A Liga dos Campeões da época passada deixou o Benfica a sonhar. Os encarnados não perderam nenhum jogo da fase de grupos e ficaram no primeiro lugar de um conjunto que incluía PSG e Juventus, eliminaram o Club Brugge de forma natural nos oitavos de final e só esbarraram num Inter Milão que acabou por chegar à final. Ainda assim, ficou bem clara uma ideia: com o contexto certo, a sorte certa e a equipa certa, a aparente quimera de ver uma equipa portuguesa na principal final europeia não é assim tão longínqua.

Ainda assim, esta quarta-feira era tempo de começar de novo. Incluído num complexo Grupo D que também tem Real Sociedad e Inter Milão, o Benfica arrancava a fase de grupos da Liga dos Campeões perante um Estádio da Luz esgotado e contra o RB Salzburgo, o interessante decacampeão austríaco que Roger Schmidt já treinou. Os encarnados surgiam na partida vindos de quatro vitórias consecutivas, a um ponto da liderança do Campeonato e com o objetivo claro de chegar aos oitavos de final da Champions — apesar das cautelas naturais do treinador alemão.

Ficha de jogo

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Benfica-RB Salzburgo, 0-2

Fase de grupos da Liga dos Campeões

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Halil Umut Meler (Turquia)

Benfica: Trubin, Alexander Bah, António Silva, Otamendi, Fredrik Aursnes, João Neves, Kökçü (Chiquinho, 72′), Di María (David Neres, 72′), Rafa (Tiago Gouveia, 83′), João Mário (Morato, 16′), Musa (Tengstedt (83′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, Leo Kokubo, Arthur Cabral, Jurásek, João Victor, Tomás Araújo, Florentino

Treinador: Roger Schmidt

RB Salzburgo: Schlager, Amar Dedić, Samson Baidoo (Oumar Solet, 71′), Pavlovic (Kamil Piatkowski, 89′), Terzić, Mads Bidstrup, Lucas Gourna-Douath, Oscar Gloukh (Petar Ratkov, 71′), Maurits Kjærgaard, Konaté (Sékou Koïta, 59′), Šimić (Luka Sučić, 71′)

Suplentes não utilizados: Nico Mantl, Nicolás Capaldo, Dijon Kameri, Andreas Ulmer, Amankwah Forson, Leandro Morgalla, Nene Dorgeles

Treinador: Gerhard Struber

Golos: Šimić (gp, 15′), Oscar Gloukh (51′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Trubin (2′), Lucas Gourna-Douath (21′), a Rafa (54′), a Samson Baidoo (58′), a Šimić (67′), a Otamendi (69′); cartão vermelho direto a António Silva (13′)

“É um grande desafio jogar uma fase de grupos da Liga dos Campeões, porque enfrentamos equipas que tiveram sucesso na última época. Todas as equipas têm muita qualidade e a minha experiência diz-me que temos de estar focados em cada jogo. Estamos completamente focados no RB Salzburgo e nos 90 ou 100 minutos que temos de disputar. Só temos seis jogos para mostrar que merecemos ser uma das duas equipas apuradas para a fase a eliminar e não podemos cometer erros. Temos de estar prontos para cada jogo e é isso que queremos fazer. Na temporada passada, a nossa abordagem passou por estarmos totalmente concentrados e foi assim que conseguimos vencer vários jogos e ter sucesso. Vamos tentar fazer o mesmo esta época”, disse Schmidt na antevisão da partida, confirmando também que já podia contar com o recuperado Jurásek.

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Neste contexto, o alemão não mudava absolutamente nada face ao onze inicial que venceu o Vizela no fim de semana: Trubin mantinha a titularidade na baliza, Aursnes era o lateral-esquerdo apesar de Jurásek já estar disponível, João Neves aparecia no meio-campo e Florentino era suplente e Musa era a referência ofensiva em detrimento de Arthur Cabral, com David Neres a ficar no banco. Do outro lado, Gerhard Struber lançava Šimić e Konaté no ataque — mas o destaque ia para Oscar Gloukh, iluminado médio israelita de 19 anos.

Na Luz, o quarto de hora inicial foi absolutamente louco. Logo ao segundo minuto, sem que o Benfica tivesse quase tocado na bola, Trubin atingiu Pavlovic com o punho na sequência de um pontapé de canto e cometeu grande penalidade. Konaté atirou demasiado por cima e não conseguiu abrir o marcador (3′) e os encarnados respiraram de alívio — mas só porque ainda não sabiam o aí vinha.

Os austríacos conquistaram um ascendente claro durante os primeiros 10 minutos, atuando quase por inteiro no meio-campo adversário e causando muitas dificuldades tanto a Bah como a Aursnes, que não conseguiam limitar as investidas dos médios mais exteriores e as combinações com Gloukh no espaço interior. O Benfica reagiu por intermédio de João Mário, que atirou forte contra um adversário na grande área (10′) e acertou no poste com um remate rasteiro logo depois (12′), no lance que antecedeu o momento que acabaria por marcar todo o jogo.

Num contra-ataque, Šimić apareceu na esquerda e atraiu Trubin para depois rematar à baliza. O pontapé ressaltou em Otamendi e foi em direção à baliza deserta, com António Silva a acabar por desviar a bola com a mão depois de esta tocar na barra, na tentativa de evitar o golo. O central português foi imediatamente expulso com cartão vermelho direto e Šimić, na conversão do segundo penálti da noite, não cometeu o erro de Konaté e colocou o RB Salzburgo a vencer na Luz (15′).

Roger Schmidt reagiu de imediato e trocou João Mário por Morato, para voltar a equilibrar o eixo defensivo. O RB Salzburgo ainda procurou capitalizar a vaga de fundo, mas depressa baixou as linhas e quebrou o ritmo vertiginoso dos instantes iniciais — até porque o Benfica teve a capacidade de crescer no jogo e não se render à inferioridade numérica e à desvantagem. Di María foi o grande inconformado dos encarnados, somando um livre direto que Schlager defendeu (25′), um remate por cima (27′) e um canto que ia sendo olímpico (32′), e a Luz não se cansava de apoiar a equipa.

Musa teve uma grande oportunidade para empatar já perto do intervalo, ao aparecer na cara de Schlager para conceder a defesa do guarda-redes (39′), mas o Benfica foi mesmo para o intervalo a perder com o RB Salzburgo na Luz e com menos um jogador. Ainda assim, a reação dos encarnados a partir dos primeiros 20 minutos permitia antever que era perfeitamente possível chegar ao golo e discutir o resultado sem espaço para capitulações.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e o Benfica regressou do balneário na mesma toada com que se tinha despedido da primeira parte, com as linhas subidas e presença no meio-campo adversário com o objetivo de chegar perto da baliza de Schlager. Musa teve uma enorme oportunidade para empatar logo nos primeiros minutos da segunda parte, ao rematar cruzado na grande área para o guarda-redes austríaco defender (50′), e a história repetiu-se: no lance seguinte, o RB Salzburgo não perdoou.

Os austríacos lançaram o contra-ataque e Aursnes, num erro pouco habitual, saiu muito à queima numa tentativa de cobertura aos centrais. Šimić isolou-se, atraiu Trubin e na cara do guarda-redes ofereceu o golo a Gloukh, que só precisou de encostar para a baliza deserta para aumentar a vantagem (51′). Gerhard Struber decidiu mexer pouco depois, trocando Konaté por Koïta, e a lógica do jogo mantinha-se: o Benfica tinha mais bola e rematava à baliza, com Musa a forçar Schlager a outra defesa (60′), e o RB Salzburgo ficava perto do golo sempre que lançava o contra-ataque e aproveitava os (vários) erros defensivos encarnados.

Roger Schmidt decidiu mexer pouco depois de Schlager evitar o golo de João Neves, que apareceu a cabecear na sequência de um canto (66′), e lançou Chiquinho e David Neres. O Benfica ia tentando permanecer ligado ao jogo, sem assumir a derrota e procurando um golo que pudesse relançar o resultado, mas o RB Salzburgo parecia ter as ocorrências controladas e ia contando com uma grande exibição do seu guarda-redes para segurar a vantagem.

Já pouco aconteceu até ao fim, à exceção das entradas de Tiago Gouveia e de Tengstedt, e o Benfica começou mesmo a fase de grupos da Liga dos Campeões com uma derrota com o RB Salzburgo na Luz. Num dia em que os austríacos provaram que vieram à Lisboa à procura da vitória, os encarnados precisavam de ter tido mais calma, critério e clarividência nos minutos iniciais que ditaram o jogo. Daí para a frente, houve Schlager.