Pequim amanheceu esta quinta-feira com as bandeiras a meia haste em vários edifícios e locais de referência, como a Praça Tiananmen, para marcar o dia do funeral do antigo primeiro-ministro Li Keqiang, que morreu na sexta-feira passada.

O protocolo do funeral de Li Keqiang, cujos restos mortais foram transferidos para Pequim no dia da sua morte, é comparável ao adotado para Li Peng, também antigo primeiro-ministro, em 2019.

No sistema hierárquico de formalidades da China, apenas antigos secretários-gerais do Partido Comunista, como Jiang Zemin, que recebeu um funeral de Estado em dezembro do ano passado, têm direito a honras de topo.

Funcionários em empresas estatais ouvidos pela agência Lusa contaram terem sido advertidos pelas chefias para não partilharem mensagens de condolências nas redes sociais.

Também o portal China Digital Times, que acompanha o conteúdo bloqueado pelos censores chineses, divulgou instruções dadas a um órgão de comunicação social chinês pelas autoridades: “As caixas de comentários devem ser bem geridas. Cuidado com comentários ‘excessivamente efusivos'” sobre Li, que competiu com Xi Jinping pelo cargo de secretário-geral do Partido Comunista até 2012.

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Na rede social Weibo, as mensagens de condolências e os comentários em resposta às publicações oficiais sobre a sua morte foram objeto de forte censura logo após o anúncio.

Apesar de as palavras-chave relacionadas com a morte de Li terem registado mais de 11,5 milhões de visualizações nos minutos que se seguiram à notícia, muitos comentários permaneceram invisíveis, após terem sido “filtrados” ou “selecionados”, segundo a plataforma.

No entanto, centenas de pessoas reuniram-se esta quinta-feira perto de uma casa funerária estatal, enquanto o antigo primeiro-ministro Li Keqiang estava a ser sepultado.

Ex-primeiro-ministro chinês Li Keqiang morre de ataque cardíaco

Em frente à casa funerária, a polícia bloqueou o trânsito e disse às pessoas para deixarem o local. A polícia também afastou as pessoas de uma estação de metro perto do cemitério de Babaoshan, onde se realizam funerais de Estado e estão enterrados muitos antigos líderes.

As mortes de antigos dirigentes do país são frequentemente momentos de grande tensão para o aparelho de Estado chinês, com as vigílias e o luto por vários funcionários a servirem no passado de catalisador de descontentamento, cristalizando-se em protestos.

O luto pela morte do político reformista Hu Yaobang, no dia 15 de abril de 1989, tornou-se no gatilho para os protestos estudantis em larga escala que culminaram no massacre da Praça Tiananmen, na noite de 03 para 04 de junho.

“Por vezes, elogiar o caminho não percorrido equivale a comentar sobre o caminho que foi percorrido”, observou Wen-Ti Sung, membro no grupo de reflexão Atlantic Council Global China Hub. “Para alguns, Li Keqiang representava uma atitude relativamente mais relaxada no que respeita às relações entre o Estado e a sociedade. Ele defendia a concessão de mais espaço às forças da sociedade e do mercado”, explicou.

Li Keqiang, que exerceu o cargo de primeiro-ministro entre 2013 e 2023, morreu subitamente, aos 68 anos, de ataque cardíaco, na sexta-feira passada. Ele era um economista fluente em inglês, que pertencia a uma geração de políticos formados numa época de maior abertura da China às ideias liberais ocidentais.

O primeiro-ministro perdeu, no entanto, grande parte da sua influência à medida que o Presidente chinês, Xi Jinping, centralizou o poder e priorizou a segurança do regime comunista, em detrimento do crescimento económico.