Começou como um rumor na comunicação social espanhola, tornou-se um dado adquirido nos últimos dias, foi confirmado no último dia de competição: no próximo ano, a Vuelta vai começar em Lisboa e ter três etapas em Portugal, repetindo uma colaboração ibérica que já tinha acontecido em 1997 e com o objetivo de promover a Expo 98.

A notícia foi anunciada este domingo, dia da última etapa da Vuelta, através de um vídeo protagonizado por Carlos Moedas. “É um sinal do desenvolvimento da relação entre Lisboa e Madrid, um sinal de que podemos fazer muito mais juntos. Espero-vos aqui, na bonita cidade de Lisboa, muito grato e muito contente por ter a Vuelta 2024 aqui em Lisboa. São bem-vindos”, disse o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, vincando a importância que esta união tem também no fortalecimento da candidatura ibérica (em conjunto com Marrocos e Ucrânia) à organização do Mundial 2030.

Volta a Espanha em bicicleta de 2024 com saída de Lisboa e três etapas em Portugal

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Assim, a Vuelta do próximo ano vai arrancar junto à Torre de Belém e o percurso da primeira etapa vai ligar Lisboa a Oeiras. Segue-se uma segunda etapa entre Cascais e Ourém, com Portugal a despedir-se da prova com uma terceira etapa que vai ligar a Lousã a Castelo Branco. A envergadura do projeto, como é natural, é relevante: a Vuelta tem uma caravana de três mil pessoas, entre ciclistas, técnicos, assistentes, publicitários e jornalistas, a transmissão televisiva da TVE chega a 190 países e as etapas envolvem mais de mil jornalistas acreditados e 298 meios de comunicação de 28 nacionalidades diferentes.

Tudo isso, porém, é só no próximo ano. A Vuelta 2023 terminava este domingo com os 101,5 quilómetros que ligavam o Hipódromo da Zarzuela a Madrid e já tinha um vencedor previamente anunciado: Sepp Kuss só precisava de terminar a etapa deste domingo para carimbar a conquista da prova espanhola, tendo cruzado a meta abraçado aos colegas Primoz Roglic e Jonas Vingegaard, que cumpriram a promessa de não o atacar e não colocar em causa a garantia do primeiro lugar do norte-americano.

Fez dos deuses seus fiéis para conseguir ganhar a Vuelta: Sepp Kuss só tem de chegar a Madrid para atingir a glória

Em resumo, a Jumbo-Visma tinha este domingo a consagração do terceiro ciclista diferente na terceira Grande Volta do ano depois de Roglic ter conquistado o Giro e de Vingegaard ter vencido o Tour. Prestes a tornar-se o primeiro norte-americano a ganhar uma das três principais provas de ciclismo no espaço de 10 anos — e apenas o segundo a ganhar a Vuelta, depois de Chris Horner em 2013 –, Sepp Kuss não conseguiu fugir à sombra do escândalo de Lance Armstrong e foi questionado sobre a utilização de doping na modalidade.

“Para mim, pessoalmente, fazer batota ou usar doping está completamente fora de questão. Porque nem sequer é desporto, se assim for. Parte do desporto é perder. Claro que quero ganhar sempre, mas se fizer alguma coisa que é proibida, se fizer batota, então é porque tenho medo de perder. E acho que essa é uma das coisas mais importantes no desporto, aceitar que às vezes não somos bons o suficiente. É o que é”, explicou o atleta de 29 anos natural do Colorado.

Este domingo, Nico Denz (Bora–Hansgrohe), Lennard Kämna (Bora–Hansgrohe) e o português Rui Costa (Intermarché) foram os primeiros a atacar a cerca de 40 quilómetros do fim, com Remco Evenepoel a estimular a reação do grupo perseguidor para depressa se juntar à cabeça da corrida em conjunto com Filippo Ganna (Ineos) e Kaden Groves (Alpecin–Deceuninck). Mais atrás, era João Almeida quem puxava pela UAE Emirates para tentar encurtar a distância entre o pelotão e a liderança da etapa.

O cenário mais improvável durou até ao fim, com o pelotão a ver-se incapaz de apanhar os fugitivos até à reta da meta e a vitória na última etapa da Vuelta a ficar praticamente restrita aos seis da frente: aí, no sprint final, Kaden Groves foi o mais forte e carimbou o derradeiro triunfo na prova espanhola, seguido de Filippo Ganna e Nico Denz e com Rui Costa a terminar em 6.º. O australiano ganhou a terceira etapa da conta pessoal na Vuelta 2023, ficando com a camisola da classificação por pontos, com Juan Ayuso a ficar com a camisola da juventude, Remco Evenepoel a ser o líder da montanha e a Jumbo-Visma a vencer naturalmente a classificação por equipas.

No dia da consagração de Sepp Kuss, ficou também confirmado o quinto top 10 de João Almeida em Grandes Voltas, com o ciclista português a terminar a Vuelta em 9.º. Atrás do norte-americano, nos restantes 10 primeiros, ficaram Jonas Vingegaard, Primoz Roglic, Juan Ayuso, Mikel Landa, Enric Mas, Aleksandr Vlasov, Cian Uijtdebroeks, João Almeida e Santiago Buitrago Sánchez.