“O Corno do Centeio”

Este filme hispano-luso-belga escrito e realizado pela cineasta Jaione Camborda, e fotografado pelo português Rui Poças, passa-se na Galiza, em 1971, e ganhou o Festival de San Sebastián. Depois de ter feito um aborto a uma adolescente que causou a morte desta, María (Janet Nóvas), que faz partos às mulheres locais (e o aborto ocasional), foge da pequena ilha em que vive e ganha a vida na apanha do mexilhão, antes que a polícia chegue, e tenta passar para Portugal a salto, com a ajuda de gente da raia e contrabandistas locais. Em O Corno do Centeio, a realizadora pretende dizer coisas importantes sobre a condição feminina, e a relação próxima da mulher com o mundo natural, sobretudo nas zonas rurais. Só que falta ao filme originalidade na história e robustez dramática, ficando-se por um discurso muito óbvio e demonstrativo, sobretudo na parte final.

“Via Norte”

Paulo Carneiro, realizador do curiosíssimo Bostofrio (2018), viajou dois mil quilómetros para ir ao encontro de emigrantes portugueses em países como a França, a Suíça ou o Luxemburgo, falar com eles sobre os seus carros, um interesse e uma paixão que os une, em geral transformados para serem mais potentes e vistosos, e perceber o papel e o significado mais profundo que essas máquinas têm nas vidas dos seus entrevistados. A ideia por trás de Via Norte é muito boa, embora o documentário (que tem apenas 72 minutos) acabe quando o motor está precisamente a funcionar em pleno, e nos deixe com um gosto a pouco e muita vontade de ouvir mais histórias de homens e dos seus automóveis como as que o realizador foi encontrar na diáspora portuguesa na Europa. Em complemento, estreia-se a (críptica) curta-metragem Engine, de Miguel Ildefonso.

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“Folhas Caídas”

Em Folhas Caídas, o novo filme de Aki Kaurismaki, Prémio do Júri no Festival de Cannes, um dos protagonistas, Holappa (Jussi Vatanen), é um operário metalúrgico que perde emprego atrás de emprego porque bebe muito, e enquanto trabalha. A outra, Ansa (Alma Pöysti) é despedida por levar para casa, do supermercado onde labuta, comida cuja data de validade expirou, e arranja depois um lugar numa fábrica. Estas duas almas solitárias encontram-se num bar de karaoke. E vão andar desencontradas durante quase todo o resto do filme, por causa de números de telefone perdidos, acidentes com transportes públicos e da copofonia casmurra de Holappa. Folhas Caídas foi escolhido pelo Observador como filme da semana e pode ler a crítica aqui.