A partir do Parlamento ou das respetivas sedes, os líderes partidários reagiram durante a tarde e noite desta terça-feira à demissão de António Costa, aceite pelo Presidente da República. Na quarta-feira, a partir das 11 da manhã, Marcelo Rebelo de Sousa vai receber os partidos com assento parlamentar em Belém. Para já, sucederam-se os recados ao Presidente da República, as exigências de convocação de eleições antecipadas e alguma prudência.

O PSD foi o último a falar, mas não sem Luís Montenegro destacar o carácter de urgência em dar os próximos passos após o primeiro-ministro apresentar a demissão. “O Governo caiu e caiu por dentro. Não podemos perder mais tempo. É imperioso recuperar confiança. Esta recuperação só é viável com eleições antecipadas. Estamos preparados”, afirmou, já passavam das 20 horas.

“A legitimidade do PS ruiu. É a terceira vez. Está na hora de responsabilizar e penalizar a reincidência de uma organização partidária que dá mostras de ceder muito rapidamente a esquemas de compadrio político”, considerou, defendendo que “Portugal não pode ser isto” e que “não pode tolerar nem permitir que importantes decisões possam ser tomadas por qualquer outro critério que não o interesse público”. Depois de ser repetidamente questionado, Montenegro reafirmou que nunca fará acordo com o Chega, recordando que já disse que o “não é não” a André Ventura.

O líder do Chega, por sua vez, foi dos primeiros a reagir e para exigir de imediato o fim do Governo de António Costa. André Ventura aproveitou para recordar Marcelo Rebelo de Sousa de que a nomeação a título definitivo de outro primeiro-ministro seria “uma fraude e um engano aos portugueses, mas sobretudo às suas palavras”, já que há dois anos o Presidente associou a conquista da maioria absoluta a António Costa.

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O também deputado alegou também que “não é possível substituir um primeiro-ministro por um outro qualquer ministro deste Governo”, seja ele Fernando Medina, José Luís Carneiro, ou Ana Catarina Mendes. E que, uma vez que o primeiro-ministro se demitiu por vontade própria, “o Presidente da República não tem outra solução constitucional que não seja a convocação de eleições“.

O líder do Chega informou ainda que já convocou a direção nacional do partido e o grupo parlamentar e que o partido tem a intenção de “dar ao país um sinal de confiança”. E garantiu: “Estamos prontos para ser uma alternativa para acabar com esta governação socialista.”

Por sua vez, os liberais garantiram que não existe alternativa à queda do Parlamento e à consequente realização de eleições. “Mesmo que não houvesse esta investigação direta ao primeiro-ministro, já não haveria condições para ele se manter em funções”, afirmou Rui Rocha, em declarações aos jornalistas na Assembleia da República.

Para o líder da IL, “não há outra solução que não seja a dissolução da Assembleia da República e as eleições para que os portugueses possam pronunciar-se em relação à nova composição da Assembleia e de um novo Governo para Portugal”. Além disso, deixou uma mensagem de “tranquilidade e de confiança aos portugueses”, recordando que a “democracia tem capacidade de regeneração”. E foi claro: “Este é o fim de uma solução que já não funcionava para o país.”

Através de um comunicado, Nuno Melo, líder do CDS, à semelhança do Chega, recordou Marcelo do compromisso que tem com os portugueses em “dissolver o Parlamento em caso do primeiro-ministro mudar”. O partido democrata-cristão recorda que, aquando da grave crise política ocorrida em Janeiro passado, “o Presidente da República foi claro no compromisso firmado com os portugueses”. E cita as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa: “Se mudar o primeiro-ministro há dissolução do Parlamento. O PS e Governo merecem uma derrota contundente em eleições”, sublinhando que o país “precisa de um governo de centro-direita capaz”.

Bloco pede eleições; PCP lembra que cenário não é “obrigatório”

PCP e PAN  defenderam, como cenário ideal,  um desfecho alternativo que não a realização de eleições. Já o Livre de Rui Tavares admitiu esperar pela audiência com Marcelo Rebelo de Sousa para fechar uma posição. Já Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, foi definitiva: o partido não vê outra hipótese que não a convocação de eleições anteicpadas.

Na reação do Bloco de Esquerda à demissão de António Costa, Mariana Mortágua disse que o partido que lidera vai comunicar esta quarta-feira ao Presidente da República a “preferência pela convocação de eleições antecipadas“. Isto porque entende que a crises desta desta natureza só se resolvem com a convocação de um novo ato legislativo.

A também deputada do Bloco Esquerda referiu também que é essencial “esclarecer da forma mais célere possível as suspeitas que foram levantadas sobre o primeiro-ministro”, sublinhando: “Em democracia não é saudável que permaneçam suspeitas desta natureza sobre um chefe de Governo.”

A visão dos antigos parceiros da geringonça foi mais contida. A partir da sede comunista, Paulo Raimundo, secretário-geral do partido, considerou que o país precisava, neste momento, “de soluções e não de eleições“, recordando que a demissão de António Costa resultou de uma “operação de chantagem e de pressão, em que o PS, com o apoio do Presidente da República, decidiu o caminho das eleições [antecipadas]”.

O líder comunista lembrou que, no plano constitucional, “não é obrigatório que à demissão do primeiro-ministro suceda obrigatoriamente a dissolução da Assembleia da República”, mas reconheceu que cabe ao Presidente “a decisão e avaliação final dos desenvolvimentos futuros”. Apesar de tudo, o secretário-geral garantiu que o PCP está pronto para ir às urnas e que o “país exige que se rejeite a política de direita que tem sido prosseguida pelo PS”.

Rui Tavares, deputado único e principal rosto do Livre, defendeu que o partido “está preparado para todos os desafios que se colocarem ao país”, incluindo eleições, lembrando que já antes se deparou com desfechos inesperados, nomeadamente a última dissolução de um Governo de António Costa. Tavares pediu ainda “clareza e sentido de responsabilidade” num momento “grave e sério”.

A também deputada única e líder do PAN, Inês Sousa Real, mostrou-se cautelosa e disse querer ouvir o Presidente da República e conhecer as possíveis soluções que “possa ter em cima da mesa”. “É com preocupação que vemos, em plena discussão do OE, estarmos novamente a ir para eleições”, sublinhou a líder do PAN. “Todas as forças políticas e todas as instituições têm o dever de pôr o superior interesse do país e das pessoas à frente dos interesses e das querelas políticas”, rematou.