Dez anos do centro de investigação e um milhão de euros gerados no hospital de Santo André (HSA) em Leiria, aferiu o coordenador João Morais, à Lusa.

“Os jovens médicos que fazem investigação em grandes ensaios clínicos ganham metodologias que vão aplicar a tratar doentes. Dão prestígio e notoriedade e trazem dinheiro. Tudo isto é importante. Nestes dez anos foi possível ter uma produção muito grande de ensaios clínicos”, mencionou João Morais que considera os ensaios clínicos uma das principais áreas de produção científica.

De acordo com o coordenador, em dez anos, já foram realizadas “algumas dezenas de ensaios clínicos, com mais de 300 doentes envolvidos, que se voluntariaram, permitindo trabalhar na investigação de fármacos inovadores e dar-lhes acesso a intervenções de ponta”.

“É importante crescer no número de serviços envolvidos e áreas assistenciais. Neste momento, uma grande parte dos nossos serviços estão envolvidos em ensaios clínicos e alguns deles com destaque internacional”, revelou João Morais, admitindo que, apesar de nem todos os ensaios clínicos terem tido sucesso, outros resultaram em “grande êxito” e geraram “fármacos fantásticos”.

Tece ainda uma crítica às estruturas hospitalares que não se encontram preparadas para favorecer investigação, refletindo que a própria avaliação dos médicos passa também pela mesma.

Ainda assim, e apesar da aposta necessária na investigação, João Morais acrescenta: “É um problema nacional. Aquilo a que chama tempo protegido em Portugal não existe.Isto não é estimulante e é feito com muito sacrifício. A carga assistencial nos hospitais é brutal. Quando tenho 400 doentes à espera de consulta, não posso dizer a cinco médicos para irem para casa investigar“, constatou.

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A comemorar dez anos de parceria com o Centro de Inovação em Tecnologias e Cuidados de Saúde (ciTechCare) do Politécnico de Leiria, que assinala cinco anos, João Morais apontou que o centro de investigação “explodiu” quando a unidade académica foi criada, pois passou a ter acesso a coisas que “seriam muito mais difíceis de alcançar fazendo este caminho sozinho”.

“Temos nove projetos em copromoção e 44 ‘papers’ em parceria. Seguramente não estaríamos a celebrar desta maneira os dez anos se o ciTechCare não existisse”, reforçou o também vice-presidente do Conselho de Orientação e Fiscalização da PtCRIN — Rede Portuguesa de Infraestruturas para a Investigação Clínica.

“Não somos um hospital universitário – até foi durante algum tempo argumento para não se ter investigação -, mas fazemos formação pós-graduada a cerca de 200 médicos por ano. Hoje é impensável que a atividade médica seja desligada da atividade de investigação – investigar significa tratar melhor. Um hospital que investiga dá rigor, metodologia, sentido crítico e raciocínio”, destacou.

Nestes dez anos, informou, foram realizados cerca de 400 pequenos projetos, que permitiram que enfermeiros, médicos e outros profissionais do hospital se apresentassem em congressos e enriquecessem os seus currículos.

De olhos postos no futuro, João Morais acredita que já atingiram a maioridade, e que resta “rever a própria estrutura”, “ganhar autonomia”, de modo a “fazer cada vez melhor”.

E deixa clara esta visão, “Costumo dizer, muitas vezes a brincar, que somos a segunda divisão na investigação. Mas quero dar o salto para a primeira. No entanto, não quero ficar em último lugar da primeira. Tenho de ficar, pelo menos, no meio da tabela”, admitiu o coordenador.

Integrados desde janeiro na Unidade Local de Saúde da Região de Leiria, João Morais desafia ainda os profissionais dos cuidados de saúde primários a fazerem investigação.