A Administração Nacional de Estradas (ANE) de Moçambique identificou 175 estradas em risco para a atual época das chuvas e ciclones, segundo o plano de contingência a que a Lusa teve esta segunda-feira acesso, que identifica algumas vias alternativas.

“Por se prever existirem indicadores claros de ameaça de inundações e danos nas infraestruturas rodoviárias que integram a rede de estradas classificadas, poderá ser considerada a adoção de medidas preventivas extremas, que não excluem a interdição do trânsito de viaturas, considerando que muitas áreas poderão se tornar inacessíveis“, alerta-se no documento.

O plano, lê-se, foi preparado para “fazer face a eventuais danos resultantes das enxurradas na presente época chuvosa e ciclónica”, e “mapeia as vias de acesso críticas, indicando possíveis danos” — e vias alternativas em alguns casos —, “com vista a monitoria sistemática”.

Neste levantamento, a província de Sofala apresenta 32 vias em risco, de diferentes tipologias, seguindo-se Nampula (31), Zambézia (27), Manica (17), Niassa (14), Inhambane (14), Maputo (12), Cabo Delgado (dez), Gaza (dez) e Tete (oito).

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O plano de contingência desenhado pela ANE refere que “contempla estradas que integram a rede de estradas classificadas do país, sobretudo a das províncias onde se prevê aumento de precipitação influenciado pelo fenómeno ‘El Niño'”.

“Visando a mitigação dos impactos nefastos”, a ANE apela aos cidadãos e automobilistas para a observação do plano “sempre que se impuser a efetivação de deslocações para o transporte de passageiros e de carga nas vias e períodos indicados”.

No plano apela-se “à prudência e estrita cautela às situações críticas descritas no mesmo, recorrendo, onde isso for possível, às vias alternativas indicadas, evitando assim possíveis embaraços e inconveniências que possam advir dos fenómenos calamitosos”.

Pelo menos 44 pessoas morreram em Moçambique na atual época das chuvas, desde outubro, devido ao mau tempo, das quais 19 na província da Zambézia.

De acordo com um relatório de balanço do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD) de 1 de outubro a 8 de janeiro, as descargas atmosféricas foram a principal causa de morte (28 casos) neste período, relacionadas com as condições atmosféricas, seguidas do desabamento de paredes (13) e afogamentos (três).

As chuvas e ventos fortes afetaram em todo o país, neste período, 4.056 famílias, num total de 19.729 pessoas, e 49 ficaram feridas, provocando ainda a destruição parcial de 1.611 residências, enquanto 718 foram totalmente destruídas e 1.784 inundadas.

Há registo ainda de 137 salas de aula destruídas, 21 escolas, 3.968 alunos e 42 professores afetados. O mau tempo afetou ainda oito unidades sanitárias e nove casas de culto, destruindo igualmente 88 quilómetros de estradas até 8 de janeiro.

O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, apelou, no final de setembro, à preparação da população e das entidades para os previsíveis efeitos do fenómeno “El Ninõ” no país nos próximos meses, com previsões de chuvas acima do normal e focos de seca.

“A história repete-se. Então, temos de criar condições de resiliência. Nesse sentido, o governo emitirá avisos regulares para manter a população informada e preparada para as condições climáticas que podem não ser favoráveis à vida, à produção ou às infraestruturas”, afirmou o chefe de Estado.

Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas no mundo, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre entre outubro e abril.

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O período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há memória em Moçambique: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas dos ciclones Idai e Kenneth, dois dos maiores de sempre a atingir o país.

Já no primeiro trimestre do ano passado, as chuvas intensas e a passagem do ciclone Freddy provocaram 306 mortos, afetaram no país mais de 1,3 milhões de pessoas, destruíram 236 mil casas e 3.200 salas de aula, segundo dados oficiais do governo.

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