Foi um misto de emoções. Primeiro quase frustração, depois alguma incredulidade, a seguir uma leve tristeza que se transformou numa alegria contagiada pela festa que se fazia no Sea Forest Waterway (que recebia as provas de canoagem nos Jogos Olímpicos de Tóquio) e acabou com o enorme orgulho de sacar da chucha da filha bebé do bolso para comemorar a medalha de bronze. Fernando Pimenta trabalhou para o ouro, achou que no mínimo conseguia a prata, acabou a defender o bronze após ser superado pelos húngaros Balint Kopasz e Ádam Varga. Só mesmo naquela competição, a maior em todo o planeta, consegue viver ao mesmo tempo tantas emoções em simultâneo. Agora, o canoísta queria mais. E Paris-2024 começava aqui.

Já tinha a prata, foi bronze mas acabou a bater com a pagaia por querer mais. E é isso que faz de Pimenta um super atleta de ouro

Apesar de ter voltado a conseguir a medalha de bronze em K1 500 nos Mundiais, numa distância que teve as meias-finais de manhã entre um enorme temporal e a final à tarde com horas entretanto alteradas, e de ter ainda a final de K1 5.000 de domingo para ajustar contas com a sorte de 2022 depois de ter partido o leme do caiaque com todas as condições para somar mais um pódio, o foco do atleta de Ponte de Lima passava pela prova de K1 1.000 que não só atribuía as habituais medalhas como dava acessos diretos aos Jogos do próximo ano aos seis primeiros lugares. E as coisas tinham começado da melhor forma na qualificação.

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Quando é por medalhas, contem sempre com ele: Pimenta conquista bronze no K1 500 dos Mundiais

Depois de ter quase “passeado” para ganhar a respetiva eliminatória de acesso às meias-finais, Fernando Pimenta dominou por completo a sua corrida e qualificou-se sem problemas para o momento decisivo com mais um triunfo. Agora, chegava onde já tinha experimentado quase tudo: foi campeão mundial em K1 1.000 nos Mundiais de 2018 (realizado em Montemor-o-Velho) e 2021, foi vice-campeão mundial em K1 1.000 nos Mundiais de 2017 e do ano passado, foi medalha de bronze em K1 1.000 nos Mundiais de 2015 e 2019. Agora, até por tudo o que se passou na fase de preparação, até uma não medalha podia saber a “vitória”.

Mais uma final, mais um passo para os Jogos: Fernando Pimenta apurado para a decisão do K1 1.000 dos Mundiais

“Sem dúvida que para mim é sempre um prazer e um orgulho representar Portugal e por isso tento desdobrar-me no maior número de provas possível. Acabei em terceiro numa prova super renhida. Como é óbvio, gostava de mais. Cheguei a liderar… mas é uma distância que ainda não domino muito bem, apesar dos excelentes resultados e indicadores. Agora ou dar o meu melhor, tudo por tudo no K1 1.000. Uma vez mais matar algumas células, fazer algum dano muscular, envenenar o meu corpo com ácido láctico. O objetivo é divertir-me a competição toda, como aconteceu nos 500 metros, apesar de sofrer. Competir é um prazer, tal como representar Portugal e os portugueses”, comentara após a final do K1 500 esta sexta-feira.

O resumo da história era simples. Apesar de uma virose e logo de seguida da Covid-19 que condicionaram a preparação, Fernando Pimenta recuperou bem nas semanas antes dos Campeonatos do Mundo e dizia estar num dos melhores momentos com dois objetivos: 1) acabar entre os seis primeiros para chegar pela quarta vez aos Jogos Olímpicos e lutar por uma inédita terceira medalha, algo que nunca nenhum português algum dia alcançou; 2) terminar entre os três primeiros para alcançar a 17.ª medalha em Mundiais de velocidade (num total de quase 130 em provas internacionais de um currículo que aumenta de ano para ano). No final, o atleta português voltou a não falhar e superou até os melhores objetivos para a final A.

Numa prova onde voltou a sair na frente mais forte do que a concorrência mas baixou ao segundo lugar aos 500 metros, o canoísta de Ponte de Lima voltou a “esticar” a prova e não deu hipóteses no último “esticão”, terminando mesmo com aquele que foi o terceiro título mundial em K1 1.000 do currículo (é um dos três atletas com esse registo a partir de agora). O português acabou com o tempo de 3.27,712, seguido do húngaro Ádam Varga (3.28,141) e do alemão Jakob Thordsen (3.28,303), o que provocou uma grande festa em Duisburgo. Garantiram ainda qualificação olímpica o australiano Thomas Green (3.29,572), o checo Josef Dostal (3.30,022) e o belga Artuur Peters (3.31, 244), à frente do espanhol Francisco Cubelos (3.31,993).

Fernando Pimenta acusa Marcelo de desigualdade de tratamento. Marcelo reage e elogia “mais um feito extraordinário” do canoísta