Após mais de 40 anos, Macau vai deixar de ter corridas de cavalos a partir de 1 de abril, anunciou esta segunda-feira o governo do território, que rescindiu o contrato a pedido da concessionária por “dificuldades de exploração”.

A rescisão do contrato com a Companhia de Corridas de Cavalos de Macau, S.A. foi revelada numa ordem executiva do chefe do governo, Ho Iat Seng, publicada esta segunda-feira no Boletim Oficial da região, mas datada de 9 de janeiro.

Numa conferência de imprensa, o porta-voz do Conselho Executivo, André Cheong Weng Chon, disse que a concessão, que tinha sido prorrogada por mais 24 anos no final de 2018, vai terminar em 1 de abril.

O dirigente revelou que a empresa, conhecida como Macau Jockey Club (MJC), solicitou em 2023 a rescisão de contrato devido às “dificuldades de exploração”, um pedido aceite pelo governo “após um estudo aprofundado”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Jockey Club de Macau celebra 30 anos com mais de 600 mil euros em prémios

Desde 2002 que a empresa tinha prejuízos e “não conseguiu encontrar uma solução para a operação”, sobretudo durante os três anos da pandemia de Covid-19, altura em que “as apostas desceram muito”, sublinhou André Cheong.

De acordo com dados oficiais, nos primeiros nove meses de 2023, as apostas em corridas de cavalos atingiram 32 milhões de patacas (3,63 milhões de euros). Em 2019, antes do início da pandemia, as apostas fixaram-se em 98 milhões de patacas (11,1 milhões de euros).

O MJC tinha o monopólio das corridas de cavalos até agosto de 2042, depois de se ter comprometido em 2018 a fazer investimentos até 3,4 mil milhões de patacas (385,5 milhões de patacas).

A empresa tinha anunciado planos para avançar, até 2026, com um projeto turístico que previa pelo menos dois hotéis, zonas verdes, áreas desportivas, restaurantes, lojas, um museu e uma escola de equitação na ilha da Taipa.

Ainda assim, Cheong admitiu que o MJC não irá pagar qualquer indemnização ao governo, uma vez que foi atingida “uma rescisão amigável”, mas sublinhou que a empresa se comprometeu a respeitar “os direitos e interesses laborais” dos trabalhadores.

O MJC tem como vice-presidente do conselho de administração e administradora executiva Ângela Leong, viúva do magnata Stanley Ho e também diretora da Sociedade de Jogos de Macau, uma das seis operadoras autorizadas a explorar casinos no território.

A empresa “comprometeu-se a pagar indemnização aos trabalhadores despedidos”, garantiu o diretor dos Serviços para os Assuntos Laborais. Wong Chi Hong revelou que o MJC tem atualmente 254 trabalhadores locais e 316 sem estatuto de residente.

Apesar das corridas de cavalos “terem uma história de mais de 40 anos”, em Macau, André Cheong disse que o governo não irá realizar um novo concurso público e acrescentou que “outros territórios da região” já mostraram vontade de terminar” com esta atividade.

O MJC terá até 31 de março de 2025 para “transferir adequadamente” os cavalos para fora de Macau, disse Cheong. Uma representante do Instituto de Assuntos Municipais disse que as autoridades da China continental demonstraram interesse em acolher os quase 290 cavalos.

Quanto ao terreno, que originalmente tinha mais de 404 mil metros quadrados, irá “reverter a título gratuito” para o governo, disse André Cheong, que prometeu a realização de estudos para o seu futuro aproveitamento.

O porta-voz garantiu, no entanto, que a área não será usada para a construção de mais casinos.

Na altura da prorrogação do contrato, no final de 2018, o MJC devia ao governo 150 milhões de patacas (17 milhões de euros) em impostos. O diretor da Inspeção e Coordenação de Jogos, Adriano Marques Ho, garantiu que “os impostos em dívida já foram devolvidos”.