar as mortes ocorridas durante as manifestações, com uma ONG a relatar a morte de seis pessoas na quarta-feira, subindo o total para 27.

De acordo com a agência norte-americana de notícias Associated Press, que cita um polícia que falou sob condição de anonimato, foi dito aos agentes para não reportarem as mortes durante as manifestações que a oposição convocou nas últimas semanas, mas não é claro quem deu a ordem.

Na semana passada, a polícia confirmou a morte de seis manifestantes, mas esta semana não foi noticiada qualquer morte decorrente dos protestos que a oposição tem convocado todas as sextas-feiras para protestar contra a subida do custo de vida, e que esta semana decorrem desde quarta-feira.

A polícia do Quénia há muito que é acusada pelos grupos defensores dos direitos humanos de usar força excessiva, mas existe uma preocupação cada vez maior relativamente às táticas usadas pelo Presidente William Ruto, eleito no ano passado.

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Entre os exemplos que as organizações não governamentais apontam está o caso de um polícia que se fez passar por jornalista, e a utilização de civis armados e vestidos à civil, durante as manifestações, para reprimir os protestantes, o que redunda, frequentemente, na morte dos manifestantes.

“Uma coisa que nos preocupa muito é a crescente interferência na polícia, com os polícias a receberem ordens fora da cadeia de comando policial, e começam a atuar no interesse do poder executivo e não no interesse público”, disse o diretor executivo da ONG Unidade Médico-Legal Independente, Peter Kiama.

De acordo com esta ONG, a polícia relatou 27 mortes nas últimas três manifestações deste ano, a que se juntou mais seis mortos na quarta-feira.

Eleito em agosto de 2022 com a promessa de apoiar os mais desfavorecidos, o Presidente William Ruto tem vindo a enfrentar a oposição crescente da coligação Azimio, reunida em torno de Raila Odinga – um antigo primeiro-ministro que obteve 48,85% dos votos nas presidenciais e ainda não reconhece os resultados eleitorais – nomeadamente desde a promulgação, no início de julho, de uma lei que introduz novos impostos que aumentam as dificuldades quotidianas dos quenianos.

O governo tem sido criticado pela repressão brutal levada a cabo pela polícia, incluindo o uso de munições reais contra manifestantes.

Numa declaração conjunta, na terça-feira, treze países ocidentais, incluindo os Estados Unidos e o Reino Unido, manifestaram preocupação com os “elevados níveis de violência” durante as últimas manifestações, instando as várias partes a “resolverem as diferenças pacificamente”.

O grupo de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch instou, também na terça-feira, os líderes políticos a deixarem de rotular os manifestantes de “terroristas” e a respeitarem o direito a protestos pacíficos. O grupo criticou a polícia por ter usado a força e balas reais para confrontar os manifestantes.

A Azimio convocou três dias de manifestações antigovernamentais, de quarta a sexta-feira, no âmbito de um movimento de protesto lançado em março, marcado por vários atos de vandalismo, pilhagens e violência, que causaram a morte até agora de, pelo menos, vinte pessoas.

A oposição considerou que o primeiro dia de protestos foi “extremamente bem-sucedido” e pediu aos quenianos para saírem esta quinta-feira às ruas “ainda mais fortes”.