Vital Moreira, jurista e ex-eurodeputado do PS, volta a censurar a atuação do Ministério Público (MP) depois da críticas à Operação Influencer. Desta vez, está em causa a Operação Teia e o arquivamento das suspeitas contra Luísa Salgueiro mas nem por isso o constitucionalista deixa de ser duro, acusando mesmo o MP de promover “assédio judiciário” a titulares de cargos políticos.

A autarca socialista foi constituída arguida por abuso de poder, suspeitando o MP de que teria escolhido a sua anterior chefe de gabinete como parte de uma alegada troca de favores com Joaquim Couto, à época presidente da Câmara Municipal de Santo Tirso. O DIAP Regional do Porto acabou por arquivar a acusação, considerando que a nomeação de Marta Laranja Pontes (filha do então diretor do IPO do Porto, Laranja Pontes), tinha sido feita de livre vontade e sem pressões externas. O que motivou uma reação por parte de Vital Moreira.

Operação Teia. Dois ex-autarcas do PS, um ex-deputado socialista e o ex-diretor do IPO do Porto acusados pelo MP de mais de 50 crimes

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Numa publicação no blogue Causa Nossa, o eurodeputado pelo PS entre 2009 e 2014 apontou baterias aos “desmandos” do MP, questionando as motivações por trás da conduta da investigação. Descrevendo a imputação penal como “estúpida” e sem “nenhum fundamento”, Vital Moreira considerou que o arquivar do processo não apaga “o dano moral causado à visada pelo enxovalho da suspeita pública a que [Luísa Salgueiro] foi submetida”, enquadrando este caso num padrão recorrente de “assédio judiciário” a titulares de cargos públicos.

As operações mais banais de ‘assédio judiciário’ a políticos e outras pessoas publicamente expostas obedecem sempre ao mesmo guião: 1º – desencadear uma investigação por qualquer denúncia, por mais infundada que seja, como esta; 2ª – avançar imediatamente para buscas e exames altamente intrusivos, por mais desproporcionados que sejam; 3º – vazar o caso para os media, violando o segredo de justiça, para causar imediatamente um dano profundo aos suspeitos na opinião pública; 4º – mesmo que o caso não tenha nenhuns pés para andar, como neste exemplo, demorar o máximo tempo possível para o arquivar, mantendo os suspeitos em sofrimento quando ao desfecho”, pode ler-se no texto.

Vital Moreira apontou como problemas a esta conduta o facto de não haver ninguém que dê a cara pelo “descrédito institucional” que situações destas provocam ao MP e à Procuradoria-Geral da República (PGR), no entender do jurista, de 79 anos.

Por outro lado, Vital Moreira sublinhou o impacto que o lançar de suspeições deste género têm na opinião pública, fomentando a criação de discursos populistas e de aproveitamento político — lembrando, por exemplo, o facto de o PSD ter pedido o afastamento de Luísa Salgueiro da presidência da Associação Nacional de Municípios Portugueses, que dirigia, tendo por base suspeitas que se revelaram agora infundadas.

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“A hipótese do ‘lapso’ não explica tudo, nomeadamente a demora no arquivamento, sem qualquer pedido de desculpas, e não vejo nenhuma razão para benevolência em relação à inaceitável instrumentalização da investigação penal como arma de perseguição política”, concluiu Vital Moreira, numa referência a declarações da própria Luísa Salgueiro quando foi tornada pública a decisão de arquivar o processo, tendo a autarca caracterizado a condução do processo por parte do MP e da PGR como um “lapso muito grosseiro”.

Também no âmbito da “Operação Teia”, tal como foi noticiado este domingo pelo Observador e pelo jornal Público, ficou a saber-se que, ao contrário de Luísa Salgueiro, Joaquim Couto, a sua ex-mulher, a empresária Manuela Sousa (empresária), Laranja Pontes e o ex-presidente da Câmara de Barcelos, Miguel Costa Gomes, foram formalmente acusados da prática de 50 crimes, tendo por base o alegado favorecimento ao grupo empresarial de Manuela Sousa por parte da Câmara de Barcelos e do IPO do Porto na adjudicação de um conjunto de contratos públicos relacionados com serviços de comunicação e marketing que estão avaliados em cerca de 750 mil euros.