Ao contrário daquilo que tem vindo a acontecer desde 2011, com uma diminuição do número de interrupções voluntárias de gravidez, no ano passado os registos voltaram a aumentar. Segundo o Relatório de Análise dos Registos das Interrupções da Gravidez publicado esta segunda-feira, foram realizadas 15.870 interrupções voluntárias da gravidez, um aumento de 15% face a 2021. Este aumento, refere o relatório da Direção-Geral da Saúde (DGS), está “em linha com a tendência noutros países da União Europeia”.

Uma em cada quatro mulheres que interrompeu voluntariamente a gravidez em 2022, nas primeira 10 semanas, tinha entre os 20 e os 24 anos, revela um relatório da DGS, que aponta um aumento de 15% no número de abortos realizados face a 2021.

Os dados apontam que o grupo etário entre os 20 e os 24 anos foi o que recorreu mais à interrupção voluntária da gravidez (IVG), totalizando 25,3%, seguindo-se o grupo dos 25 aos 29 anos (23,7%) e a dos 30 aos 34 anos (20,1%), correspondendo a cerca de 69% do total.

A percentagem de IVG em mulheres com menos de 20 anos tem vindo a diminuir ligeiramente, baixando de 10,8% em 2013, para 8,6% em 2022.

À semelhança de anos anteriores, a mediana de idade da mulher manteve-se nos 28 anos.

O número de mulheres não portuguesas a interromper a gravidez por opção tem aumentado ligeiramente (28,9% em 2022, 25,9% em 2021 e 24,6% em 2020), em consonância com o aumento de mulheres estrangeiras a residir em Portugal”, refere o documento.

A interrupção da gravidez por opção da mulher nas primeiras 10 semanas manteve-se como principal motivo em todas as idades (96,4%), refere o relatório, adiantando que doença grave ou malformação congénita do nascituro motivou 543 IVG (3,3%).

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A incidência da IVG (por 1.000 nados vivos), por Região de Saúde, de residência da mulher aumentou de 180,3 para 196,9 a nível nacional, traduzindo o aumento verificado em todas as regiões. “Este indicador é utilizado para comparações internacionais, sendo que Portugal tem mantido registos abaixo da média europeia que, em 2019 (últimos dados disponíveis), era de 209,9”, refere a DGS.

A maioria das IVG continuam a realizar-se no Serviço Nacional de Saúde (68,6%), sendo o procedimento mais utilizado nestas unidades o medicamentoso (98,9%) e, no privado, continuou a ser o cirúrgico (95,3%).

Tal como nos anos anteriores, o principal tipo de encaminhamento para as unidades privadas foi feito através dos cuidados de saúde primários. No entanto, em 2022, o encaminhamento dos hospitais públicos para estas unidades aumentou cerca 6,5% em relação a 2021 (23,5%).

A DGS adianta que o tempo médio de espera entre a consulta prévia e a realização da IVG por opção da mulher foi de 6,4 dias (com uma mediana de cinco dias) e a idade gestacional mediana de interrupção manteve-se nas sete semanas.

“O tempo médio de espera para a consulta prévia foi de 2,88 dias, com uma mediana de 1”, refere, ressalvando que a espera em dias até à consulta prévia pode não refletir o tempo real entre o primeiro momento de procura ativa de cuidados por parte da mulher e a referida consulta, uma vez que o registo é efetuado pela unidade que realiza o procedimento e não por aquela que faz o encaminhamento (no caso de não realizar IVG), o que poderá não ser coincidente.

A maioria das mulheres continua a recorrer por iniciativa própria à unidade para realizar a IVG, “o que pode revelar maior autonomia e facilidade no acesso”.

Em 2022, Lisboa e Vale do Tejo continuou a ser a região onde se realizaram mais IVG, mas, apesar de representar 58,9% do total das IVG, verificou-se que 3,1% das mulheres não residiam nesta área.

Esta diferença verificou-se igualmente nas regiões do Norte e do Algarve, mas em menor expressão.

Cerca de 93% das mulheres que realizaram IVG escolheram posteriormente um método contracetivo, sendo que a opção por métodos de longa duração apresentou um decréscimo de cerca de 2,5 pontos percentuais relativamente a 2021, situando-se nos 35,1%.