Era fácil o Sp. Braga fazer contas aos vários cenários que se expunham diante de si para as últimas duas jornadas do grupo C da Liga dos Campeões. Tal como em tudo, uns eram mais animadores do que outros. À partida, vencer o Union Berlin era um ponto de partida para uma trajetória positiva. Em caso de triunfo, os arsenalistas asseguravam desde logo a permanência nas competições europeias e adiavam uma eventual passagem aos oitavos de final para a visita ao Nápoles, o último jogo da fase de grupos. Só que a receção ao conjunto alemão podia ser uma armadilha.

O Union Berlin visitava a Pedreira apenas com um ponto no grupo C, 15 jogos sem vencer (13 derrotas) em todas as competições e num ambiente que levou ao despedimento do treinador Urs Fischer. “Perfeito…”, diriam os adeptos bracarenses. “Não caio no erro de pensar que este jogo está feito”, disse o treinador do Sp. Braga, Artur Jorge. O penúltimo classificado da Bundesliga estreava na viagem a Portugal o novo técnico. O croata Nenad Bjelica ia orientar pela primeira vez o clube alemão e a estratégia era, por isso, uma incógnita. Ao lado de Bjelica, enquanto adjunta, ia estar Marie-Louise Eta, a primeira mulher de sempre a integrar uma equipa técnica num jogo da fase de grupos da Liga dos Campeões.

Tanto imaginou que se tornou uma realidade: Marie-Louise Eta é a primeira treinadora-adjunta da Bundesliga

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Artur Jorge tinha assim que viver com a preocupação de não saber o que esperar do lado do Union Berlin e se a vitória, com direito a reviravolta, na capital alemã (2-3), foi um triunfo arrancado a ferros, desta vez, as facilidades também não parecia que iam responder positivamente ao convite para uma aparição no Minho. “Havia uma relação muito forte e uma ideia muito vincada com o anterior treinador”, constatou Artur Jorge. “Assim, temos de recorrer ao seu passado do Nenad Bjelica na liga turca e tentar perceber se será o Union Berlin a adaptar-se ao treinador ou o contrário”.

Uma raquetada de Castro para a história que quebrou o jogo de passing shots de Becker (a crónica do Union Berlim-Sp. Braga)

Apesar de ter sido obrigado a lidar com duas derrotas contra o Real Madrid, o Sp. Braga estava num momento positivo onde, ao nível das competições internas, está há nove jogos sem perder. Ainda assim, há arestas a limar, visto que os arsenalistas, ao fim da quatro jornadas disputadas na Liga dos Campeões, sofreram nove golos, revelando fragilidades defensivas que o Union Berlin podia aproveitar. “O Union está em último, mas na Liga dos Campeões isso não quer dizer nada, a situação que passam não vem para aqui”, analisou o internacional português, João Moutinho. “Eles querem dar o seu melhor, com um novo treinador, todos os jogadores vão querer demonstrar que têm a capacidade para estar a este nível”, afirmou o médio.

Artur Jorge fez apenas uma mudança em relação à visita ao Real Madrid. A única mudança foi a saída de Bruma e a entrada de Banza. Assim, a equipa passou a ter uma referência no ataque, mas via-se a ter que abordar o jogo sem dois dos seus principais jogadores, Bruma e Al Msurati, ambos indisponíveis para o encontro. Por sua vez, o Union Berlin não levou a cabo uma revolução, mudando quatro peças face ao último jogo para a Bundesliga, contra o Augsburg. O Sp. Braga dispôs-se em 4x2x3x1. João Moutinho, Zalazar e Vitor Carvalho formaram o trio de meio-campo. Ricardo Horta, partindo da esquerda do ataque, incorporou-se no corredor central, ao contrário de Álvaro Djaló que funcionou como extremo aberto.

Sem tempo para trabalhar comportamentos coletivos com o novo treinador, o Union Berlin montou uma linha recuada de cinco elementos com referências individuais. A organização defensiva dos alemães não estava a ser propriamente fácil de quebrar. Banza e Álvaro Djaló até criaram relativo perigo, mas foi o Sp. Braga a sofrer um grande revés na primeira parte. Niakaté pisou Behrens na zona do tendão de Aquiles e foi expulso. Artur Jorge recompôs a linha defensiva com a entrada de Serdar, mas não de forma suficientemente eficaz de modo a parar um dinâmico jogo de corredores do Union Berlin. Roussillon e Gosens, dois laterais, habitaram na esquerda e, no lance do golo do emblema da Bundesliga, coube ao primeiro assistir e ao segundo finalizar (42′).

Em desvantagem, numérica e no marcador, o Sp. Braga reagiu. Num dos lances ofensivos no período de compensação da primeira parte, o ataque dos minhotos colocou a bola em zona de perigo. Sucederam-se alguma carambolas. Serdar, no coração da área, chutou contra o acumulado de jogadores alemães que estava sobre a linha de baliza e a bola raspou no braço do central Diogo Leite. O árbitro do encontro considerou não existir motivo para a marcação de grande penalidade.

Inesperadamente, o início de segunda parte do Sp. Braga trouxe uma série de oportunidades para os minhotos atacarem em campo aberto. Nesse aspeto, Álvaro Djaló está como peixe na água. O espanhol (51′) beneficiou da subida de bloco que o Union Berlin levou a cabo e empatou o encontro numa fase em que o golo ainda servia para alimentar a esperança de uma possível reviravolta. O extremo desmarcava-se na luta pelo prémio de melhor jogador em campo, aumentando as possibilidades dos arsenalistas virarem o marcador com chegadas em velocidade ao último terço.

Os dez jogadores em campo catapultavam o Sp. Braga em busca do golo. Apesar da emoção, a tão desejada vitória acabaria a por não aparecer (1-1). Confirmada que estava a derrota do Nápoles no outro jogo do grupo, os minhotos ficaram a saber que vão partir para a última jornada do grupo C com menos três pontos do que o Nápoles e a precisarem de vencer os italianos por dois golos de diferença para poderem seguir para os oitavos. A presença na Liga Europa também ainda não está garantida.