Reduzir a pegada carbónica era o principal objetivo da missão do cientista Gianluca Grimalda quando embarcou numa viagem de 39 mil quilómetros sem recurso a aviões. No entanto, após passar seis meses na Papua-Nova Guiné, país na Oceânia, saiu de lá com uma nova missão: não ser um giaman.

Segundo o cientista, a palavra significa “mentiroso” e “fraude”, na língua tok pisin, e é assim que os “homens caucasianos” são chamados nas redondezas. Após meio ano a estudar os impactos das alterações climáticas e da globalização nas comunidades, Grimalda decidiu que não queria ser apelidado dessa forma. Já o seu patrão não pensa da mesma forma.

Na última sexta-feira, o investigador foi contactado pelo presidente do Instituto de Investigação em Kiel, que o obrigou a voar imediatamente de volta para a Alemanha. Se não o fizesse até segunda-feira, seria despedido, noticia o The Guardian.

Grimalda, que acabou recentemente a sua pesquisa na ilha Bougainville, do arquipélago das Ilhas Salomão, não correu o risco de se tornar um giaman e recusou a ordem do seu superior. O cientista pretende percorrer os 22 mil quilómetros da viagem de regresso através de navios de carga, comboios e autocarros. Tal pode demorar cerca de dois meses, salvando assim 3,6 toneladas de emissões de carbono.

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“Já escrevi ao presidente do instituto a dizer que não vou estar lá hoje e que vou voltar de barco ou por terra”, disse, na segunda-feira, acrescentando que ainda esta semana apanhará um navio.

Estou disposto a pagar este preço, se isso significar uma maior sensibilização do público e dos líderes da sociedade para a situação desesperada em que nos encontramos”, garantiu ao jornal Common Dreams.

“As viagens aéreas são a forma mais rápida de não só queimar combustíveis fósseis, como de caminharmos para uma catástrofe”, apontou, dizendo que esta é “a atividade que gasta mais orçamento carbónico”.

Apesar de estar convicto das suas motivações, não deixa de ficar desiludido com a atitude do presidente do instituto, assim como dos restantes funcionários. “Agora, já estou bem, mas os últimos dias têm sido bastante traumatizantes, porque não esperava este tipo de comportamento das pessoas do meu instituto. Mas acho que fiz a escolha certa“.

Ainda que desapontado, compreende que a sua viagem de investigação foi mais longa do que o esperado. Era suposto o cientista ter acabado a pesquisa em julho, estando de volta à Alemanha a 10 de setembro. No entanto, sofreu diversos percalços. Gianluca Grimalda diz ter sido “raptado por bandidos armados com machetes”, e ter tido “artigos de investigação roubados”. Já para não falar das “dificuldades em comunicar com as pessoas”.

Grimalda esteve seis meses na Papua-Nova Guiné — tendo partilhado, ao longo desse tempo, diversas fotografias do que encontrava na rede social X (antigo Twitter)com a finalidade de ajudar a perceber os efeitos do aquecimento global numa das comunidades mais afetada, Desde aldeias inteiras que foram obrigadas a mudar-se para o interior, por causa da subida das marés, a pessoas que tiveram de plantar mangais para conter as águas, o cientista ouviu os principais problemas dos residentes da ilha. E, no final, prometeu que ia cortar nas suas emissões carbónicas durante a viagem de regresso à Alemanha.