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"The Kitchen": uma promessa por cumprir

Este é um filme (na Netflix) promissor, mas não é um bom filme. A premissa é interessante, mas desenvolve-se a passo de caracol. É só, infelizmente, muito menos interessante do que deveria ser.

E se, um dia, só mesmo os ultra ricos que escapam à gentrificação pudessem ter uma casa, sendo o resto enxotado para uma espécie de prédios devolutos convertidos em favelas?
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E se, um dia, só mesmo os ultra ricos que escapam à gentrificação pudessem ter uma casa, sendo o resto enxotado para uma espécie de prédios devolutos convertidos em favelas?

E se, um dia, só mesmo os ultra ricos que escapam à gentrificação pudessem ter uma casa, sendo o resto enxotado para uma espécie de prédios devolutos convertidos em favelas?

Durante décadas, o futuro árido e apocalíptico da ficção cientifica distópica era causado, essencialmente, por uma de duas razões. Por um lado, pela inevitável supremacia de máquinas, droides ou robots, com maior ou menor propensão para acabarem a chorar à chuva. Por outro, pela escassez de bens essenciais num mundo destruído pelo Homem, podendo esses bens ser água, combustível ou até a própria atmosfera. Em comum, a tentativa de causarem no espetador a angústia do plausível: e se, um dia, isto acontecer mesmo? The Kitchen, incursão britânica de baixo orçamento nesta corrente de filmes (e que se estreia esta sexta-feira, dia 19, na Netflix), tem logo na sua premissa um fantasma que paira já de modo bem mais concretizado: e se, um dia, só mesmo os ultra ricos que escapam à gentrificação pudessem ter uma casa, sendo o resto enxotado para uma espécie de prédios devolutos convertidos em favelas?

Não é, portanto, à toa que o futuro de The Kitchen esteja já mesmo ali ao virar da esquina. Estamos na Londres de 2040, onde tomar duche é um exercício de falta de água e de falta de privacidade, num sistema de racionamento de uma casa de banho única para dezenas de almas. O Estado Social não existe e a segregação de classes não é um conceito abstrato. Quem não tem a sorte de conseguir passar pelo jogo de tabuleiro de regras apertadas que é arranjar uma casa resigna-se então em partilhar prédios sem condições, como é o caso do arranha-céus esburacado e remendado The Kitchen, que dá nome ao filme.

[o trailer de “The Kitchen”:]

The Kitchen marca a estreia na realização de Daniel Kaluuya, mais conhecido como ator de Get Out, Black Panther ou Judas & The Black Messiah, dividindo aqui a cadeira de realizador com o ex-arquiteto Kibwe Tavares. O guião também é de Kaluuya, aqui repartindo a tarefa com Joe Murtagh (criador da série de suspense The Woman In The Wall). O protagonista é Izi (o ator Kano, da série Top Boy, de uma altura em que ainda se apresentava ao mundo como Kane Robinson), um morador no tal prédio, que está próximo de se poder vir mudar finalmente para uma casa. Izi já teve uma vida de crime, mas atualmente é vendedor à comissão numa espécie de funerária, a Life After Life, que promete que as cinzas dos defuntos serão transformadas em árvores.

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É exatamente num funeral que volta a ter contacto com um filho pré-adolescente que nunca verdadeiramente conheceu, Benji (o jovem estreante Jedaiah Bannerman). Benji está a enterrar a mãe, o que acaba por forçar Izi a ter de ser mesmo o pai que nunca chegou a ser. E aqui o objetivo complica-se duplamente: não só terá de, afinal, arranjar uma casa para os dois (num sistema de distribuição de casas complexo e burocrático), como o miúdo contrai uma doença. Numa favela sem regras, o crime pode ser a solução.

The Kitchen é um balão de ensaio para aquilo que podem vir a ser bons realizadores, bons guionistas, bons protagonistas, mas que ainda não estão lá

The Kitchen é um filme promissor, mas não é um bom filme. A premissa é interessante, mas desenvolve-se a passo de caracol. O argumento não tem nenhum erro gritante, mas os diálogos são mais secos que uma pedra pomes. A realização não embaraça, mas também não surpreende. Os atores não são canastrões, antes pelo contrário, mas nunca desenvolvem verdadeiramente as suas personagens. The Kitchen é um balão de ensaio para aquilo que podem vir a ser bons realizadores, bons guionistas, bons protagonistas, mas que ainda não estão lá — sem que esta experiência seja, atenção, uma nódoa no currículo. É só, infelizmente, muito menos interessante do que deveria ser. Destaque positivo para a banda sonora, altamente atípica para um filme de ficção científica, com bombons como Candy dos Cameo (de 1986); Zombie de Fela Kuti (de 1977) ou Walk Away From Love de Bitty Mclean (mais recente, de 2014), numa sonoridade vintage que contrasta bem com o resto, ao mesmo tempo que encaixa.

Há uma cena em que Benji, para ajudar o pai a ter mais comissão na venda de urnas-árvore, treina à porta da funerária para fingir perante os clientes que adora que a sua mãe tenha sido enterrada usando aquele serviço. Irritado, Izi diz-lhe que está a ser pouco natural. Infelizmente, é isso que The Kitchen é: pouco natural, demasiado académico, sem saber bem o que fazer com a ideia. Talvez lá cheguem.

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