A onda de protestos e greves em zonas controladas pelo regime de Bashar al-Assad, no sul da Síria, entrou já na segunda semana e não parece estar a perder força. Pelo contrário, são cada vez mais os manifestantes que pedem a saída do presidente sírio, avança o The Guardian, e que protestam contra a inflação e a deterioração da situação económica.

Os protestos obrigaram já as autoridades a cortarem estradas na cidade de Suwayda, cerca de 120 quilómetros a sul de Damasco (a capital da Síria). A província de Suwayda permanece sob controlo do governo desde o início da guerra civil síria, em 2011, e é a zona onde vivem grande parte da minoria drusa do país. Várias centenas de pessoas reuniram-se na praça central segurando bandeiras drusas e entoando cânticos como “Viva a Síria e abaixo Bashar al-Assad”.

Segundo a agência Associated Press, os manifestantes anti-regime queimaram bandeiras do governo e chegaram mesmo a invadir vários escritórios do partido Baath (do presidente Bashar al-Assad) na cidade de Melh, no leste da província de Suwayda, expulsando quem lá se encontrava.

Um manifestante justificou a invasão dos escritórios com o papel do partido do presidente sírio na supressão de protestos anteriores, motivados pelo aumento nos serviços básicos, como água e eletricidade.“[Bashar al-Assad] tem duas opções: ou sai com sua dignidade, ou está destinado a morrer“, disse um dos manifestantes.

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Mais de 50 pessoas já foram detidas nos protestos

Em Daraa, uma cidade do sul do país junto à fronteira com a Jordânia — muitas vezes referida como o berço da revolta de 2011, mas agora sob controlo do governo –, pelo menos 57 pessoas foram presas nos protestos, de acordo com a Rede Síria de Direitos Humanos, com sede na Grã-Bretanha. No entanto, ao contrário do que aconteceu há mais de uma década, agora as forças leais a Assad não estão a usar força letal para reprimir os protestos.

Inicialmente estimulados pelo aumento do custo de vida — nomeadamente pelo aumento nos preços dos combustíveis — e pela raiva contra corrupção e má gestão, os protestos rapidamente se transformaram em manifestações antigovernamentais, que se estendem agora a todo o sul da Síria.

Em Suwayda, algumas seguravam cartazes que mostravam uma resolução do conselho de segurança da ONU que exigia um governo de transição na Síria. Outros pediam a libertação de milhares de pessoas que desapareceram, muitas levadas pelas forças de segurança sírias desde o início da guerra civil, há já 12 anos.

“Esses protestos despertam esperança nos sírios. As pessoas não querem reformas. Este regime não é capaz de fornecer às pessoas nenhuma de suas necessidades”, disse Rayan Marouf, o chefe do Suwayda24, um grupo de ativistas da cidade. Os sírios têm cada vez mais dificuldade para fazer face às mais básicas despesas e situação agravou-se com o aumento da inflação e a queda drástica do valor da moeda nacional, a libra síria. Como resposta à perda de poder de compra, o governo continua a aumentar os salários mas os sucessivos aumentos só têm agravado a inflação.

“As pessoas chegaram a um ponto em que não podem mais suportar a situação”, disse Marouf, garantindo que “tudo se está a desmoronar”.

Estes protestos constituem um revés para o regime sírio (que sempre defendeu as minorias do país contra o regime islâmico), sendo que a contestação parece estar já a alastrar-se a outras cidades, embora com um grau de intensidade menor. Em Damasco, Latakia e Tartus e outros redutos pró-Assad, algumas pessoas mostram também o seu descontentamento mas de forma mais discreta, escrevendo mensagens de apoio aos seus compatriotas e partilhando-as nas redes sociais.