A exposição “Paula Rego — Rotura e Continuidade” abre esta sexta-feira ao público no Museu do Coa, Vila Nova de Foz Coa, onde fica até 28 de julho de 2024, coincidindo com o aniversário do Parque Arqueológico do Vale do Côa.

A presidente da Fundação Côa Parque, Aida Carvalho, disse à agência Lusa que a exposição “é uma prenda para o Museu do Côa, uma prenda para o território do Vale do Côa e para o país”, por ter sido possível conciliar a mostra dedicada a Paula Rego (1935-2022) com o programa de comemorações dos 25 anos da inscrição dos Sítios de Arte Rupestre do Vale do Côa na lista do Património Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), ocorrida em dezembro de 1998.

Segundo a responsável, toda a equipa do museu sente “orgulho e contentamento” por ter uma exposição desta dimensão de um nome maior da arte contemporânea, a nível mundial.

“Trata-se de um projeto muito ambicionado e que agora conseguimos concretizar, com a abertura agendada para hoje. É uma excelente prenda para todos nós”, vincou Aida Carvalho.

“Paula Rego – Rutura e Continuidade”, a exposição, reúne 80 quadros e vai ter três momentos em destaque, até ao encerramento previsto para o final de julho: a abertura ao público da mostra, que hoje ocorre; a inauguração oficial, no domingo, dia 03 de dezembro; e a sessão de apresentação do catálogo, que engloba todo o processo de montagem da exposição, em data a anunciar.

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“É política do museu não ter as salas de exposições temporárias encerradas. Por isso abrimos mais cedo [em relação à inauguração oficial] […] uma espécie de oferta e gratificação aos visitantes dos vários equipamentos do Vale do Côa e do Parque Arqueológico”, durante o fim de semana, disse a presidente da Fundação Côa Parque.

A curadora da mostra, Catarina Alfaro, responsável pela Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, explicou por seu lado que esta exposição reúne um grande grupo de gravuras da artista, destacando a série de litografias “Jane Eyre” e o conjunto dedicado ao “Aborto”.

Trata-se de obras de algum modo relacionadas como o propósito indutor do Museu do Côa e as gravuras do Paleolítico Superior, que aqui encontram um novo contexto, pela perenidade e ancestralidade das suas temáticas.

Desta forma, é proposta aos visitantes uma abordagem diferente à obra da pintora, destacando ‘períodos-chave’ da construção do seu universo figurativo, dando particular realce à obra gravada.

“Paula Rego – Rotura e Continuidade” explora o universo das histórias da pintora de origem portuguesa, a sua relação com os contos tradicionais e de encantar, a presença das expressões literárias portuguesa e inglesa na sua obra, assim como o teatro e o cinema e a subversão com que o fez (como na série “Avestruzes Bailarinas do filme ‘Fantasia’ de Walt Disney”), em que a pesquisa figurativa pela via da fantasia e da imaginação ganha, na sua obra, uma importância maior.

“As gravuras do Paleolítico foram um meio que Paula Rego explorou, em peças elaboradas pela artista que chegaram ao Museu do Côa. Em síntese, trata-se de uma exposição que nos traz obras [de Paula Rego] desde os anos 80 [do século passado] até aos anos 2000. Essas obras revelam também técnicas diferentes, histórias diferentes, mas são sempre histórias ligadas ao universo da pintora que acabam por ser reveladoras do seu percurso artístico”, indicou a curadora.

“Paula Rego – Rotura e Continuidade” põe a gravura em grande destaque na Sala 2 do Museu do Côa, e a pintura nas outras salas da mostra.

“Uma exposição desta dimensão é sempre um desafio” para o Museu do Côa, já que se trata de um espaço cultural no interior do país, em Vila Nova de Foz Côa, no distrito da Guarda, que requer uma enorme logística face a outros equipamentos culturais do género.

“Além da curadoria é preciso procurar os proprietários destas obras que as têm a seu cargo e fazer todo um processo de empréstimo para que possam ser deslocadas aqui para o interior. Há toda uma logística para estas obras valiosas que implica um transporte especializado, implica seguros e especialistas em obras de arte e todo um tipo de contratos com entidades como [as fundações de] Serralves e Gulbenkian e a Casa das Histórias Paula Rego, que é o principal emprestador”, explicou à Lusa a responsável pelas exposições temporárias no Museu do Côa, Dalila Correia.

Paula Rego nasceu em Lisboa, a 26 de janeiro de 1935, numa família de tradição republicana e liberal.

Nascida em Lisboa, começou a desenhar ainda em criança, e partiu para a capital britânica com 17 anos, para estudar na Slade School of Fine Art, onde viria a fixar residência e a distinguir-se pela singularidade da obra, inspirada na literatura, e marcada, ao longo das décadas, pela defesa dos direitos das mulheres.

Em Londres conheceu o marido, o artista inglês Victor Willing, que morreu em 1988, cuja obra Paula Rego mostrou por várias vezes no museu Casa das Histórias.

Em 2004, foi elevada a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada de Portugal pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, e, em 2010, foi nomeada Dame Commander of The Order of the British Empire pela Coroa Britânica, pela sua contribuição para as artes. Em 2016 recebeu a medalha de honra da cidade de Lisboa e, em 2019, a Medalha de Mérito Cultural do Ministério da Cultura.

Paula Rego morreu no dia 08 de junho de 2022, em Londres, deixando uma obra que está representada em várias das mais importantes coleções públicas e privadas em todo o mundo.

O seu nome abre as comemorações do 25.º aniversário da inscrição da arte rupestre do Vale do Côa na lista do Património Mundial, a decorrer durante o mês de dezembro.

Entre estas iniciativas conta-se ainda a assinatura da grande tela “O Bordel”, da autoria de Graça Morais. “Esta peça à época não foi assinada, [por isso] desafiámos a pintora a vir ao Museu do Côa a proceder a este ato”, disse a presidente da Fundação Côa Parque à Lusa.

“O Bordel” foi pintado por Graça Morais para a encenação da peça “Os Biombos”, de Jean Genet, que o Teatro Experimental de Cascais levou a cena em 1993 sob a direção do encenador e cofundador da companhia Carlos Avilez (1935-2023).

A Direção-Geral do Património Cultural comprou a obra por 60 mil euros, para a incluir na Coleção de Arte Contemporânea do Estado (CACE), ficando em depósito no Museu do Côa.