De um lado, uma Suécia que está a tentar voltar aos bons velhos tempos. Do outro, uns Estados Unidos que parecem estar a despedir-se dos bons velhos tempos. O quarto jogo dos oitavos de final do Mundial feminino trazia um encontro entre duas candidatas a uma presença na final — mas também entre duas seleções a navegar em direções aparentemente opostas.

A Suécia chegou às meias-finais do Campeonato do Mundo na última edição, em 2019, e também em 2011. Pelo meio, não passou dos oitavos de final em 2015 e até da fase de grupos em 2007, deixando longe o tempo em que perdeu a final de 2003 para a Alemanha. Este ano, porém, a maré parece estar a mudar: entre os nove pontos em nove possíveis na fase de grupos, os três golos de Amanda Ilestedt e a qualidade de Fridolina Rolfö.

Já os Estados Unidos foram campeões mundiais em 2015 e 2019, para além de terem perdido a final de 2011 para o Japão, e longe vai o tempo em que caíram nas meias-finais em 2003 e 2007. Este ano, porém, a maré parece estar a mudar: entre os parcos cinco pontos conquistados na fase de grupos, o empate sofrido contra Portugal e as prestações apagadas das estrelas Sophia Smith ou Trinity Rodman.

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As melhores oportunidades da primeira parte pertenceram aos Estados Unidos, com Rodman a rematar para defesa de Mušović e Lindsey Horan a cabecear à trave. A Suécia apresentava-se algo presa, mais preocupada com as tarefas defensivas e apostando apenas nas transições rápidas para procurar ferir o adversário. A lógica manteve-se no segundo tempo, com Mušović a evitar o golo de Horan com uma enorme defesa e Rodman a manter-se a grande desequilibradora norte-americana, mas o golo não apareceu: e o jogo seguiu mesmo para prolongamento.

Nada mudou na meia-hora extra, com os Estados Unidos sempre muito perdulários e a Suécia a assentar na exibição monstruosa de Mušović, e a eliminatória seguiu mesmo para a decisão por grandes penalidades. Aí, Nathalie Björn e Megan Rapinoe falharam de forma consecutiva, Blomqvist permitiu a defesa de Alyssa Naeher, Sophia Smith atirou por cima e Kelley O’Hara acertou no poste, com Lina Hurtig a converter o penálti decisivo para as suecas.

Os Estados Unidos estão fora do Campeonato do Mundo, naquela que é desde já a pior participação de sempre das norte-americanas na competição. A Suécia segue em frente, cruzando com o Japão nos quartos de final e candidatando-se a uma presença na final. O futebol feminino está a mudar, está a melhorar e está a levantar voo: e as melhores de sempre foram as primeiras a sofrer com isso.

A pérola

Como não podia deixar de ser, independentemente do que aconteceu ao longo dos 120 minutos, Lina Hurtig. A jogadora do Arsenal converteu a grande penalidade que eliminou os Estados Unidos e tornou-se a heroína da Suécia, beneficiando da intervenção do VAR depois de Alyssa Naeher ainda ter tentado resgatar a bola após o ressalto da defesa inicial.

O joker

De forma clara e apesar de não ter sido decisiva nas grandes penalidades, a guarda-redes Zećira Mušović foi um dos grandes destaques do jogo. A jogadora do Chelsea segurou o empate em diversas ocasiões, tanto na enorme oportunidade de Lindsey Horan como num cabeceamento de Alex Morgan já perto dos descontos, e mostrou o porquê de ser um dos pilares de uma Suécia que sonha agora ir bem longe neste Campeonato do Mundo.

A sentença

Com a vitória perante os Estados Unidos e o consequente apuramento, a Suécia já sabe que vai defrontar o Japão nos quartos de final — ou seja, um campeão do mundo e uma das seleções que tem estado em melhor plano neste Mundial. Em cenário de eliminação japonesa, as suecas também já sabem que nas meias-finais encontram o vencedor do jogo entre Espanha e Países Baixos.

A mentira

Os Estados Unidos já não são a seleção mais poderosa do mundo. Depois das exibições brilhantes em 2015 e 2019 e do estatuto quase permanente de grandes favoritas à vitória final, as norte-americanas não conseguiram esconder a evidência de um fim de geração que vai obrigar ao início de outra. É preciso renovar e refrescar a tempo do próximo Campeonato do Mundo, em 2027 — onde já não estarão Alex Morgan, Megan Rapinoe, Alyssa Naeher ou Crystal Dunn.