Olhando para todas as opções que tem para o setor recuado, e atendendo ao facto que Aursnes é aquele tipo de jogador que até no dia em que for à baliza arrisca dar conta do recado, não se pode dizer que o Benfica não estivesse preparado para uma solução que conceba uma linha de três. Há António Silva-Otamendi, há Morato que tem a vantagem de ser esquerdino numa perspetiva de saída com bola, há Tiago Araújo e o próprio João Victor, que não tendo sido ainda opção aprendeu a evoluir nessa ideia tático no empréstimo ao Nantes. No ataque, a realidade não é oposta. A forma de atacar pode ser diferente entre o jogo organizado, as transições, a aposta na mobilidade e o risco na profundidade mas as hipóteses estão todas lá. Ainda assim, percebe-se que a versão 2023/24 do Benfica foi montada para um 4x2x3x1. O plano B, esse, é este 3x4x3.

O novo sistema caído do céu com toque de um Ángel (a crónica do Arouca-Benfica)

Roger Schmidt não quis dar um grande enfoque nessa alteração de sistema, colocando para jogos futuros a possibilidade de continuar a adotar ou não o mesmo esquema, mas deixou algumas pistas que justificaram a aposta ganha em Arouca no regresso aos triunfos na Taça da Liga depois da derrota para a Champions frente à Real Sociedad e do empate para o Campeonato com o Casa Pia. Por um lado, o momento dos jogadores, da parte boa de Morato à parte menos conseguida (neste caso, não falada de forma direta pelo técnico) de Juan Bernat, Jurásek ou os avançados. Por outro, as lesões de elementos importantes, casos de Alexander Bah, David Neres ou Kökçü. Por fim, as próprias características do adversário e do encontro, que podia ser quase decisivo na luta pela vaga na Final Four da Taça da Liga. Contas feitas, a solução resolveu problemas.

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“Fizemos um bom jogo, num campo difícil. Criámos oportunidades e marcámos golos nos momentos certos. Foi um jogo sólido. Linha de três defesas? Foi por razões táticas. Tal como vimos nas últimas semanas, tivemos algumas lesões e jogadores que não estão no seu melhor. Outros estão, como é o caso do Morato. Trazê-lo para o campo foi mais fácil com um sistema de três defesas. Tentámos ser mais flexíveis e ele esteve bem. Estivemos bem na defesa e no final mostrámos que também podemos jogar neste esquema tático”, começou por comentar o treinador germânico na zona de entrevistas rápidas da SportTV. “Se é para manter?  Vamos ver, dependerá sempre da disponibilidade dos jogadores. São os dois possíveis…”.

Em paralelo, Schmidt explicou também a troca das três unidades do ataque logo aos 56′, abordando a opção mais por uma perspetiva de gestão física do que propriamente pelo que pretendia do jogo apesar de haver uma alteração na forma de atacar a baliza com Tiago Gouveia, Arthur Cabral e Tengstedt que procurou mais a profundidade. “O Ángel acaba de vir de uma lesão, o Gonçalo também, o Rafa vem de um jogo muito intenso. Os jogadores só tiveram dois dias de descanso. Este relvado também não é fácil para se jogar e temos bons jogadores no banco, temos de utilizá-los. Assim, os jogadores podem descansar. Ficámos muito desapontados com o resultado em casa com o Casa Pia mas não há muito tempo para olhar para trás porque o próximo jogo está já aí à porta. Os jogadores conseguiram colocar o que queríamos em campo”, salientou.

Por fim, o alemão abordou também alguma contestação que se sentiu na Luz após o empate com o Casa Pia para o Campeonato, quase passando ao lado dessa situação a olhar para aquilo que a equipa pode melhorar nas próximas semanas. “Para ser honesto, ainda não reparei nisso. Acabo por estar em vantagem, se é que assim podemos dizer, por não falar português… Eu não sei o que se está a passar mas sei que ainda estamos numa boa posição no Campeonato, na Taça da Liga e na Taça de Portugal. Sabemos quais são os nossos objetivos e também a pressão que existe no Benfica, um clube que joga sempre para ganhar. Sabemos que um empate faz com que haja algum tipo de ruído à nossa volta, mas no final o importante é mostrarmos que temos atitude e qualidade e os jogadores demonstraram isso hoje”, concluiu.

De referir que, com este triunfo do Benfica frente ao Arouca, o quinto seguido sem sofrer qualquer golo e o 14.º no total de 16 partidas (tem mais um empate e uma derrota), os encarnados necessitam apenas de ter um empate frente ao AVS SAD na última jornada do grupo para garantir a qualificação para a Final Four da Taça da Liga, sendo que no limite até uma derrota por apenas um golo frente ao líder isolado da Segunda Liga permite que os encarnados avancem para a fase seguinte no desempate pela diferença de golos.