O podcast ADN de Leão é um dos produtos mais conseguidos a nível de comunicação do Sporting e não foi coincidência que a versão 2.0 do programa tenha começado com Nuno Santos, um dos mais carismáticos do atual plantel verde e branco, e um momento especial que girou em torno do golo de letra marcado frente ao Boavista no último Campeonato. Afinal, esse foi o gesto que lhe deu entrada na gala FIFA para os prémios The Best. Afinal, esse foi o segundo de inspiração que lhe poderia valer o prémio Puskás num patamar único em termos de carreira aos 28 anos. “Se ganhar o prémio deviam fazer uma estátua”, atirou entre sorrisos enquanto tentava recriar esse gesto no Estádio José Alvalade sem balizas a passe do apresentador e humorista Guilherme Geirinhas. Mas o programa não ficou por aí e havia mais uma paragem no itinerário.

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Golo? Vejo o Marcus [Edwards] a entrar na área, sou um bocado fuinha. Só pensei em chegar à área e fazer golo. O Morita estava à minha frente, eu berrei e ele saiu. O primeiro objetivo foi a letra, é algo que costumo fazer. Estava na altura de fazer aquele movimento. Foi um excelente golo. Já dizia que algum dia iria fazer um golo assim”, recordou sobre esse golo ao Boavista.

Foi nesse dia que Nuno Santos foi à loja do alfaiate Paulo Battista na Rodrigues Sampaio, em Lisboa, e tirou as medidas para o fato que iria usar na cerimónia no Eventim Apollo, em Londres. Apesar de nem sempre ter as roupas mais discretas, a opção recaiu num smoking com um apontamento verde, como não poderia deixar de ser. O trabalho final seria desvendado apenas na gala da FIFA mas, antes, o esquerdino do Sporting falou aos jornalistas de manhã e aproveitou esta viagem para conhecer melhor a cidade de Londres.

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“Estou confiante, otimista claro, quero ganhar já que estou aqui. Mas os outros dois também são golos belíssimos. Vamos ver. É um momento especial para mim, um momento alto na minha carreira ser nomeado para um Puskás. As pessoas dizem que eu não uso o pé direito mas a verdade é que eu uso e já fiz alguns golos de pé direito. Foi um momento de inspiração, vi que a bola sobrava para ali e tentei dar de letra e consegui meter a bola onde ninguém esperava. Sem dúvida é um momento muito especial estar com esses jogadores todos, sou grande fã deles. É desfrutar e espero ganhar”, comentara de manhã, colocando mais uma vez o enfoque naquilo que não gosta de ouvir e prefere contrariar – que não sabe chutar com o pé direito. “Eu também sei chutar com o direito, o golo foi quase como uma coisa mecânica”, explicara o jogador que, antes desta viagem a Londres, tinha também contado que é um movimento que trabalha nos treinos.

Se esta segunda-feira é conhecida mundialmente como a Blue Monday, o dia mais triste do ano, Nuno Santos ficou perto de ter um dos dias mais felizes da vida com a conquista do prémio Puskás. E não ficou mesmo longe: o jogador do Sporting teve o golo que mereceu mais votos dos adeptos entre os finalistas (11 contra nove de Guilherme Madruga e seis de Julio Enciso) mas acabou por perder no painel de especialistas constituído por Petr Cech (Rep. Checa), Didier Drogba (Costa do Marfim), Brett Emerton (Austrália), Rio Ferdinand (Inglaterra), Asamoah Gyan (Gana), Kaká (Brasil), Mario Kempes (Argentina), Alexi Lalas (Estados Unidos), Jon Obi Mikel (Nigéria), Park Ji-sung (Coreia do Sul) e Ivan Vicelich (Nova Zelândia), recebendo aí apenas sete pontos contra 13 de Madruga e 11 de Enciso. Dessa forma, a letra do português acabou na segunda posição, atrás do pontapé de bicicleta de fora da área do jovem brasileiro.

Passou pelos três “grandes”, foi campeão em dois e sonha com uma chamada à Seleção

Nascido em Castêlo da Maia, Nuno Santos começou a jogar no Trofense mas cedo deu nas vistas e rumou ao FC Porto, onde esteve entre 2005 e 2012 com um ano de empréstimo ao Padroense. Nesse ano acabou por ser dispensado e assinou pelo Rio Ave, bastando uma temporada para dar novo salto para um “grande”, neste caso o Benfica. Foi na Luz que o esquerdino terminou a formação e fez a estreia como sénior, primeiro na equipa B e depois na formação principal ganhando o Campeonato de 2015/16 sendo chamado por Rui Vitória para dois jogos. Em 2016/17, o esquerdino foi cedido por empréstimo ao V. Setúbal, ficando depois livre para assinar pelo Rio Ave, onde voltou a sofrer a segunda lesão grave na carreira no joelho. O ressurgimento, em 2019/20, com cinco golos e seis assistências em 38 jogos, valeram uma forte cobiça dos candidatos ao título, com o Sporting a conseguir ganhar a corrida também com influência de Rúben Amorim na decisão.

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Em Alvalade, onde já ganhou um Campeonato, duas Taças da Liga e uma Supertaça, Nuno Santos mudou de posição mas não de influência. Inicialmente, o internacional Sub-21 era o elemento mais à esquerda entre os três da frente, depois passou a ser sobretudo opção para fazer toda a ala esquerda com um rendimento que foi constante: oito golos e dez assistências em 37 jogos em 2020/21; dez golos e sete assistências em 50 jogos em 2021/22; nove golos e oito assistências em 49 jogos em 2022/23; três golos e oito assistências em 27 jogos na presente temporada. Apesar de estar nomeado para Melhor Golo do Ano, Nuno Santos tem marcado menos golos mas está cada vez mais influente na manobra ofensiva da equipa com assistências.

Com tempo, o enfant terrible que surge quase sempre a resmungar com alguma coisa durante os jogos foi ganhando um espaço especial no plantel verde e branco. Longe vão os tempos em que era conhecido como o Eminem por só usar roupas largas (e até era mais magro do que agora, em que gosta de usar é XS e S) mas nem por isso se perderam os hábitos de sempre como jogador: usar as mesmas meias e boxers se o encontro anterior correr bem, calçar sempre a bota direita primeiro mesmo sendo esquerdino, entrar também com o pé direito em campo. O que fica a faltar? A primeira chamada à Seleção A. “Quero ganhar títulos e ter, um dia, um pouco de espaço na Seleção. É um dos meus maiores sonhos”, admitiu Nuno Santos à Sporting TV numa entrevista concedida depois de fazer o 150.º jogo pelo Sporting na presente temporada.