Foi um feito que passou ao lado perante a decisão de um Mundial de MotoGP que voltou a cair para Pecco Bagnaia depois da queda de Jorge Martín logo na quinta volta do Grande Prémio da Comunidade Valenciana, foi um feito que não merece passar ao lado pelo contexto em que foi conseguido. Com Miguel Oliveira de fora por lesão, na sequência de uma fratura no ombro pela saída de pista no Qatar, o substituto Lorenzo Savadori não foi além da 13.ª posição a 43 segundos do primeiro classificado entre os 14 que terminaram a prova mas Raúl Fernández, o outro piloto da CryptoDATA RNF, alcançou o quinto lugar à frente das duas motos de fábrica da Aprilia, naquele que foi o melhor resultado do espanhol em 2023. Melhor final para aquilo que a equipa descrevia como “The Last Dance” era difícil. Agora, sobram sobretudo as dúvidas.

Miguel Oliveira não vai ser operado, mas deve falhar a última corrida da época e regressar às pistas apenas em 2024

“Foi uma bela sequência. A oportunidade de uma vida para comandar e ter uma equipa de MotoGP no Campeonato do Mundo. Sabemos como é ganhar e como é perder. Trabalhar com os melhores elementos de equipa de todo o mundo. Descobrimos um campeão do mundo no Fabio [Quartararo], quase fomos campeões com o Frankie [Franco Morbidelli], tivemos o G.O.A.T. Vale [Valentino Rossi], uma lenda do MotoGP como o Dovi [Andrea Dovizioso], arriscámos com o Darryn [Binder] e finalmente tivemos o dentista mais rápido do Mundo com o Miguel [Oliveira] e um campeão em construção, o Raúl [Fernández]. A equipa foi a minha segunda família, a minha segunda casa e devemos estar orgulhosos daquilo que alcançámos e no que nos tornámos. O que se segue? Será um novo começo mas diferente, que devo encarar com o maior entusiasmo e paixão. Vamos equipa”, escrevera o malaio Razlan Razali antes da derradeira prova do Mundial, que tinha como grande motivo de interesse a luta entre Bagnaia e Martín.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

No entanto, queria isso dizer que Miguel Oliveira iria ficar sem equipa para 2024, como se especulou nos últimos dias? Não. E era isso que tinha sido explicado pela CryptoDATA RNF também este fim de semana.

“Tem havido muitas especulações na imprensa sobre a CryptoDATA RNF MotoGP Team e por causa disso queremos clarificar as coisas de forma oficial. Uma coisa é certa, a CryptoDATA RNF MotoGP Team tem contrato para participar no Campeonato do Mundo válido até 2026. O contrato tem termos e condições que são muito claras e até agora não fomos notificados de qualquer violação contratual. Não há qualquer dívida à Aprilia e todos os montantes [devidos] foram pagos no início do ano. Adicionalmente, para além do que estava contratualizado, acordámos ceder mais mecânicos e assumimos os custos extra. A CryptoDATA RNF MotoGP Team não tem quaisquer dívidas ou contendas com os seus fornecedores e toda a sua atividade decorre de acordo com o plano de negócios e com os termos contratuais decididos com os seus fornecedores”, explicou, recordando que Razali só tinha 40% da equipa (a CDT SPorts and Media SRL tem o resto) e que a sua saída já estava decidida por pressão dos acionistas pelo mau desempenho e decisões financeiras.

Esta segunda-feira, a organização do Campeonato do Mundo de MotoGP anunciou que a RNF ficou sem o contrato para 2024. “O Comité de Seleção do MotoGP, que integra membros da FIM [Federação Internacional de Motociclismo], da IRTA [Associação de equipas] e da Dorna [organizador], decidiu não selecionar a equipa CryptoDATA RNF para a temporada de 2024”, anunciou em comunicado, alegando para essa tomada de posição “repetidas infrações e quebras do acordo de participação que afetam a imagem pública do MotoGP”. “O Comité de Seleção vai rever as candidaturas para uma nova equipa independente, que usará motores Aprilia, para se juntar à grelha de MotoGP em 2024″, acrescentou.

Também esta segunda-feira surgiu a notícia de que a Leopard Racing terá feito uma proposta para ficar com essa vaga mas que a mesma acabou por ser refutada. Desta forma, o principal cenário que parece estar a ser desenhado pode colocar a Trackhouse NASCAR, que pertencer ao milionário norte-americano Justin Marks, a assumir a equipa. Nesta altura existem apenas duas certezas: Miguel Oliveira e Raúl Fernández, que têm contrato até 2024 com a Aprilia, vão ficar na equipa que terá como novo patrocinador a Untold, empresa ligada ao setor da música e entretenimento na Roménia e que já acordara antes a entrada no projeto da RNF.

O que está então por definir nas próximas semanas? Logo à cabeça, se Raúl Fernández vai ou não fazer os habituais testes de final de temporada tendo em conta as mudanças que a equipa vai operar e a inscrição não validada para 2024. Depois, quem será o potencial parceiro a juntar-se à CryptoDATA para a próxima época e também o diretor desportivo que será escolhido para liderar o projeto. Por fim, que tipo de mota podem os pilotos ter para o novo Mundial, sendo certo de que as possibilidades de haver o mesmo material que existe para a equipa de fábrica são diminutas embora tenha existido esse sinal por parte dos responsáveis (neste caso do CEO, Ovidiu Toma) de um aumento do orçamento. Neste aspeto, sobram sobretudo dúvidas.

De recordar que, depois de muita especulação sobre uma possível mudança para o lugar de Marc Márquez na Honda que envolveu contactos exploratórios por parte da formação nipónica, Miguel Oliveira optou por ficar na CryptoDATA RNF tendo a ambição de poder dar o salto para a equipa de fábrica em 2025. “Proposta da Honda? Não, não é desapontante. É um negócio, eles olham para oportunidades, tal como nós. Por vezes as nossas expectativas não se enquadram com o que é oferecido, com o que o construtor pretende. Eles querem um piloto para um ano e acho que atualmente é muito arriscado fazê-lo. Mesmo sendo o melhor construtor do mundo, com toda a capacidade financeira e humana para construir uma moto e uma equipa forte, diria que, como piloto, quebrar a relação com uma marca e ir para outra sem garantias de futuro é algo bastante difícil. Todos os pilotos acabam os atuais contratos de dois anos no final do próximo, por isso nessa altura tudo ficará em aberto. Só não vejo como seria possível arriscar tanto sem garantias de futuro. É difícil”, referiu o português em entrevista ao Autosport, confirmando que preferia ficar na Aprilia.