“As Ervas Secas”

Samet, um jovem e amargurado professor, está a acabar o quarto ano de colocação obrigatória numa vila remota da Anatólia, onde as estações do ano são tão extremadas, que parece só haver Inverno rigoroso e Verão glorioso. As coisas ficam ainda piores para ele quando duas alunas o acusam, e a um colega, de comportamentos inadequados. Mas outra professora, Nuray, parece trazer-lhe algum alento. O novo filme do turco Nuri Bilge Ceylan é, como ele nos habituou, visualmente esplendoroso, e Ceylan continua a usar o clima como uma personagem actuante, e um correlativo para os estados emocionais e mentais dos protagonistas. “As Ervas Secas” é, no entanto, mais verboso do que o habitual, e o realizador descarta o tema do assédio sexual para ficar preso às angústias e frustrações do professor, introduzindo ainda, com subentendidos, temas políticos que dirão muito aos turcos mas pouco aos restantes espectadores. Este é também o primeiro filme de Ceylan que não justifica a sua longa duração (3 horas e 15 minutos).

“O Próximo a Marcar Ganha”

Esta fita de Taika Waititi inclui-se no subgénero dos filmes de desporto dedicados aos casos reais de equipas de perdedores crónicos que certo dia fazem das tripas coração, e conseguem o que ninguém acreditava ser possível. Desta vez, é a equipa de futebol da Samoa Americana, que entrou para a história em 2001, ao perder por 31-0 numa qualificação para o Mundial. Depois dessa humilhação, a federação local contratou um novo treinador, o holandês Thomas Rongen (Michael Fassbender), para a tirar do fundo do barril. Mas este, outrora um técnico vencedor e conceituado, não se apresentava nas melhores condições para o trabalho, por causa de uma tragédia familiar. “O Próximo a Marcar Ganha” aposta na comédia de contrastes e de choque cultural, e no exotismo excêntrico (serão os samoanos americanos assim tão simpaticamente patuscos como Waititi os pinta?), para angariar gargalhadas, mas não consegue ser tão engraçado como pensa que é, e Fassbender interpreta Rongen com o piloto automático ligado.

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“Godzilla Minus One”

“Godzilla Minus One”, de  Takashi Yamazaki, não é um “remake” da fita original sobre a popular criatura, “O Monstro do Oceano Pacífico”, de Ishirô Honda (1954), mas cabe perfeitamente na cronologia aberta por este, voltando a evocar os traumas do horror dos bombardeamentos atómicos do Japão pelos EUA em 1945. Passado nos anos 50, o filme de Yamazaki tem a novidade de juntar a isto o tema da crise de identidade e da frustração colectiva dos nipónicos no pós-guerra, através da história de Shikishima (Ryunosuke Kamiki), um antigo piloto “kamikaze” da Força Aérea, que vive duplamente atormentado. A fita assinala também o regresso de Godzilla aos estúdios Toho, e a solo nipónico, depois de Hollywood o ter subaproveitado em sucessivos filmes do “Multiverse”. “Godzilla Minus One” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.