A Temporada Música em S. Roque começa na próxima sexta-feira, em Lisboa, estando prevista a estreia de uma peça de Samuel Gapp, e a primeira audição moderna das “Missas Românticas” de Francisco Xavier Migone e Santos Pinto.
Os concertos desta 35.ª Temporada, sob a coordenação artística de Leonor Azêdo, realizam-se nas igrejas de S. Roque e do Convento de S. Pedro de Alcântara, no Bairro Alto, em Lisboa.
Até 10 de novembro, estão previstos dez concertos sob o mote “Um diálogo entre a história e a palavra”.
O primeiro, na próxima sexta-feira, às 21h00, é protagonizado pelo Coro Gulbenkian, sob a direção da maestrina Inês Tavares Lopes. Realiza-se na igreja de S. Roque e evoca os 400 anos da morte do compositor renascentista inglês William Byrd. O programa, além de obras de Byrd, como “Laudibus in Sanctis”, inclui peças de Heinrich Schültz, Paul Smith e John Sheppard.
O cartaz da Temporada inclui, entre outros, os ensembles Bonne Corde, MPMP, Ludovice e o consort Sete Lágrimas que apresenta, no dia 4 de novembro, em S. Pedro de Alcântara, o projeto “Loa”, baseado na obra de André Dias de Escobar, nomeadamente as “Laudas e cantigas spirituaes, e orações contemplativas” (1493).
Na próxima segunda-feira, às 16h30, no Convento de S. Pedro de Alcântara, o Ensemble Bonne Corde, dirigido por Diana Vinagre (violoncelo barroco) e constituído ainda por Ana Quintans (soprano), Marta Vicente (contrabaixo barroco) e Fernando Miguel Jalôto (órgão) apresenta “Tenebrae/Lamentações para a Semana Santa”, do flamengo Joseph-Hector Fiocco, resultado de uma investigação de Diana Vinagre na Biblioteca do Real Conservatório de Antuérpia, na Bélgica.
A 20 de outubro, o concerto em S. Roque é protagonizado pelo Ensemble MPMP que estreia a obra “Tão fundo o íntimo rumor”, de Samuel Gapp, que venceu o Prémio Musa 2022.
Esta edição do prémio foi promovida pelo Movimento Patrimonial da Música Portuguesa (MPMP), visou uma composição contemporânea de tradição erudita ocidental e estimular e promover a língua portuguesa como veículo expressivo.
O programa assinala ainda a estreia moderna das “Missas Românticas”, de Francisco Xavier Migone e Santos Pinto.
Neste contexto, a obra funcionará como ponte entre as duas missas programadas e partirá da experiência das características acústicas e circunstanciais do espaço de São Roque”, explicou à agência Lusa a organização.
O compositor Samuel Gapp iniciou aos oito anos a sua formação musical, na classe de piano. Prosseguiu os estudos na Escola Superior de Música de Lisboa, e na Hochschule für Musik und Tanz (escola superior de Música e Dança) de Colónia, na Alemanha.
Dia 22, às 16h30, o Ensemble D. João V, na igreja do Convento de S. Pedro de Alcântara, apresenta o programa “Joias do Barroco”, composto por obras dos compositores portugueses Carlos Seixas, Pedro António Avondano e do italiano Antonio Vivaldi.
O ensemble tem uma formação irregular, de acordo com o programa que interpreta. Neste concerto apresenta-se com os músicos Sandra Medeiros (soprano), Terra Shimizu e Miguel Simões (violino), Álvaro Pinto (viola d’arco), Duncan Fox (violone) e Cândida Matos (cravo).
No dia 27 de outubro, às 21h00, em S. Roque, o concerto pelos Avres Serva, celebra os 700 anos sobre a primeira referência à cátedra de Música da Universidade de Coimbra, interpretando algumas das obras de José dos Santos Maurício e de Francisco de Paula e Azevedo. O concerto intitula-se “A música em Coimbra no início do século XIX”.
No dia 29, às 16h30, em S. Pedro de Alcântara, o Grupo Vocal Olissipo apresenta “In Tenebris”, cujo programa inclui o Requiem, de Estêvão de Brito, e peças de outros compositores com actividade entre finais do século XVI e princípios do século XVII, como Duarte Lobo, João Gomes, Filipe de Magalhães e Francisco Martins.
Os Olissipo são constituído pelo barítono Armando Possante, que também dirige, a soprano Cecília Rodrigues, a meio-soprano Lucinda Gerhardt, e o tenor Carlos Monteiro. O grupo foi criado em 1988, e o seu repertório abrange compositores desde a Idade Média à Contemporaneidade.
A Temporada em S. Roque abre o mês de novembro com música sacra, no dia 3, em S. Roque. O programa inclui a Missa de Manuel Cardoso (1566-1650), os cantos compostos para a celebração de Quarta-Feira de Cinzas, do calendário católico, encontrados no Arquivo Histórico da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, e motetes de Filipe de Magalhães (1571-1652) e Vicente Lusitano (1520-1561), pelos Capella Durensis, sob a direção musical do maestro Jonathan Ayerst.
O Ludovice Ensemble, no dia 5 de novembro, às 16h30, em S. Pedro de Alcântara, apresenta o programa “A Música na Igreja de Santo António dos Portugueses em Roma”, constituído por obras de Giovanni Pietro Franchi, um programa que resulta da investigação da musicóloga Cristina Fernandes e do músico Fernando Miguel Jalôto, que apresentam uma palestra antes do início do concerto.
Os solistas da Orquestra Barroca da Casa da Música encerram a Temporada, no dia 10 de novembro, às 21h00, na igreja de S. Roque, com a interpretação de “As Sete Últimas Palavras de Cristo na Cruz”, de Joseph Haydn. O programa inclui a leitura de excertos bíblicos e textos selecionados pelo encenador Nuno Carinhas e lidos pela atriz Sara Carinhas.
Paralelamente à programação musical, realiza-se, de 17 de outubro a 7 de novembro, o ciclo de sessões de apreciação musical “Ouvidos Para a Música”, da responsabilidade do maestro Martim Sousa Tavares, que será “transmitido apenas em formato online e pretende contribuir para uma melhor aproximação do público à música clássica”, afirma a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), que organiza a Temporada com o “objetivo de reforçar” a sua política “de apoiar a cultura musical de matriz portuguesa, divulgando, em simultâneo, o seu património histórico e artístico”.
A 35.ª Temporada de Música em S. Roque é coordenada artisticamente por Leonor Azêdo, mestre em Ciências Musicais, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Leonor Azêdo iniciou o percurso profissional na Orquestra Chinesa de Macau, em 2013, no contexto da sua tese de mestrado “Nós somos o Estado e o Estado é o território”.
Em 2016 regressou a Lisboa para trabalhar como arquivista e produtora da Orquestra Gulbenkian. De igual forma exerceu as funções de arquivo e de produção na Orquestra Estágio Gulbenkian, em 2018 e 2019, sob a direção artística da maestrina Joana Carneiro.
A partir de 2019 desenvolveu a sua atividade profissional como produtora, diretora de cena e assistente de manager de orquestra, tendo colaborado com a Fundação Calouste Gulbenkian e o Centro Cultural de Belém.
Nos últimos anos colaborou de forma regular com a Orquestra XXI e foi responsável pelo setor da Comunicação e Relações Externas da Orquestra Sem Fronteiras (2020-2022).
Mais recentemente exerceu funções na área de produção, de arquivo musical e de artistic management em Portugal.
É arquivista musical do Verbier Festival. Atualmente trabalha como tour manager e coordenadora das audições na Orquestra Jovem Gustav Mahler.
A Temporada Música em S. Roque estima que assistiram aos concertos, “quase sempre esgotados”, cerca de 2.000 pessoas, “excluindo as transmissões online“, disse à Lusa fonte oficial da SCML.