Luis Rubiales recusa-se a deixar o cargo de presidente da Real Federação Espanhola de Futebol. O dirigente diz que está a ser alvo de uma campanha de “falso feminismo” após o beijo que deu à jogadora Jenni Hermoso nos festejos do Mundial.

Rubiales considera que o ato foi “espontâneo, mútuo, eufórico e consentido”, demarcando-se das acusações de agressão sexual de que tem sido alvo. “Aqui não se trata de fazer justiça, isto é um assassinato social. Trata-se de me matarem”, afirmou perante a Assembleia Geral Extraordinária do organismo que tutela o futebol espanhol.

O beijo que Jenni não gostou tornou-se um caso em Espanha mas Rubiales ainda “gozou” com a situação no balneário

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“Quem vê o vídeo entende que diante de 80.000 pessoas, de milhões de telespetadores, diante de toda as pessoas que estavam ali, entre elas, parte da minha família, as minhas filhas, o desejo que podia ter nesse beijo era exatamente o mesmo que podia ter dando um beijo a uma das minhas filhas, nem mais nem menos. Não há posição de domínio, isso toda a gente compreende também, ainda que se esteja a vender outra coisa nos media“, continuou.

Rubiales recordou o momento em que a Espanha alcançou o primeiro Mundial feminino da sua história, chegando “ao ponto de perder o controlo” devido à emoção. Embora tenha começado com um pedido de desculpas pelo beijo, o presidente da Real Federação Espanhola de Futebol revelou conversas que teve com Jenni Hermoso após a internacional espanhola falhar um penálti na final, contando que a jogadora o deixou a sorrir e lhe bateu carinhosamente nas costas. “Que pensam as mulheres que foram agredidas sexualmente?”, questionou o dirigente, confirmando que vai agir judicialmente contra quem o acusou de agressões sexuais.

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“A igualdade não é diferenciar quando há uma opinião entre o que diz o homem e o que diz a mulher. Há que diferenciar a verdade e a mentira. Estou a dizer a verdade, hoje, aqui”, referiu antes de se dirigir às filhas. “Filhas, aprendam, é uma lição de vida. Vocês sim, são feministas de verdade e não o falso feminismo que há por aí. O falso feminismo não procura a justiça, não procura a verdade, não lhe importa as pessoas”.

O anúncio de que não se ia demitir por ser responsável pela “melhor gestão do futebol espanhol” foi feito aos gritos perante os aplausos da maioria dos presentes. Na primeira fila do auditório estiveram o selecionador feminino, Jorge Vilda, muito criticado ao longo da competição que a Espanha venceu, e também o selecionador masculino, Luis de la Fuente.

Antes do Mundial 2023 que se disputou na Austrália e na Nova Zelândia, Jorge Vilda teve o apoio da federação após 15 jogadoras pedirem a demissão do técnico. “Jorge, passámos por muito durante este ano. Quiseram-te fazer a ti, o que me estão a tentar fazer a mim”, disse Rubiales. “Sofremos muito, mas estivemos juntos”.

O presidente da Real Federação Espanhola de Futebol agradeceu a Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, o apoio, recordando a candidatura à organização do Mundial 2030 que os dois países integram.

De recordar que a FIFA abriu uma investigação a Rubiales esta quinta-feira. Por outro lado, o governo espanhol por via do Conselho Superior do Desporto a acionar os mecanismo necessários para a destituição imediata de Rubiales, o que pode acontecer ainda esta sexta-feira.

As internacionais espanholas foram reagindo nas redes sociais. A duas vezes Bola de Ouro, Alexia Putellas, considerou “inaceitável” o discurso de Rubiales. “Acabou-se. Contigo companheira”, escreveu na rede social X, antigo Twitter, dirigindo a Jenni Hermoso.Borja Iglesias, internacional pela seleção espanhola masculina, escreveu na mesma plataforma que não volta à masculina “até que as coisas mudem e este tipo de atos não fique impune”.