Foi literalmente um balde de água fria. Uma vez, outra vez, mais uma vez. Um primeiro balde de água fria pelo autêntico temporal que assolou a Póvoa de Varzim durante a partida com a Áustria entre chuva e vento. Um segundo balde de água fria com o primeiro golo das austríacas quando Portugal atravessava o melhor momento no jogo já na última meia hora. Um terceiro e último balde de água fria com o 2-1 final que chegou apenas dois minutos depois do empate. Olhando para aquilo que foi o duplo confronto com a Áustria, entre duas derrotas pela margem mínima, a Seleção jogou o suficiente para ficar com dois a quatro pontos mas não conseguiu qualquer ponto e com isso deixava de depender apenas de si para acabar num dos dois primeiros lugares do grupo. Tão ou mais complicado do que isso, tinha quase uma “final” diante da Noruega.

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“Não pode ser encarado como um jogo de tudo ou nada. É um jogo muito importante que vale três pontos e sabemos que com esses três pontos garantimos matematicamente o acesso ao playoff. É isso que queremos: continuar a depender só de nós. Também sabemos que, em caso de empate, isso pode acontecer, embora seja mais difícil porque precisaremos de uma conjuntura favorável. A vitória permite-nos sonhar ainda com o segundo lugar. Frio? O frio vai ser igual para as duas equipas, não pode servir de desculpa. Temos de estar mentalmente preparados”, tinha referido na antevisão de uma partida que podia ter neve o selecionador Francisco Neto, procurando também valorizar o que Portugal fez bem diante da Áustria.

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“Não podemos olhar só para aquilo que foram os resultados. É óbvio que as derrotas pesam e trazem-nos uma maior reflexão mas nem sempre, quando perdemos, está tudo mal. Espero que Portugal seja uma equipa à imagem do que foi nesses jogos, que seja uma equipa sem medo de ter bola, de assumir o jogo, de pressionar os adversários e de criar muitas oportunidades de golo. É preciso ter mais concentração para não permitir alguns erros que resultaram no dissabor dos resultados”, acrescentou, reforçando a ideia de que não era pelas duas derrotas diante das austríacas que iria promover uma revolução nas opções iniciais até pela resposta muito positiva que a equipa tinha dado antes com a Noruega em Barcelos (vitória por 3-2).

Das palavras aos atos, foi isso que Francisco Neto fez. Trocou Inês Pereira por Patrícia Morais na baliza, colocou de novo como titulares Carole Costa (que esteve lesionada) e Lúcia Alves, reforçou o meio-campo com outra dimensão física tendo Andreia Norton como elemento mais adiantado com Tatiana Pinto, Andreia Jacinto e Fátima Pinto (que foi central por necessidade na Póvoa de Varzim) e apostou em Ana Capeta para jogar ao lado de Jéssica Silva devido à ausência de Diana Silva. No entanto, fosse qual fosse fosse o onze, as hipóteses de resistência a um início tão mau em Oslo seriam sempre diminutas. E foi Ada Hegerberg, a antiga Bola de Ouro que leva sete golos e duas assistências em nove jogos pelo Lyon esta época e que foi notícia na última semana por ser alvo de um bug no modo Ultimate Team da EA Sports FC 24 que os criadores nunca viram e que fez com que fosse “apagada”, a brilhar com um hat-trick em apenas 49 minutos.

Entre um frio de rachar e um relvado que não aparentava estar nas melhores condições, Portugal começou o jogo quase a perder e com um golo do perigo público número 1 da Noruega: perda de bola logo na primeira fase de construção, cruzamento largo para a área e desvio de cabeça da antiga Bola de Ouro Ada Hegerberg, isolada nas costas da defesa nacional (3′). O início foi mau, o seguimento ainda pior – na sequência de um canto com corte com a mão entre protestos das jogadoras portuguesas por um eventual empurrão que mudou a trajetória da linha defensiva, Hegerberg assumiu a marcação da grande penalidade e fez o 2-0 (8′). Sem que nenhuma das equipas tivesse esboçado grandes lances de ataque organizado, a Seleção tinha pela frente uma missão que se tornava entre o difícil e o impossível frente a uma equipa longe dos melhores tempos mas com muita experiência em campo que tinha apenas de gerir a boa vantagem conseguida.

Entre mais contratempos como a lesão de Jéssica Silva ainda antes da meia hora inicial (Ana Dias entrou aos 28′), Portugal conseguiu estabilizar em termos defensivos, teve períodos de maior posse mas sentiu sempre grandes dificuldades em chegar ao último terço, chegando ao intervalo sem uma única oportunidade para reduzir a desvantagem. Era no descanso que Francisco Neto iria tentar reverter aquilo que tinha nascido torto mas a partida nunca se endireitou para Portugal, que sofreu mesmo o 3-0 no início do segundo tempo com Ada Hegerberg a fazer a recarga na área a um remate de Terland defendido por Inês Pereira (49′). Lúcia Alves, num remate de fora da área aos 53′, ainda tentou dar um sinal contra a maré mas não teve a continuidade desejada apesar de uma tentativa de Ana Capeta defendida por Mikalsen (59′) e ainda foi a Inês Pereira a evitar males maiores de uma goleada mais expressiva das nórdicas antes do 4-0 por Haug (90+4′).