Os sorrisos eram mais do que muitos, a própria forma como todos se sentavam como se fosse um espectáculo era diferente, as bandeiras espanholas e demais cartazes eram mais do que muitos. Após uma longa ausência dos courts durante quase um ano, desde que se lesionou na segunda ronda do Open da Austrália de 2023 no encontro com Mackenzie McDonald, Rafa Nadal teve um primeiro ensaio na variante de pares do Open ATP de Brisbane ao lado do agora treinador de Marc López (derrota com os australianos Max Purcell e Jordan Thompson por duplo 6-4) e voltava agora aos torneios individuais defrontando um antigo vencedor de Grand Slam, Dominic Thiem. À mesma hora havia jogos do Open ATP de Hong Kong e da United Cup mas todos os olhares estavam focados na Pat Rafter Arena. Era dia de regresso de um dos maiores entre os maiores.

Calor do Kuwait, três parceiros com perfil diferente e a luta contra si próprio: como Rafa Nadal preparou o regresso um ano depois

“O momento pelo qual todos esperávamos”, anunciavam todos os meios na altura em que o espanhol de 37 anos entrava no court para os habituais exercícios de aquecimento, com uma ovação de pé que não passou ao lado do jogador visivelmente emocionado quase como se fosse o primeiro encontro que fazia no circuito ATP. O quadro poderia trazer outro tipo de dificuldades a abrir mas quis o destino que tivesse pela frente um dos primeiros jogadores a “mostrar-se” na era dos Três Mosqueteiros com um triunfo no US Open de 2020 contra Alexander Zverev antes de um longo período de lesões que lhe condicionou por completo o resto da carreira até ao atual 98.º lugar do ranking que ocupa, longe do top 3 onde chegou a estar e a obrigar que tivesse de passar pelo qualifying para chegar ao quadro principal da prova em Brisbane. E era essa maior “rodagem” de 2023 e deste arranque de ano que criava dúvidas sobre aquilo que conseguiria fazer Nadal.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Não posso prever como vou estar nos próximos seis meses. Não posso prever se o meu corpo me vai permitir aproveitar o ténis como aproveitei nos últimos 20 anos. Quero dizer, não no sentido de ganhar os eventos mais importantes mas no sentido do que me faz feliz, que quero ser competitivo quando sair para o court e sentir que posso competir contra qualquer um”, tinha destacado antes do regresso, quase numa extensão da ideia do “jogo a jogo” que tinha deixado numa entrevista ao El País, onde admitiu que só mesmo quando chegar a Roland Garros vai perceber se este será ou não o último ano. Para já, a amostra não poderia ser melhor: na reedição das finais do Major francês de 2018 e 2019, o espanhol levou a melhor e deixou a imagem de que pode atrapalhar as contas de um calendário de 2024 com um Djokovic apostado em ganhar tudo, um Alcaraz em busca do ano da confirmação e um Jannik Sinner à procura do primeiro Grand Slam.

O encontro começou de uma forma quase perfeita para Rafa Nadal ir ganhando confiança: primeiro jogo de serviço em branco, apenas um ponto perdido e com um erro direto nas quatro partidas iniciais a servir, bolas no serviço de Dominic Thiem que não iam chegando para colocar em cima da mesa o break mas a mostrar que isso poderia ser uma questão de tempo. Só mesmo no nono encontro, em que começou com 0-15 e teve uma maior pressão do austríaco, o espanhol enfrentou mais algumas dificuldades. Ganhou, fez o 5-4, foi à cadeira trocar de camisola perante o suor que apresentava, partiu para a vitória do primeiro set: no 12.º jogo, e ao quarto break após mais um passing shot que entrou, quebrou o serviço e ganhou por 7-5.

Nem mesmo alguns gritos de apoio soltos quando estava quase tudo em silêncio tiravam o foco a Nadal, que com cinco vitórias consecutivas ganhou o primeiro parcial e começou o segundo com um 3-0, que seria decisivo para poder gerir o resto da partida de outra forma. Com uma confiança em crescendo, com uma esquerda cada vez mais solta, a saber de forma cirúrgica quando tinha de aparecer no jogo com pontos que fossem mantendo a distância, a manter o sangue frio quando Thiem chegou ao 15-30 na quinta partida antes da viragem para fazer o 4-1, somando de seguida mais um break para fechar o encontro com 6-1 cedendo apenas seis pontos ao longo dos dez jogos de serviço que teve diante do austríaco. E esse é o maior aviso que podia deixar aos principais adversários, olhando para o Open da Austrália e… Roland Garros.