Se dúvidas ainda existissem sobre o equilíbrio do grupo D do Campeonato da Europa numa altura em que as decisões mais importantes estavam a chegar, o encontro entre França e Roménia mostrou bem como aquilo que pode ser uma certeza muda num instante. Em condições normais, os gauleses fechariam o primeiro lugar do grupo apenas com vitórias e com a pontuação máxima mas o encontro menos conseguido desta fase final fez com que a equipa campeã olímpica sofresse mesmo a primeira derrota, o que acabou por dispensar um ponto que ninguém esperava para os romenos. Com isso, não só superou os sete pontos de Portugal no segundo lugar como ficou com os mesmos nove da França, que ainda tem um jogo a menos com a Grécia. Se a qualificação estava próxima, agora só um triunfo no último encontro com a Turquia “fechava” essa posição.

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“Ainda nada está decidido. Conseguimos fazer um bom jogo ao longo do tempo, ou seja, estivemos focados em todos os processos que era preciso. Isto numa atmosfera adversa, pois defrontámos a equipa da casa, que estava confiante e foi sempre apoiada. Agora vamos descansar o máximo possível para estarmos no nosso melhor frente à Turquia. Sabemos que a vitória praticamente garante o nosso objetivo”, tinha destacado João José após a vitória de Portugal frente ao anfitrião Israel. “Sabíamos que precisávamos desta vitória e estamos felizes por termos vencido em três sets, principalmente tendo em conta que neste grupo é um pouco complicado porque todos têm hipóteses”, acrescentou Alexandre Ferreira, o melhor pontuador.

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Depois da desilusão frente à Grécia, com uma derrota por 3-2 depois de uma vantagem inicial de 2-0, não poderia ter havido melhor resposta com um triunfo por claros 3-0 diante de Israel como já tinha acontecido antes com a Roménia. E aquilo que sobrou foi sobretudo a ideia de que Portugal, quando está bem a nível físico, só é inferior à França neste grupo (sendo que ainda conseguiu tirar um set aos campeões olímpicos). Era isso os comandados de João José iriam tentar voltar a mostrar frente à Turquia, com outro registo histórico que poderia estar na calha na derradeira partida nacional nesta fase de grupos em Telavive.

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Olhando para aquilo que foram as anteriores seis prestações de Portugal em fases finais do Europeu, só por duas vezes a Seleção conseguiu ganhar dois jogos na mesma edição: em 1948, com Países Baixos e Bélgica, e em 2021, com Bélgica e Grécia (em 1951, 2005 e 2019 venceu um, em 2011 saiu sem triunfos). Agora, depois dos sucessos com Roménia e Israel pela margem máxima, surgia essa hipótese de igualar esse registo dos oitavos como na última edição (derrota com os Países Baixos na “negra”) superando o melhor registo a nível de vitórias já depois de ter alcançado o primeiro triunfo no arranque da prova. E foi mesmo isso que acabou por acontecer, com Portugal a superar um terceiro set onde tudo correu mal para dar a volta, ganhar na “negra”, garantir a qualificação direta para os oitavos e terminar num inédito segundo lugar do grupo, com os mesmos pontos do que os romenos mas com vantagem na diferença entre os sets ganhos e perdidos.

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O jogo que ganhou ainda mais importância depois da partida anterior entre França e Roménia começou com grande equilíbrio mas com a Turquia a ter depois vantagens de um/dois pontos aproveitando uma fase em que o ataque de segunda linha e a receção nacionais deixaram de funcionar tão bem, sendo que quando a formação portuguesa ficou também sem o ataque de zona 4 por Alexandre Ferreira ficou mesmo a perder por três (16-13). O principal atacante de Portugal não ficaria sem resposta, com dois serviços (um direto) que deixaram tudo de novo empatado entre as intervenções decisivas de Filip Cveticanin e Miguel Sinfrónio no bloco e um grande final na rotação que colocou o capitão no serviço que fechou o set inicial em 26-24.

O parcial seguinte teve outro recomeço equilibrado até entrar em ação Adis Lagumdzija, um oposto que fez estragos no ataque entre um número de erros de Portugal muito superior ao início da partida. Com isso, e mesmo com as entradas de Miguel Tavares Rodrigues e Bruno Cunha, a Turquia chegou aos três pontos de vantagem (7-4), aumentou depois para cinco (10-5) e chegou mesmo aos sete (14-7). O set parecia mais do que decidido mas a rotação de Alexandre Ferreira no serviço ainda conseguiu uma inesperada aproximação que ganhou a maior forma quando a desvantagem ficou apenas por um (19-18) mas a Turquia estabilizou novamente o seu jogo ofensivo e fechou o segundo set em 25-22, deixando tudo em aberto no jogo.

O terceiro set poderia ser decisivo para a partida e foi a Turquia que começou melhor, logo com três pontos de vantagem a abrir dando seguimento ao melhor final de parcial e aproveitando a queda abrupta no serviço com vários erros diretos. Mesmo depois da paragem técnica, a vantagem turca ia aumentando até ao 12-5, altura em que João José voltou a parar o jogo com um discurso bem mais agressivo. “Há alguém que não queira estar lá dentro? Há alguém que não queira estar ali dentro? Eu tenho ali mais gente para jogar… Aqui não há segundas oportunidades, depois vão para casa chorar! Não há segundas oportunidades”, gritou. A equipa pareceu ouvir, fez um parcial de 3-0 e levou à paragem por parte da Turquia, que “refreou” a tentativa de recuperação nacional e partiu depois para uma exibição bem mais segura a fechar com 25-15.

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Algo teria de mudar, aquele algo que nem as paragens técnicas conseguiam encontrar. Em caso de derrota por 3-1, Portugal corria até o risco de ser afastado mediante aquilo que se passasse depois com Turquia e Israel na última ronda. André Marques foi lançado na partida, Alexandre Ferreira passou para oposto e essas trocas, a par de uma outra mentalidade mais confiante, trouxeram um jogo mais equilibrado, com Portugal a chegar ao 9-7 antes de um parcial de três pontos seguidos dos turcos que voltou a empatar tudo. Pareciam estar todas as condições reunidas para ser um set tão equilibrado como o primeiro decidido nas vantagens e foi isso mesmo que aconteceu, com a Seleção a salvar dois set points antes de ganhar por 28-26.

André Marques, ou Andrezinho como João José chamou num desconto de tempo, foi determinante para o sucesso, não só pela consistência que deu à receção mas também pelos dois últimos pontos com um remate de zona 4 com bloco triplo à frente e um bloco direto. Agora, qualquer que fosse o desfecho da partida, a questão do apuramento estava “fechada”, com possibilidade ainda de chegar a um lugar mais cimeiro que trouxesse um cruzamento com menor dificuldade teórica do que em 2021 (Países Baixos). E depois do início a perder por 3-2, a Seleção virou para 5-3, chegou ao 7-4 e conseguiu mesmo fechar o jogo com 15-13.