O Teatro Didascália estreia esta quinta-feira, no Porto, a peça “Ascensão de Arturo Ui”, do dramaturgo Bertold Brecht, que faz um paralelismo entre a subida de Hitler ao poder e a Alemanha nazi com os dias de hoje.

A parábola do dramaturgo alemão, que escreveu “A Resistível Ascensão de Arturo Ui” (1941) no contexto da escalada da força nazi na Alemanha, regressa agora aos palcos, no Teatro Carlos Alberto, no Porto, com a encenação de Bruno Martins, diretor artístico do Teatro da Didascália, que afirma que a peça tem toda a pertinência.

“A suspeita de corrupção, mesmo que ela possa não ter existido, faz mossa na democracia”, observa Bruno Martins, realçando que só esse facto fragiliza todas as instituições, todo o sistema democrático e leva depois à “cavalgada de forças extremistas e populistas ao poder”, pelo que “a pertinência não podia ser maior deste texto”.

O encenador aborda o conceito de “retorno do fascismo” e de como há episódios antigos conhecidos ao longo da história que se repetem como, por exemplo, o uso da imprensa para denegrir a imagem de uma determinada pessoa.

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“Temos assistido de alguma maneira a isso nos últimos anos, infelizmente”, lamenta, acrescentando que o teatro tem o poder de reunir numa plateia centenas de pessoas a “pensar, a ver, a sentir uma determinada obra” e a criar “pontes com a atualidade”.

“Aquilo que Brecht quis fazer quando escreveu esta peça foi criar uma analogia àquilo que foi a ascensão do Hitler, na Alemanha nazi, e daquilo que foram os vários processos que levaram a sua chegada ao poder. No fundo é uma analogia entre o que é um ‘gangster’ [mafioso], que conhecemos de filmes como ‘O Padrinho’, com a figura e com atos criminosos do Nacional Socialismo na Alemanha nazi e na forma como chegaram ao poder através de uma série de episódios”, descreveu Bruno Martins, encenador da peça, no ensaio de imprensa da “Ascensão de Auturo Ui”.

Nesta adaptação da obra de Brecht, Bruno Martins optou por seguir as notas do dramaturgo Brecht, assumindo que as cenas são curtas e têm uma “passagem veloz” entre elas.

Em palco vai estar um gangue de Chicago que é um “espelho da violência, xenofobia e intolerância que infetam os mundos físico e virtual”, lê-se na nota de imprensa entregue aos jornalistas.

“São personagens presentes nas redes sociais, nas mensagens privadas de ódio, nas caixas de comentários dos órgãos de comunicação social, tantas vezes replicadas nas conversas de mesa de café. A partir da peça de Brecht, ‘A Ascensão de Arturo Ui’ propõe olhar particularmente para dentro das nossas fronteiras, onde a reconfiguração do sistema político já está em curso”.

Com interpretação de Diana Sá, Eduardo Breda, Gonçalo Fonseca, Luísa Guerra, Pedro Couto e Valdemar Santos, “A Ascensão de Arturo Ui” fica em cena no Teatro Carlos Alberto de 9 a 12 de novembro.

As sessões desta quinta-feira e sábado são às 19h, a sessão de sexta-feira é às 21h e a de domingo, às 16h.

No dia 12 de novembro, a peça tem tradução em Língua Gestual Portuguesa.

O preço dos bilhetes tem um custo de 5 e 10 euros.